O Som da Montanha – O “puer aeternus” e a máscara de nô.

“Teria sido o ruído do vento, ou do mar, ou o zumbido nos ouvidos? Acreditava ter avaliado com calma, mas começou a achar que não houvera som algum. Contudo, não havia dúvida de que ele ouvira o som da montanha.” Fugindo um pouco do habitual, mas realizando algo que eu já queria faz tempo, vou começar a resenhar livros de vez em quando, e de quebra, apontar algumas relações com animes/mangás, e para começar, nada mais adequado que um belo exemplar da literatura japonesa, O Som da Montanha, de Yasunari Kawabata, primeiro japonês ganhador do prêmio Nobel, em 1968.

Antes de mais nada, fica a sugestão do meu texto 3-gatsu no Lion e o Mestre de Go – A importância dos jogos na cultura japonesa, onde também escrevi um pouco sobre outro excelente livro de Yasunari Kawabata, “O Mestre de Go”. Também recomendo que ouçam o podcast que participei da Japan House SP sobre este livro.

O Som da Montanha é um romance que trata de alguns temas específicos bem caros ao autor, como a contemplação da proximidade da morte, o erotismo na velhice, a obsessão pelo feminino e a senilidade, tudo isto de uma forma lírica e introspectiva. Esta familiaridade com estes temas lúgubres se deu pela sucessiva perda de seus parentes desde criança, essa “tragicidade” da vida de Kawabata moldou o seu estilo, repleto de metáforas melancólicas e exploração dos sentidos, os quais demonstram toda a fragilidade da existência humana.

Capa da edição brasileira lançada pela editora Estação Liberdade.

Em O Som da Montanha seguimos o dia a dia de Shingo Ogata, de 62 anos, prestes a se aposentar. Shingo trava um confronto diário com a aproximação da velhice e a consequente senilidade que lhe é atribuída, uma vez que já possui pequenos lapsos de memória. O livro foi publicado em 1954, portanto em um contexto pós-Segunda Guerra Mundial, retratando com uma vivacidade possível apenas para quem realmente viveu e atravessou esse período de reerguimento do Japão, com todos os medos e dificuldades para se adaptarem a um novo modo de vida.

Dentro deste contexto, Shingo tem que lidar com a decadência de sua família, seu filho, Shuichi, possui uma amante, fazendo sofrer sua nora Kikuko; sua filha, Fusako, vive fugindo de casa com as suas duas únicas netas devido a constantes brigas com o marido, um viciado em drogas; e como já não bastassem estes problemas, entrou em uma crise no casamento, mesmo que não demonstre, não possui mais atração por sua esposa, Yasuko, pois aos seus 62 anos, Shingo rememora que era apaixonado pela irmã da sua mulher, que morrera há muito tempo, uma verdadeira beldade, enquanto sua esposa seria destituída de beleza.

Shingo sabe que precisa ser mais atuante e tentar resolver os problemas da família, mas questões de foro íntimo consomem toda a sua atenção e vitalidade restante. Além do confronto com sua própria memória que se desvanece dia a dia, deixa-se levar continuamente pela beleza do canto dos insetos, do voar dos pássaros e dos vários tipos de plantas e flores. Shingo também passou a ter diversos e vívidos sonhos, alguns deles moderadamente eróticos e com fortes mensagens psicológicas. Em certa medida, redescobrindo uma eroticidade até então perdida, Shingo passa a nutrir uma mescla de sentimento paterno/amoroso para com sua jovem e sofredora nora.

Outra questão que aflige Shingo é quando se vê tão perto da morte, visto que outro elemento bastante presente é justamente a proximidade do fim da vida demarcada por vários de seus amigos de faculdade terem morrido das mais diversas formas possíveis, desde a morte durante o ato sexual fora do casamento com uma jovem, até o suicídio para aliviar as dores do câncer.

Trata-se de uma narrativa simples, como uma leve pincelada, suave e homogênea. Não há grandes conflitos e reviravoltas, mas apenas o curso da vida como ela é. Um pedaço, uma “fatia” do cotidiano, se fôssemos utilizar uma nomenclatura retirada dos mangás, seria o “slice-of-life” perfeito, e Kawabata o autor ideal para que, diante do seu estilo empregado na maioria de seus romances e contos, fornecer uma saborosa fatia da vida das suas personagens.

O livro ganhou um filme no mesmo ano do seu lançamento (1954), dirigido por Mikio Naruse.

A própria estrutura deste romance é muito característica de Kawabata, muito embora seja uma característica bem perceptível da literatura japonesa. No geral, os autores japoneses dão pouca importância ao final de suas narrativa, pois, percorrer o caminho é mais importante que o destino em si. Esta é uma máxima do zen budismo, forma de espiritualidade tão cara aos japoneses.

Por isso, não raro vemos finais que aparentam estar inacabados ou sejam inconclusivos. Outras vezes, nem nos damos conta de que o final chegou. O livro termina de forma sutil e sem preparação, como se ainda faltasse algo. Mas realmente falta algo? Penso que não, confirmo a máxima de que o prazer da caminhada é melhor do que o término dela. Para o tipo de narrativa como a de Kawabata, que simplesmente “empresta” um trecho da vida de um grupo de personagens, não haveria final melhor.

Não sabemos de Shingo vai continuar perdendo a memória, ou se Fusako vai abrir um negócio para cuidar de suas filhas, ou ainda, se Shuichi e Kikuko conseguirão ser felizes mesmo com a conduta réproba do primeiro. Isso realmente não tem importância alguma, Kawabata simplesmente permitiu que nós, os leitores, pudéssemos conhecer um pouco de Shingo e de sua família, somente isso, não sendo necessário mais nada para traçar um panorama humano atraente. A literatura japonesa, em especial a obra de Kawabata, são como uma pincelada delicada do pincel no estilo sumiê, que é justamente a arte do essencial.

Por isso, me pergunto se a crítica bastante comum de que mangakás japoneses não sabem fazer finais, seja apenas uma crítica baseada nos padrões ocidentais do que consideramos bom e ruim na ficção? De fato, mesmo na literatura, nem Kawabata escapa das críticas  ocidentais neste sentido, de que suas narrativas não “possuem pé nem cabeça”, que “não vão para lugar nenhum”, etc. Pode ser pretensão minha, mas penso que falte um pouco de entendimento dos padrões orientais da arte ficcional.

Yasunari Kawabata, autor de O Som da Montanha e ganhador do prêmio Nobel em 1968.

Voltando ao livro, o título O Som da Montanha é bastante sugestivo. Como tudo na obra de Kawabata, é pura poesia, tratando-se de uma metáfora sublime. Se parar para analisar concretamente, o som da montanha apenas é ouvido por Shingo no primeiro capítulo, depois “some de cena”. Contudo, o efeito de ouvir esse som misterioso é que dá o impulso para os pensamentos de Shingo. Definitivamente, uma montanha por si só não produz som, o que há na montanha  o produz, como pássaros, insetos, a chuva e o vento, mas não é este o caso, pois no caso do livro, se trata mesmo do som da montanha, o qual, para Shingo, é um sinal da proximidade da morte.

O título também pode fazer uma referência ao processo de meditação sobre o envelhecimento, o qual é despertado em Shingo justamente pelas belezas do mundo natural, desde pinheiros no caminho ao trabalho ou belos girassóis nas casas dos vizinhos, e, claro, pela própria montanha que faz divisa com o terreno de sua casa.

Em suma, o livro apresenta todas os conflitos e nuances da psicologia de alguém que está entrando na velhice. Mas não se trata apenas de uma mera representação dos temores e medos de um velho, a obra apresenta toda uma complicada rede de relações psicológicas apuradas. Se pudéssemos traçar os principais pontos apresentados em O Som da Montanha, seriam os seguintes:

1 – A sensação da entrada na velhice, marcada pelos primeiros sintomas de senilidade, no caso de Shingo, lapsos de memória constantes.

2 – A noção da proximidade da morte. Diversos amigos e conhecidos de Shingo morreram nos últimos anos.

3 – A redescoberta de uma sexualidade já sepultada. Fazia anos que Shingo não possuía mais interesse sexual na esposa. Esse erotismo latente é reavivado por meio de sonhos eróticos e sua aproximação com a jovem nora.

4 – A triste constatação de que falhou como pai de família. A família de Shingo se encontra desestruturada, ambos os filhos passam por problemas sérios. Um questionamento derivado diz respeito se é culpa dos pais o insucesso dos filhos e até que ponto os pais devem se intrometer na vida dos filhos depois da idade adulta.

5 – A perda do interesse nas coisas mundanas e familiares. Shingo “escapa da realidade”, deixando-se sua mente fugir para uma dimensão de admiração das belezas naturais.

6 – A grande quantidade de sonhos. Do ponto de vista psicológico, especificamente nas correntes da psicologia que dão grande importância à interpretação dos sonhos, como a psicanálise e a psicologia analítica, o livro é um prato cheio para interpretações e estudos. Além dos sonhos eróticos, Shingo sonha continuamente, apresentando um variado número de símbolos.

7 – Por fim, o questionamento no sentido de entender se a sua vida foi bem ou mal aproveitada. Shingo até mesmo constata que nunca escalou o Monte Fuji, e, consequentemente, deixou de viver muitas coisas. Os seus sonhos e pensamentos forçam um retorno à uma juventude perdida, mais especificamente até o ponto da adolescência, rememorando seu amor do passado.

Todos estes receios de Shingo não são alienígenas nem algo exclusivo da obra, são realmente muitos dos questionamentos que muitas pessoas na sua idade passam ou passarão em determinado tempo. Algumas passagens do livros são muito marcantes neste sentido.

Em determinado momento do livro, Shingo se vê obrigado a comprar duas máscaras  antigas utilizadas em peças de teatro nô, que é uma das formas clássicas do teatro japonês, que mescla canto, poesia, música e pantomima. Neste tipo de teatro, normalmente os atores utilizam máscaras, como no teatro grego antigo, que representam a idade e sexo das personagens. A nuance de expressões é realizada por meio de um intricado movimento com a cabeça, ou seja, a mesma máscara pode assumir um rosto alegre, triste, assustado, eufórico, etc.

Exemplo de máscara Jido.

Das duas máscaras, uma representa um menino Kasshiki e a outra representa um Jido, que seria uma representação de um jovem adolescente, mas não de qualquer jovem, mas de uma entidade sobrenatural. Jido seria um símbolo do “eterno adolescente”. Só que além disso, esta máscara possui uma natureza andrógina.

Penso que a máscara Jido seja o símbolo mais forte presente no livro para representar o conflito eterno de Shingo, a busca por uma juventude perdida. Não por acaso, a máscara significa um entre sobrenatural, uma entidade que nunca envelhece, fazendo alusão a personagens como o clássico Peter Pan, o menino que se recusa a crescer e nunca abandona a Terra do Nunca.

O Jido é uma representação literal do puer aeternus, que na mitologia é uma espécie de divindade criança que é eternamente jovem. Na psicologia analítica, desenvolvida por C.G. Jung, o puer aeternus é uma pessoa adulta onde a sua vida emocional permaneceu presa no nível de adolescente. Uma pessoa que foge das responsabilidades da vida adulta, lutando para permanecer em um paraíso idílico, sem responsabilidades. Não que Shingo pudesse ser considerado um puer aeternus durante toda a sua vida, mas com o advento da velhice, lhe surgiu uma atração intensa por estes aspectos juvenis, um desejo ardente pelo retorno à tempos que lhe eram mais gratos.

Além disso, a própria máscara do teatro nô, representa a persona, que também dentro da psicologia analítica, significa uma “máscara social” na qual o indivíduo se apresenta aos outros, mas que não corresponde com o “eu real”. O próprio termo persona significa literalmente as máscaras utilizadas no teatro. Ou seja, todos nós possuímos diversas máscaras que variam de acordo com a ocasião e pessoa que encontramos. Temos uma máscara para lidar com nossos familiares, outra para com os amigos, ou ainda uma para o chefe, e todas estas máscaras se distanciam mais ou menos da personalidade real do indivíduo.

No caso de O Som da Montanha, as máscaras podem significar as nuances da psique de Shingo, ora um pai de família, outras vezes como um adolescente eterno, ou ainda como um doce enamorado pela beleza feminina. E falando no feminino, os trechos mais fortes do livro, para mim, são aqueles que abordam a máscara Jido. Comecemos com uma citação onde Shingo pede para a sua secretária colocar o Jido e realizar algumas poses:

“-É bonita, não acha? – perguntou ele.

Ela assentiu com a cabeça, sem dizer nada.

-Coloque-a por um instante?

-Mas… não ficaria bem em mim. Estou com roupas ocidentais – disse Eiko, mas tomou a máscara da mão de Shingo, colocou no rosto e amarrou os cordões atrás da cabeça.

-Tente se mover lentamente.

-Sim. Mantendo-se em pé, moveu a cabeça de vários modos.

-Está ótimo! – Elogiou-a sem querer.

Só com aqueles movimentos singelos, a máscara adquiriu vida. Eiko usava um vestido bordô, e os cabelos ondulados apareciam dos lados da máscara. Shingo se sentiu tocado pela graciosa criatura que ela se tornara.”

É como se quando Eiko tivesse colocado a máscara, não mais se fosse ela mesma, mas sim uma representação do feminino ideal para Shingo, que é justamente a irmã da sua esposa que morreu há muito tempo. A máscara Jido é o símbolo que aproxima Shingo destes conteúdos de sua psique, da memória que guarda para si, do verdadeiro amor que uma vez sentiu.

Há também toda uma questão da androginia da máscara Jido. E o que isso poderia significar? Ainda ficando nos limites da psicologia analítica, temos o conceito de que todo homem possui uma parte feminina inconsciente denominada anima, e toda mulher possui uma parte masculina inconsciente denominada animus. E mesmo se tratando de um conteúdo do inconsciente, estes aspectos exercem grande influência na psicologia individual. Não querendo me estender muito neste assunto, cabe dizer que a anima no homem é a responsável por representar a imagem feminina ideal.

Exemplo de várias máscaras utilizadas no teatro nô.

Ou seja, quando um homem se apaixona ou quando procura a “mulher ideal”, está procurando alguém que reflita essa imagem arquetípica do inconsciente. Por isso, muitas vezes, uma paixão avassaladora não consegue resistir como amor em um relacionamento duradouro, pois a desilusão ocorre quando se passa a conhecer a pessoa a fundo e vê que ela não corresponde com as expectativas internas. Para as mulheres ocorre o mesmo. No caso do livro, a imagem feminina ideal é justamente a da sua cunhada falecida. Shingo só casou com sua atual esposa por conveniência, e não um amor verdadeiro, muito embora se deem bem.

O livro não diz claramente, mas interpreto a maneira que a máscara Jido ganha vida, psicologicamente falando, como uma representação metafórica do feminino ideal para Shingo, do ardor da paixão feminina que até então tinha lhe abandonado. A máscara que é tanto masculina como feminina, representaria justamente este casamento entre o masculino exterior e o seu lado feminino interior.

Além disso, como estamos falando de um livro japonês, temos que levar em conta a própria filosofia oriental, como por exemplo, o caso zen budismo, que preconiza, extraído do taoismo chinês, que tudo que existe possui um contrário de igual valor: acima, abaixo, claro, escuro, dentro, fora, homem, mulher, céu e a terra. Por isso, a máscara pode muito bem reter tanto o feminino como o masculino. Vou citar o que é para mim a parte mais intensa de O Som da Montanha, quando numa mistura de sonho de delírio, Shingo sente que a máscara Jido toma vida, resultando em um desejo latente de beijá-la:

“O rosto de Kasshiki era de homem, bem como suas cobrancelhas. Mas Jido, de certa forma, era andrógino; o espaço entre as sobrancelhas e os olhos era amplo, as sobrancelhas encurvadas em lua crescente lhe davam impressão de ser uma máscara de rosto feminino. Olhando de cima, ele foi aproximando os olhos; a tez lisa de uma menina foi se abrandando suavemente nos olhos cansados de Shingo e adquirindo o calor da pele humana: a máscara ganhou vida e sorriu. -A… ah! – Shingo prendeu a respiração. Tão perto do seu rosto, apenas a três ou quatro sun (unidade métrica, equivalente a 3,03 cm), uma mulher com vida lhe sorria. Um límpido e belo sorriso. Os olhos e a boca tinham vida de verdade. Os buracos de olhos vazios foram preenchidos com pupilas negras. Os lábios vermelho-escuros pareciam graciosamente úmidos. Shingo reteve a respiração e, quando seu nariz quase tocava a máscara, aquelas pupilas negras flutuaram, e o lábio inferior intumesceu. Por pouco Shingo não beijou a boca da máscara. Expirou fundo e desviou o rosto.”

Justamente esse fascínio pelo feminino ideal de sua juventude, fez Shingo sentir um misto de desejo erótico e vontade de proteger sua nora Kikuko, tão maltratada por seu filho Shuichi. Além disso, não é de todo anormal, que homens adentrando na velhice, ocasionalmente passem a nutrir desejos por jovens garotas. Psicologicamente falando, é justamente esta negação da proximidade de uma idade no qual se está mais próximo da morte e com menos capacidades físicas e as vezes mentais, uma luta do puer aeternus em fazer valer o seu desejo de jamais deixar a Terra do Nunca, uma busca inclemente pela juventude.

Cena do filme com o uso da máscara Jido.

Outro detalhe fascinante, é que Kukiko também coloca a máscara Jido. Desta forma, ela também deixa de ser Kikuko na totalidade, e passa a ser o feminino ideal de Shingo, muito embora ela ainda mantenha para si os seus sentimentos e pesares. Eis uma citação de um trecho muito impactante:

“Não poderia mais continuar olhando o rosto sedutor da máscara do adolescente enquanto Kikuko a movimentava de várias maneiras. Como ela tinha um rosto pequeno, a ponta do seu queixo estava quase escondida atrás da máscara; mas um fio de lágrimas escorreu do queixo, que mal aparecia, até a garganta. As lágrimas continuaram a escorrer, formando dois fios, depois três.”

Eu fico abismado com a beleza poética de uma cena como esta, me faz ficar arrepiado ao imaginá-la. Mesmo para Kikuko, a máscara é uma metáfora poderosíssima. Somente escondida pela máscara ela teve a coragem de chorar, antes sempre se esforçava em manter um rosto que não demonstrasse tristeza diante da infelicidade conjugal. A máscara do Jido e a máscara dela na família de Shingo seriam exatamente a mesma coisa.

No fim das contas, todo o livro é repleto de poesia na mais pura forma. A maneira que Kawabata trabalha as finas metáforas é digna de um mestre da escrita, não sendo indigno o status de grande escritor mundial que alçou. Assim sendo, sou grato por um período de tempo ter conseguido acompanhar um pouco da vida de Shingo e de sua família, uma experiência psicológica única.

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