Ergo Proxy (parte 1): a razão de obedecer ou a Matrix contemporânea

 
Ergo Proxy é um anime que tem tudo para te fascinar (ou te confundir também rs) com seus questionamentos altamente filosóficos

Ergo Proxy apresenta a si mesmo como um anime filosófico que se passa em um futuro distópico em que a humanidade, após um colapso ambiental, tem que viver em cidades-Estados chamadas de “domos” que os isolam do mundo inóspito. A premissa inicial é de que os robôs, que servem para facilitar a vida, começam a ganhar consciência e estão se virando contra os humanos. A típica trama presente em diversos filmes, como O Exterminador do Futuro ou Eu, Robô, ganha um ar filosófico uma vez que a racionalidade é adquirida pelos autômatos a partir de um vírus chamado “cogito” (que vem do latim, “pensar”). Essa é uma clara referência a Descartes e seu “cogito ergo sum” (“penso, logo existo”). E é só uma dentre as várias menções a filósofos como Rousseau, Kristeva, Deleuze e Guattari.

Apesar da pretensão de abarcar uma variedade tão grande de filósofos, as ideias da maioria deles não são exploradas. Isso pode decepcionar alguns, mas nem por isso a trama deixa de ser filosófica ou surpreender. Afinal, conforme o enredo se desenrola, ele desmente a premissa original e a rebelião das máquinas passa a ser uma questão secundária que, não obstante, vai ter relação com a mensagem geral do anime: o problema da existência. E eu me comprometo a analisar esse problema sem entrar em spoilers centrais da trama.

Raison d’être“: a razão ou a função de existir?

Então, se você chutou que a principal filosofia que guia o anime é a existencialista, você… errou! “Ué, como assim?”, você deve estar se perguntando. Bom, de fato o anime tem contornos existencialistas, como nota o texto do blog É Só Um Desenho [1], que me inspirou a ver o anime inclusive. Um termo que a obra cita frequentemente inclusive é “raison d’être“, que vem do francês “razão de ser”. A partir desse conceito, poderíamos entender um questionamento do “ser” enquanto um ente que não vê sentido na sua existência. Porém, podemos igualmente sair do plano mais abstrato e entender que a “razão de ser” é o motivo pelo qual alguém existe dentro de uma sociedade específica.

Creio que essa segunda abordagem se aplica melhor aos habitantes de Romdeau (ou Romdo, como preferirem), a cidade onde vive uma de nossas protagonistas, Re-l Mayer. Nesse lugar, cada um já nasce com uma função pré-determinada pela sociedade. Os robôs (chamados de AutoReivs) só tem propósito de existir se tiverem um dono para proteger. O caso de Iggy, o AutoReiv que acompanha Re-l, é emblemático. Quando ela supostamente morre, o conselho geral de Romdeau diz que ele não tem mais um propósito. Infectado pelo cogito, o AutoReiv decide matar aquele que “roubou” sua humana dele: Vincent Law, nosso outro protagonista.

Ainda falando sobre a raison d’être e as funções em Romdeau, não são muitas pessoas que tem o motivo de sua existência exposto de forma explícita. Mas Daedalus é alguém que também sofre uma punição e se abala emocionalmente por perder sua(s) raison d’être. Ele tinha duas: proteger Re-l, na qual ele falha quando ela “morre”, e uma espécime secreta chamada “Proxy”, que fugiu. Inclusive, depois desses dois eventos, sem um motivo de ser nessa sociedade, ele é afastado de suas funções como médico pelo governo de Romdeau.

Cada um ocupa uma função específica em Romdeau; os AutoReivs só tem sua razão de existir se protegerem seus donos humanos. Quando eles começam a adquirir auto-consciência e duvidam desse propósito, passam a ser um “risco desnecessário”
Vemos então um governo que estabelece funções bastante pré-determinadas para seus cidadãos, o que faz esse lugar ser um “paraíso chato”, nas palavras de Re-l. A análise do canal Elegante [2] enfatiza como esse controle da vida pode ser uma alegoria para governos totalitários. Eu discordo veemente disso, não porque não haja um governo controlador aí, mas, sim, porque essa não é uma característica exclusiva de governos totalitários. Na verdade, a nossa sociedade e todas as sociedades de classe funcionam assim através de um simples mecanismo: a ideologia.
 
Por exemplo, na nossa sociedade, alguns são patrões e outros, empregados. Essas funções são justificadas pela ideologia dominante com dizeres como “se todo mundo fizer sua parte, dá certo” ou “coopere com seu patrão/empregado, que ele será bom com você”. Além disso, cada um tem que saber “seu lugar”. O empregado não pode mandar no patrão porque há uma hierarquia justificada no fato de que a função de um empregado é obedecer e a do patrão, mandar. Justificativas econômicas são as mais comuns, como “é o patrão que corre os riscos, compra maquinário, matéria-prima, etc”, por isso ele manda. E isso é vendido como bom para ambos porque “cooperando o país vai para frente”.
 
Na era moderna, é a ciência o principal fundamentador dessa ideologia. Nos casos citados acima, essencialmente é a Economia. Sempre vai ter um economista para justificar que os pobres tenham que “se sacrificar por um bem maior” e um exemplo contemporâneo disso vemos no debate sobre a reforma da previdência. Porém, o caso do anime se assemelha mais ao feudalismo ou ao escravismo do que ao capitalismo. Nessas sociedades, era a religião ou a filosofia que cumpria o papel de ordenador legítimo do mundo. 

Romdeau se autoproclama como uma lugar de segurança e proteção contra o meio ambiente inóspito. Porém há quem não esteja satisfeito com abrir mão da liberdade por isso. 

No caso específico de Romdeau, podemos ver claramente o ideal das sociedades gregas presente. Por um lado, temos o “rei-filósofo” de Platão materializado no conselho da cidade composto de várias estátuas, cada uma com o nome de um pensador: Berkeley, Derrida, Husserl e Lacan. Por outro lado, temos os AutoReivs que, até serem infectados pelo cogito, são o mais perfeito “instrumento com vista a ação” sem racionalidade, como eram caracterizados os escravos por Aristóteles [3]. Temos também os imigrantes que não são considerados cidadãos (o que é o caso de Vincent), uma característica histórica das sociedades greco-romanas.

Assim, temos que o direito de mandar cabe a aqueles “iluminados” por natureza pelo conhecimento e aos desprovidos disso, cabe obedecer. Há um limitador grande para parcela da população nesse ideal de sociedade. Isso é bem visível em Romdeau, mas podemos ver também permanências desses limitadores na nossa sociedade. Afinal, os ideais greco-romanos são decisivos para o mundo moderno a partir do Renascimento.

Não coincidentemente, diversos pensadores da tradição liberal (Alexis de Tocqueville, J. S. Mill, John Locke, etc.) que conformaram nosso ideal de sociedade compararam a classe trabalhadora a meros instrumentos de trabalho, desconfiaram de sua inteligência e da sua capacidade de tomar suas próprias decisões [4]. Assim como Aristóteles e Platão se opunham a democracia por considerá-la o “governo dos pobres” [5], os supracitados liberais também temiam a inclusão do “povo” na tomada de decisões. Tocqueville diz que não se deve dar ao povo “mais direitos políticos do que aqueles que é capaz de exercer”, enquanto Mill propõe que os votos dos ricos tenham mais peso do que o dos pobres [4]. Seguindo o ideal do rei-filósofo platônico, a tradição liberal acredita que a burguesia é a classe com “tempo livre, cultura e propriedade para se interessar pelas questões políticas”, como diria Adolphe Thiers [6], enquanto as “massas” não tem essa capacidade.

Parte da tradição liberal, como Karl Popper, nega esse ideal, atribuindo a Platão um caráter totalitário e defendendo Immanuel Kant e sua separação do filósofo e do rei [7]. Mas o mesmo Kant que diz que “Não é de esperar nem também de desejar que os reis filosofem ou que os filósofos se tornem reis, porque a posse do poder prejudica inevitavelmente o livre juízo da razão”, também diz: “É imprescindível, porém, para ambos que […] os deixem falar publicamente para a elucidação dos seus assuntos, pois a classe dos filósofos, incapaz de formar bandos e alianças de clube pela sua própria natureza, não é suspeita da deformação de uma propaganda” [8]. Convenientemente Popper exclui da citação de Kant o trecho a partir de “para a elucidação dos seus assuntos”.

Vemos em Kant, o mesmo desejo de um governo “elucidado” da maior parte da tradição liberal – tal qual foi o ideal do déspota esclarecido na Europa. Kant ainda faz um adendo dizendo que os filósofos são incapazes de “formar bandos” e de produzirem “propaganda”. Não obstante, é exatamente isso que venho buscando demonstrar: que a filosofia é, sim, parte de uma ideologia que divide a sociedade entre aqueles responsáveis pelo trabalho manual e pelo trabalho intelectual (seja o de gerir o Estado, que é a função do político; ou a fábrica, que é dever do burguês). Tal divisão é típica das sociedades de classe, desde o escravismo passando pelo feudalismo até o capitalismo e ensinar que essa divisão é natural é papel da educação no sentido mais amplo da palavra [9]. A educação, nesse sentido, forma a ideologia dominante que conforma as pessoas as papeis específicos na sociedade.   

O domo e a matrix: o direito de obedecer

Um traço comum de todas essas sociedades é que questionar essa divisão é visto como subversivo e a obediência as ordens sociais impostas é o desejável. Vincent encarna esse ideal no início da série, desejando ser o “cidadão ideal” e afirmando que: “Nunca questionar as ordens, somente obedecer […] é o caminho para se tornar um bom cidadão” [10]. Isso vai mudando conforme ele começa a descobrir as verdades sobre seu passado e sua relação com os Proxies.

 

O tema do “bom cidadão” é mencionado por Vincent algumas vezes durante a série 

O desvendar do que são os Proxies é também algo que muda o conformismo de Re-l. Ordenada pelo governo para descobrir o mistério do vírus cogito, ela vai se vendo dentro de uma trama muito mais complexa em que os governantes tentam esconder a existência dos Proxies. A partir do momento em que ela vê um Proxy, ela constata que “algo mudou”. E diz: “Até aquele momento, eu não tinha nenhum senso de dever nem responsabilidade. Eu só tinha que fazer o que me ordenavam” [11]. Quando ela percebe isso, ela inicia a busca pela verdade que se esconde por detrás daquela cidade, que “não é nada além de mentiras e farsas”, como diria Vincent [12].

Outros personagens também reconhecem o controle governamental; por exemplo, Raul, o chefe da segurança de Romdeau que tem que capturar Vincent e Re-l conforme eles tentam descobrir mais sobre os Proxies, diz: “Somos todos produzidos para sermos engrenagens da máquina que é essa cidade” [13]. Quando Raul começa a duvidar das ordens de Romdeau, o conselho responde: “Não busque a compreensão de tudo e não tente conduzir os acontecimentos de acordo com a sua vontade” [14].

O governo, por sua vez, estimula os cidadãos a “fazerem sua parte” e consumirem, como mostram diversos anúncios em telões que aparecem ao longo de toda a série. O consumismo é muito mais típico das nossas sociedades capitalistas do que das sociedades anteriores. Aqui fica a crítica mais aberta então a nossa sociedade. O que pode nos indicar isso também é o fato de que o episódio 21 tem como subtítulo “shampoo planet”, que é o nome de um livro de Douglas Coupland, um “dos maiores satirizadores do consumismo” [15]. 

 
Embora o anime traga aspectos de dominação de sociedades clássicas, como as gregas, ela também os mistura com traços das sociedades capitalistas modernas, tanto com a ideia do colapso ambiental em que se situa a séria quanto na ideia de consumismo propagandeado aos cidadãos

Vou evitar dar grandes spoilers sobre a verdade a ser descoberta. Até porque o mais importante não está tanto no que é revelado, mas sim nas discussões em torno da sua busca. Ao irem para o mundo exterior ao domo e verem que existem pessoas vivendo lá, nossos personagens aprendem que “Descobrir a verdade pode ser a coisa correta a se fazer. Entretanto, esse não é o caminho para a felicidade” [16]. É isso que diz um morador a Vincent, ao que Pino pergunta: “mentiras são a felicidade?” [16]. Posteriormente, Re-l chega a mesma conclusão: “Saber a verdade pode não levar a nenhuma felicidade. Eu levei tanto tempo para aprender essa verdade básica” [17].

Além do cenário futurístico e da guerra entre humanos e robôs, agora podemos fazer um paralelo entre Ergo Proxy e Matrix a respeito da relação entre verdade e felicidade. Se os personagens do anime concordam que a verdade não traz felicidade, no filme, Cypher retrata o oposto complementar disso na famosa cena em que diz que “A ignorância é uma bênção” (ou “maravilhosa”, dependendo da versão) [18] porque a falsa realidade da Matrix é muito mais agradável do que a verdade dolorosa do mundo. Assim, a Matrix é como a vida dentro do domo; como é dito no filme, ela é “o mundo que acredita ser real para que não perceba a verdade”, é uma “prisão que não pode ver, sentir ou tocar” [19]. Igualmente, Raul se questiona se, em Romdeau, eles não seriam “ao invés de cidadãos, prisioneiros” [20]. 


O que traz a felicidade: a verdade ou a ignorância? O que é mais importante: ser feliz ou saber a verdade? Tanto Ergo Proxy quanto Matrix colocam essas questões aos telespectadores 

Tanto o filme quanto o anime poderiam ser facilmente comparados nesse sentido a alegoria da caverna de Platão. O filme, na verdade, já foi comparado diversas vezes a esse clássico da filosofia [21]. Não é difícil ver a relação com o anime, uma vez que os habitantes de Romdeau também não podem ver a luz do sol já que o mundo exterior estaria supostamente todo inabitado. Assim com os prisioneiros da caverna, tudo o que conhecem é o que viveram dentro do domo. Significativamente, no episódio 17, há a ilustração mais quase-literal da alegoria da caverna quando nossos protagonistas encontram criaturas disformes que eles não conseguem identificar vivendo no fundo de uma caverna. Ironicamente, vemos essas criaturas tentando escapar do local, mas morrendo no processo.

Assim, Ergo Proxy vai se encaminhando no sentido da busca pela liberdade fora do domo, assim como Shingeki no Kyojin, por exemplo, encorpora a mesma busca para além das muralhas. Uma das grandes indicações dessa busca está nos episódios em que descobrimos vida fora do domo. As pessoas chamam o lugar onde vivem de “comuna”. Confesso que eu fiquei surpreso com a escolha do termo, pois a mais famosa que me vem a mente é a Comuna de Paris [22]. Elogiada tanto por anarquistas como Mikhail Bakunin e por comunistas como Karl Marx, a comuna se propôs a ser um movimento de auto-gestão da classe trabalhadora contra a República Francesa, encabeçada na época pelo já citado Thiers [23]. Igualmente, os moradores da comuna aceitam Vincent como “um famoso revolucionário” e afirmam que “É chegada a hora de Romdeau cair” [24].

Considerando ainda que Romdeau representa a sociedade escravista grega é interessante pensar na resistência que as populações historicamente estabeleceram contra esse tipo de opressão de classe. Silvia Federici nos informa que, no século IV, pessoas escravizadas estavam fugindo para o “mato”, “onde comunidades autogovernadas começavam a organizar-se” e que esse era um dos motivos do “desmoronamento do sistema escravagista” [25]. Nesse sentido, formavam algo análogo à Comuna de Paris. Esses dois exemplos coincidem bem com as pessoas que, no anime, dizem: “Desistimos de tudo para alcançarmos a verdadeira liberdade” [26]. 

Vemos nos moradores de fora de Romdeau o ideal da busca pela liberdade, mesmo em troco de abdicar a suposta segurança dada pela vida no domo 

Mas a busca pela liberdade é melhor vista ainda na luta de Re-l e de Vincent. Na Re-l vimos na sua não-conformidade com o papel que lhe foi dado dentro da sociedade desde o começo. Não à toa, os criadores deram o nome dela inspirados na palavra “real” em inglês [27]. Quanto ao Vincent, veremos isso na conclusão do anime quando ele decide não cumprir o destino que cabia a ele quando ele descobre seu “verdadeiro eu”. O motivo pelo qual Vincent se recusa a fazer isso é que ele se apaga a ideia de “viver”, as sensações da liberdade e abandona a ideia de um “destino” e um “dever” pré-determinados [28]. Vincent decide desobedecer algo que haviam o programado para cumprir e, ao fazer isso, ele questiona uma pré-determinação, um destino e até mesmo Deus.

E, por mais antagônico que possa parecer, é o aparente inimigo dos protagonistas, Raul, que expressa com todas as palavras essa questão. Além do próprio episódio 18 ter como subtítulo “life after god” (“vida depois de Deus”), Raul faz pelo menos três vezes o questionamento sobre a necessidade de um deus. Ao anunciar que “Devemos parar de pensar em Deus como algo necessário”, ele premedita a morte do mesmo, tal qual a filosofia de Nietzsche prenuncia [29]. Sem um destino pré-determinado por Deus, Vincent se vê podendo criticar agora o que não podia antes. Se, na sua lógica inicial, questionar o sistema era mau, era porque ele estava acomodado a ideologia dominante de que era assim o correto. Ao final do anime, Vincent consegue superar esse ideal.

Considerações finais

Ergo Proxy é um anime riquíssimo em referências, o que impossibilita discutir todas elas em um texto coeso e objetivo (e, mesmo assim, esse texto já está grande rs). Eu me dediquei a enfocar os aspectos mais políticos, por assim dizer. Assim, não explorei outras questões como o gnosticismo (expressos na ideia de “mônada” e de um “deus cego”), a mitologia grega (especialmente no mito de Dédalo), a importância das memórias e do inconsciente, bem como o debate filosófico entre o dualismo e o monismo. Tenho esboçado ideias sobre todos esses assuntos e, se for do interesse de alguém, eu poderia publicar um segundo texto sobre o anime me aprofundando nessas questões.

Apesar da não-linearidade a partir do episódio 8 e de parecer ter se tornando um anime episódico, apenas retornando nos episódios finais a sua trama central, na verdade, o anime mantém uma coesão ao longo do seu percurso para tentar nos apresentar todo o seu amontoado de informações em doses homeopáticas. E, a despeito de tentar abarcar diversos assuntos que poderiam levar a diversas interpretações, Ergo Proxy é, sobretudo, ao meu ver, um anime sobre questionar uma ordem imposta e a busca pela liberdade. Ao cumprir essa proposta, ele é extremamente bem-sucedido.


Notas
[Nota 1: GONÇALVES, Diego. “Ergo Proxy – Raison d’Être e o Sentido Existencialista da Vida“.  “É Só um Desenho“, 30/10/2014.]
[Nota 2: “ERGO PROXY | Penso, logo existo“. Elegante, 18/02/2019.]
[Nota 3: NICUIA, Eurico Jorge. O papel do escravo em Aristóteles e Hegel. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Porto Alegre: PUC-RS, 2009. p. 14; TOSSI, Giuseppe. Aristóteles e a escravidão naturalBoletim do CPA, Campinas, nº 15, jan./jun. 2003. p. 78; GUTIÉRREZ, Jorge Luis. Aristóteles e a escravidão natural no texto da Política e sua recepção na Idade Media. Revista Pandora Brasil.]
[Nota 4: Tocqueville comenta que “Não se deve cortejar o povo e não se deve conferir-lhe, pródiga e temerariamente, mais direitos políticos do que aqueles que é capaz de exercer” (p. 21); Mill diz que “Um empregador é mais inteligente do que um operário, por ser necessário que ele trabalha com o cérebro e não só com os músculos” (p. 35) e, por isso, “poder-se-iam atribuir dois ou três votos a toda pessoa que exercesse uma destas funções de maior relevo” (p. 35-36); Locke afirma que “um trabalhador manual […] não é capaz de raciocinar melhor do que um indígena”: um e outro ainda não atingiram o “nível de criaturas razoáveis” (p. 47); por fim, Siyès, “o porta-voz do terceiro estado e da burguesia liberal francesa”, “fala da ‘maior parte dos homens’ como ‘instrumentos humanos de produção ou como ‘instrumentos bípedes’, retomando em última análise a categoria de que se serve Aristóteles para definir o trabalho servil” (p. 45). In: LOSURDO, Domenico. Democracia ou bonapartismo: triunfo e decadência do sufrágio universal. Trad. Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; São Paulo: Editora Unesp, 2004.]
[Nota 5: BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: por uma teoria geral da política. Trad. Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeko: Paz e Terra, 1987 p. 141-142; SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada. Volume II: As questões clássicas. Trad. Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Editora Ática, 1994. p. 38]
[Nota 6: LOSURDO, 2004, p. 57]
[Nota 7: POPPER, Karl. A sociedade aberta e seus inimigos. Vol. 1: O fascínio de Platão. Trad. Milton Amado. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da USP, 1974. p. 167-168]
[Nota 8: KANT, Immanuel. A paz perpétua: um projecto filosófico. Trad. Artur Morão. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2008. p. 33. Grifo do autor.]
[Nota 9:  “Ora, essa divisão dos homens em classes irá provocar uma divisão também na educação. Introduz-se, assim, uma cisão na unidade da educação, antes identificada plenamente com o próprio processo de trabalho. A partir do escravismo antigo passaremos a ter duas modalidades distintas e separadas de educação: uma para a classe proprietária, identificada como a educação dos homens livres, e outra para a classe não-proprietária, identificada como a educação dos escravos e serviçais. A primeira, centrada nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos exercícios físicos de caráter lúdico ou militar. E a segunda, assimilada ao próprio processo de trabalho” (SAVIANI, Demerval. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricosRevista Brasileira de Educação, v. 12, n. 34, 2007. p 155.)]
[Nota 10: Episódio 3, aos 22:25, conforme o player do Goyabu. Todas as próximas citações a episódios vem da mesma fonte.]
[Nota 11: Episódio 7, 18:56. Grifo meu.]
[Nota 12: Episódio 4, 11:14]
[Nota 13: Episódio 10, 1:10]
[Nota 14: Episódio 17, 12:13. Grifo meu.]
[Nota 15: Devo essa descoberta a Ergo Proxy Wiki, na sua página sobre o episódio. A afirmação da Wiki é citada da Wikipédia, que, por sua vez é uma citação de um artigo do jornal inglês The Daily Telegraph. Análises mais específicas de Shampo Planet também nota o tema do consumismo presente na obra (vide essa análise do The Guardian e essa do blog The Art of Fiction). Apesar de que pude ser apenas um acaso, o episódio 18 também tem um subtítulo com o nome de livro de Coupland. Ainda, o autor publicou exclusivamente no Japão um livro chamado “Deus odeia o Japão“, o que é algum indício de sua popularidade por lá.]
[Nota 16: Episódio 4, 11:21]
[Nota 17: Episódio 7, 6:34]
[Nota 18: A cena acontece aproximadamente aos 1:00:00 do filme; essa cena está disponível no Youtube.]
[Nota 19: 28:10 no filme; disponível aqui.]
[Nota 20: Episódio 17, 11:17]
[Nota 21: PORFÍRIO, Francisco. “Mito da Caverna e Matrix“, Brasil Escola; VAIANO, Bruno. “Matrix faz 20 anos: descubra o que ele te ensinou sobre filosofia. Sem você perceber.” SuperInteressante, 05/04/2019.]
[Nota 22: Fui procurar o termo usado em japonês e de fato é o mesmo que se usa para se referir ao movimento revolucionário francês. “コミューン” é o termo usado no anime, vide a Wikipédia em japonês. E o mesmo é usado para a Comuna de Paris chamada de “パリ・コミューン“.]
[Nota 23: Bakunin escreveu “A Comuna de Paris e a noção de Estado“; Marx, por sua vez, escreveu A guerra civil na França, em que dizia que Thiers “encantou a burguesia francesa por quase meio século por ser a expressão intelectual mais acabada de sua própria corrupção de classe. Antes de se tornar um estadista, ele já havia dado provas de seus poderes mentirosos como historiador” (MARX, Karl. A guerra civil na França. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011. p. 38. Também disponível no Marxists.org.)]
[Nota 24: Episódio 5, a partir dos 4:00]
[Nota 25: FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpos e acumulação primitiva. Trad. Coletivo Sycorax. São Paulo: Elefante, 2017. p. 47]
[Nota 26: Episódio 4, 18:18]
[Nota 27: Em uma entrevista, as entrevistadoras perguntam: “O nome ‘Re-l’ parece com a palavra inglesa ‘real’. Isso foi feito deliberadamente para ser simbólico ou foi apenas uma coincidência entre as duas línguas? (“The name ‘Re-l’ sounds like the English word ‘real’. Was that done deliberately to be symbolic or was that just an accident between the two languages?”). Ao que o roteirista Dai Satō respondeu: “Não, isso foi deliberado. Ela e o nome dela devem representar a realidade. O código dela é ‘1-2-4-c’ ou ‘aquela que antevê’.” (“No, that was deliberate. She and her name are supposed to represent reality. Her code number is ‘1-2-4-c’ or ‘one to foresee’.”) {Note que eles fazem um trocadilho com a pronúncia dos números e da letra ‘c’ em inglês para passar a mensagem.} In: SCALLY, Deborah; DRUMMOND-MATTHEWS, Angela; HAIRSTON, Marc. “Interview with Murase Shūkō and Satō Dai“. Mechademia, v. 4, 2009. p. 331.]
[Nota 28: Episódio 23, a partir 17:19: “Eu nunca vou me esquecer… Não meu dever, não meu destino, mas a sensação de ficar de pé, de segurar, de viver”.]
[Nota 29: Ele diz “Eu não conto com nenhum Deus que nos salvará com uma intervenção divina” (7:16) e “Devemos parar de pensar em Deus como algo necessário” (7:56). E ainda pergunta a Daedalus: “Não precisamos de nenhum Deus. Do que você tem tanto medo?” (17:21), ao que este responde que “Mesmo se matássemos Deus, nada mudaria”.]

 

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