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Quando pensamos em Inuyasha nos vem a mente aquele anime nostálgico, fofinho com romance e muita amizade… Mas e se sua trama fosse uma grande metáfora? |
Inuyasha já é um anime muito antigo nos “círculos nerds” brasileiros. Baseado no mangá de Rumiko Takahashi, foi exibido no Japão entre 2000 e 2004 e compreende 167 episódios.
Um clássico, sem dúvidas, desde sua exibição na antiga Toonami lá por volta do início do século. Compara-se muito sua qualidade com outros animes igualmente populares no Brasil como Dragon Ball Z, Cavaleiros do Zodíaco, etc. Eu prefiro Inuyasha por mesclar as lutas com romance. Mas não vai ser esse o debate central aqui. A discussão aqui será: o que uma animação japonesa do início do século XXI pode nos ajudar a entender sobre um debate feito no Brasil na década de 20 e 30 do século passado?
Bom, para quem não conhece a história das ciências humanas no Brasil, o debate é sobre a mestiçagem. Traçarei um breve panorama sobre o debate antes de entrar na série propriamente dita para quem se interessar, mas quem quiser pode passar para o tópico seguinte, pois acho que não há muito prejuízo na leitura.
O debate sobre o negro e a mestiçagem no Brasil
O pensamento social brasileiro (e não só o brasileiro, na verdade) é marcado historicamente pelo chamado “racismo científico”. Você justifica a inferioridade de um povo (no caso, os negros) baseado em argumentos de cunho biológico. Mais do que inferiorizar, negava-se: “até a Abolição, o negro não existia enquanto cidadão” [1]. E quando passa a ser tópico de debate e, portanto, passa a “existir” não é de forma positiva. Nina Rodrigues é o expoente no Brasil da corrente de pensamento do médico italiano Cesare Lombroso. No livro chamado As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil (1894), o médico maranhense propõe uma mudança na legislação brasileira adequada a propensão das diferentes “raças humanas” em cometer crimes. Considerando o contexto histórico de colonialismo e pós-Abolição, era o negro o ser mais bárbaro nessa escala influenciada pelo ideal evolucionista de que determinados povos são superiores aos outros. No seu extremo, essa ideia culmina em movimentos eugenistas [2].
A ideia de que a presença do negro é um atraso para o Brasil é predominante no período. Não deixam de existir diferenças, porém; se Rodrigues quer uma separação entre as “raças”, outros queriam uma incorporação. Para o médico fluminense João Batista de Lacerda, devido a “seleção sexual” (inspirada em uma distorção de Darwin) e o fato do branco ser a raça mais forte, aconteceria o embranquecimento da população se houvesse a mistura e essa seria a solução para sermos uma nação mais desenvolvida. Nada mais emblemático para representar essa ideia de que o quadro A redenção de Cam (1895), que mostra um homem pardo e uma mulher negra com um filho branco e a felicidade da mãe da moça. A redenção faz alusão a uma passagem bíblica, mas, para não cair em detalhes desnecessários [3], em suma, a redenção era se tornar mais branco.
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O mencionado quadro: a vó agradece aos céus pela criança que nasceu mais branca do que a mãe |
No entanto, percebe-se que essa ideia de embranquecimento não vingaria. A partir de então há uma virada no pensamento sobre o negro e a miscigenação, mais marcadamente com Gilberto Freyre. Para ele, o negro poderia trazer benefícios ao povo brasileiro e a mestiçagem seria o que tornaria o povo brasileiro único. Nem tudo é mil maravilhas, no entanto, e é preciso ponderar que o livro mais famoso de Freyre não se chama Casa grande e senzala (1933) à toa: há uma valorização do negro, mas numa falsa harmonia em que a união é apenas artificial e esconde a separação e a violência com que se tratava os negros. Isso ocorre pois Freyre atendia uma “demanda social” do Estado moderno e das elites, que é a de trazer uma “unicidade nacional” [4], mesmo que para isso tivesse que forjar um dos maiores mitos da sociedade brasileira: a “democracia racial”.
A busca por redenção de Inuyasha: paralelos entre o hanyō e o mestiço
Espero que não tenha entediado os leitores que queriam saber mais sobre Inuyasha do que sobre sociologia, mas imagino que a maioria já conheça a série. Para quem não conhece, Inuyasha é um hanyō, um filho de uma humana com um yōkai (que é o nome para uma classe de demônios do folclore japonês). Aqui eu traçarei um paralelo entre a mestiçagem como sinal de impureza que predominou por boa parte do pensamento social brasileiro (e não só brasileiro) e o menosprezo que é demonstrado pelos outros e pelo próprio Inuyasha quanto ao fato dele ser um hanyō. Embora já fique apontada essa diferenciação entre hanyō e yōkai desde o começo com os primeiros oponentes como a centopeia e a Yura, tudo fica mais nítido no embate entre Inuyasha e Sesshomaru. Por isso, meu foco de análise são os episódios 5, 6 e 7.
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Logo em sua primeira aparição, Sesshomaru já mostra seu desprezo com relação a Inuyasha não ser um yōkai |
No meu paralelo, Sesshomaru estaria lado a lado aos que consideram a mestiçagem uma tragédia. A todo momento, ele reforça a ideia de que ele é o filho puro por ser fruto de uma relação de yōkai com yōkai, enquanto ele usa o fato do Inuyasha não ser puro como forma de humilhação. O próprio fato do pai deles ter se apaixonado por uma mortal demonstra um deslize por parte dele. Menos recorrente, mas não difícil de ser observado ainda hoje, é o fato de que alguns pais geralmente consideram errado seu filho ou filha se apaixonar por alguém negro ou de classe social mais baixa. Isso estragaria de alguma forma a linhagem deles: faria-os se misturar com a “ralé”. Pensamento claramente herdeiro e digno de um verdadeiro eugenista.
Na sua busca por redenção, na sua obsessão de se tornar um yōkai puro, Inuyasha claramente incorpora essa ideia anti-hanyō, tal como há negros que são racistas. Mas é preciso entender o que leva uma pessoa a esse auto-ódio, para usar um termo do sociólogo Erving Goffman [5]. Se os seres humanos são formados socialmente independente de ter ou não uma dada característica (como uma certa cor), nós podemos ser preconceituosos ou não com essa dada característica a depender de nossas influências comunitárias, familiares, midiáticas, etc. Assim, de tanto ouvir que ser negro é ruim, mesmo um negro pode acreditar isso; e de tanto ouvir que hanyō é ruim, Inuyasha acredita nisso.
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Um das primeiras oponentes de Inuyasha, Yura, já percebia o desejo interior de Inuyasha em deixar de ser um mero hanyō |
Hanyō: um meio termo, nem um e nem outro
Para não ficar com apenas uma leitura sobre o dilema humano-hanyō–yōkai, pensei que isso pode não ser apenas uma metáfora ao racismo, mas talvez uma alusão a problemática de identidade conflitante. Tal como o hanyō indica um meio termo entre humano e yōkai, pensei no dilema do adolescente. Nesse ponto de vista, o adolescente é um adulto incompleto [6], assim como um hanyō é um yōkai incompleto, o que fica claro pois todas as pressões são direcionadas para que passe a ter as virtudes de um adulto (responsabilidade, maturidade) e que supere os defeitos de ser criança (irresponsabilidade, infantilidade), assim como Inuyasha quer superar as fraquezas de ser um humano (compaixão) e adquirir os poderes e a frieza de um yōkai.
Outro dilema existencial me parece o da transsexualidade. A princípio fiquei em dúvida em colocá-la e não sei se de fato estou certo. Mas o/a trans se identifica com um gênero, enquanto a sociedade o/a identifica com outro. Por isso, a pessoa trans não é nem aquela pessoa que ela se vê e nem aquela quem a sociedade pensa que é. Deixem eu tentar me fazer claro através de um exemplo: supomos que seja uma mulher trans em um corpo masculino. Ela se vê como mulher, mas não o é biologicamente falando, quando se olha no espelho. Por isso, se vê em crise consigo mesmo pois sabe que é uma coisa, mas vê outra. Quase igual é a sua relação com a sua sociedade: sabe que é mulher, mas, por conta de seu corpo biológico, é vista como homem. Então, de certa forma, fica em um limbo entre o ser o que é e o que a sociedade diz que ela é, o que ela mesma vê enquanto corpo biológico e o que é de fato o gênero com o qual se identifica.
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A hostilidade que os moradores da vila tem com Jinenji, o grandão incompreendido do episódio 31, é uma clara metáfora sobre preconceito |
No episódio 31, é o próprio Inuyasha quem confirma esse “limbo existencial” ao dizer: “Eu não sou nem um nem outro. Eu não sou um demônio… nem um humano. Eu não sou parte de nenhum dos dois mundos. Por isso, eu sempre acreditei que eu teria que conquistar meu lugar na vida através da força. É assim que eu vivi e então percebi que eu estive sempre sozinho. Esse era o único jeito que eu sabia viver” [7]. Essa frase também pode levar a uma discussão sobre a violência como forma de reconhecimento. Inuyasha era discriminado por sua condição de hanyō e essa foi a única forma que encontrou de ser respeitado. Igualmente no nosso mundo pessoas marginalizadas por certas condições, como as de cor discutidas anteriormente, tem que apelar para a violência e ninguém se esforça em entender o porquê. Claro que não necessariamente há um destino fatal que os excluídos seguem: o Jinenji, personagem central do episódio, continua sendo bondoso mesmo sendo discriminado, e Inuyasha vai começando também a se tornar alguém melhor com sua convivência com Kagome.
Pequena nota sobre a discussão ser biológico vs. ser social
Por falar em como as relações sociais influenciam no comportamento, há uma frase emblemática que acontece nos últimos instantes do episódio 7 que pode nos ajudar. Kaede diz: “Quem sabe seja Inuyasha, e não Sesshomaru, que herdou os verdadeiros traços de seu pai” [8]. Há toda uma discussão muito interessante sobre a constituição do humano enquanto ser biológico e ser social. Popular em inglês como o título “nature versus nurture”, o debate diz respeito ao quanto de nós é algo inato (biológico, herdado) ou adquirido socialmente. Óbvio que qualquer um que negue aspectos biológicos estará sendo, no mínimo, negligente, ou, no pior dos casos, desonesto intelectualmente, mas qualquer um que coloque o ser humano como meras composições físico-químico-biológicas também estará sendo raso.
O caso mais clássico da psicologia do desenvolvimento é do “menino selvagem de Aveyron” [9], que não conseguiu se comunicar após ser encontrado vivendo em meio as florestas até cerca de 12 ou 15 anos. Esse seria o exemplo máximo de que o ser humano, embora tenha todas as bases naturais potenciais para seu desenvolvimento, é essencialmente um ser que se desenvolve no meio social e que precisa se humanizar antes de tudo. O que eu penso sobre o assunto é que Marx e Engels já responderam muitas das nossas dúvidas n’A ideologia alemã, ou seja, que o trabalho, portanto a ação social de transformação da natureza, é que constitui o ser como ser social [10].
Voltando ao trecho citado, Sesshomaru é igual ao pai, biologicamente falando, por ser um yōkai puro. No entanto, a personagem constata que Inuyasha é quem, apesar de ser diferente biologicamente por ser um hanyō, é o mais parecido socialmente por seu afeto para com os humanos. O afeto, claro, é um componente natural do ser humano, necessário a sobrevivência da espécie enquanto grupo [11]. No entanto, é mais ou menos desenvolvido a depender de suas influências e suas relações sociais – o contato de Inuyasha com pessoas como Kagome certamente contribui para que seja alguém mais afetuoso, diferente de Sesshomaru.
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Inuyasha era alguém sozinho e até hostil em relação aos humanos. Sua relação com Kagome vai mudando seu jeito de agir e ver o mundo |
Considerações finais
Naturalmente que todas minhas reflexões partem de minhas observações e provavelmente não tem nenhuma relação com as temáticas que a autora quis trabalhar originalmente, mas acredito terem sido todas coerentes com a realidade. É possível, a partir do mesmo olhar crítico, fazer críticas ao anime sem dúvidas. Eu mesmo identifico uma naturalização do abuso sexual no personagem do Miroku – mesmo que se possa argumentar que ele é um modelo de personagem comum em muitos animes (Brock em Pokémon, por exemplo). Nesses episódios, ele ainda não existia, mas quando a mulher sem-rosto protege Inuyasha vemos uma naturalização do instinto materno [12]. Espero que nem as pessoas que queiram fazer “vista grossa” quanto a isso nem as que queiram uma crítica contundente quanto a isso se decepcionem… Mas não é esse meu objetivo aqui. Nas minhas análises tentarei privilegiar os aspectos positivos para refletirmos. Não farei nenhuma caça às bruxas com os animes, apesar de que também acabarei mencionando volte e meia o que achar que deve ser questionado.
Notas
[Nota 1: ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 5ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 36]
[Nota 2: E não pense você que estou falando somente do Nazismo alemão, mas estou falando de casos da nossa terra. No início do século XX, existiu o movimento eugênico brasileiro, cujos membros acreditavam que “a eugenia poderia desempenhar um papel importante no sentido de auxiliar a regeneração nacional, orientando o Brasil a seguir o trilho do progresso e do tão almejado ‘concerto das nações civilizadas'” (SOUZA, Vanderlei Sebastião de. A eugenia no Brasil: ciência e pensamento social no movimento eugenista brasileiro do entre-guerras. ANPUH – XXIII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Londrina, 2005, p. 2. Disponível em <http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S23.1587.pdf>. Acesso em: 11/03/2016). Houve também a formação da Liga Brasileira de Higiene Mental que considerava negros e asiáticos “rebutalho de raças inferiores” e que propunha a proibição da entrada dos mesmos no país. Outra reivindicações bizarras: “a reforma eugênica dos salários, privilegiando os brancos” e “concessão de benefícios econômicos e financeiros às famílias que procriassem indivíduos ‘superiores”’ (SODRÉ, Nélson Werneck. O fascismo cotidiano. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990, p. 8).]
[Nota 3: Uma ótima análise do quadro e que também, ao mesmo tempo, fornece ótimas informações sobre o pensamento social brasileiro a respeito do negro pode ser encontrada em: LOTIERZO, Tatiana. Racismo e pintura no Brasil: notas para uma discussão sobre cor, a partir da tela A redenção de Cam. 19&20, Rio de Janeiro, v. IX, n. 2, jul./dez. 2014. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/obras/tl_redencao_cam.htm>. Acesso em: 11/03/2016.]
[Nota 4: Minha análise de Freyre se pauta em grande parte na reflexão de Ortiz (1994).]
[Nota 5: Goffman é mais famoso pelo seu conceito de estigma, que ele caracteriza como “um atributo que o torna diferente de outros que se encontram numa categoria em que pudesse ser incluído” (GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre manipulação de identidade deteriorada. Trad. Marcia Bandeira de Mello Nunes. 4ª ed. Rio de Janeito: LTC, 1988, p. 12). Ou seja, caso ele não tivesse tal atributo diferenciador (por exemplo, ser cego) ele poderia estar na categoria geral de “homem” em vez de “homem cego”, por exemplo. Para analisar como essas preconcepções afetam os indivíduos, Goffman se utiliza dos conceitos de “identidade social virtual” e “identidade social real”. O primeiro é o ideário de representações que existe sobre alguém, enquanto o segundo é o que de fato a pessoa é e/ou internaliza sobre si. Entre as discrepâncias e similitudes dessas duas identidades é que o sujeito constituí sua identidade ou seu “eu”. O auto-ódio acima mencionado é definido quando o seu “eu” acaba por não aceitar a si mesmo, afinal “o indivíduo tende a ter as mesmas crenças sobre identidade que nós temos” (idem, p. 16). Com “crenças” leia-se preconceitos que os outros tem ao identificarem um estigma em outrem.]
[Nota 6: Não que eu concorde com isso, mas é o que está posto na sociedade hoje em dia a respeito do adolescente. Eu digo hoje em dia pois é preciso entender a adolescência com uma construção sócio-histórica (ver BOCK, Ana Mercês Bahia. A perspectiva sócio-histórica de Leontiev e a crítica à naturalização da formação do ser humano: a adolescência em questão. Cad. Cedes, Campinas, v. 24, n. 62, p. 26-43, 2004. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/%0D/ccedes/v24n62/20090.pdf>. Acesso em: 12/03/2016; LÍRIO, Luciano de Carvalho. A construção histórica da adolescência. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST, São Leopoldo, v. 1, p.1675-1688, 2012.).
Diz Frota sobre a visão do adolescente: “Para a maior parte dos estudiosos do desenvolvimento humano, ser adolescente é viver um período de mudanças físicas, cognitivas e sociais que, juntas, ajudam a traçar o perfil desta população. Atualmente, fala-se da adolescência como uma fase do desenvolvimento humano que faz uma ponte entre a infância e a idade adulta. Nessa perspectiva de ligação, a adolescência é compreendida como um período atravessado por crises, que encaminham o jovem na construção de sua subjetividade. Porém, a adolescência não pode ser compreendida somente como uma fase de transição. Na verdade, ela é bem mais do que isso” (FROTA, Ana Maria Monte Coelho. Diferentes concepções da infância e adolescência: a importância da historicidade para sua construção. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, 2007, p. 152. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epp/v7n1/v7n1a13.pdf>. Acesso em: 12/03/2016.)]
[Nota 7: A partir dos 20:55 no GoGo Anime Online. Tradução livre do inglês.]
[Nota 8: O fato ocorre a partir dos 20:38, segundo o player do Anima Curse: https://animacurse.moe/?p=22583.]
[Nota 9: A respeito do caso consultar DIAS et. al (2007) e PEREIRA & GALUCH (2012), respectivamente:
“Outro aspecto fundamental pelo qual chamamos a atenção na obra O menino selvagem, relaciona-se à plasticidade do cérebro. Mesmo que a criança apresente atraso em seu desenvolvimento mental, por meio de estímulos externos e da mediação, sua capacidade de desenvolvimento cognitivo é ampliada, ou seja, estimular o órgão sem deficiência para que haja a compensação de uma deficiência de origem biológica, portanto ressaltamos a importância dos aspectos culturais e sociais no processo de desenvolvimento do psiquismo humano” (DIAS, Lucyanne Cecília; MORI, Nerli Nonato Ribeiro; MOYA, Dóris de Jesus Lucas; OLIVEIRA, Lucília Vernaschi de; SHIMAZAKI, Elsa Midori; MARTINEZ, Edilene Cunha. A interação social no processo desenvolvimento do menino selvagem de Aveyron. IV Congresso Brasileiro Multidisciplinar de Educação Especial, Londrina, 2007, p. 6. Disponível em <http://www.uel.br/eventos/congressomultidisciplinar/pages/arquivos/anais/2007/272.pdf>. Acesso em: 11/03/2016).
“O fato é que as propriedades biológicas de Victor, embora pudessem promover o seu desenvolvimento sócio-histórico ilimitado, tal qual preceitua Leontiev (2004), careciam da experiência sociocultural, mola propulsora de todo o processo de humanização e, consequentemente, do desenvolvimento das capacidades propriamente humanas. Houve, portanto, uma inversão de etapas, que se configurou um empecilho ao próprio processo de socialização, que, ao invés de ser o elemento fundante da formação humana e intelectual de Victor, se tornou a finalidade do processo de aprendizagem, comprometendo todo o seu processo de humanização e desenvolvimento cognitivo” (PEREIRA, Tatiane Marina dos Anjos; GALUCH, Maria Terezinha Bellanda. O garoto selvagem: a importância das relações sociais e da educação no processo de desenvolvimento humano. Perspectiva, Florianópolis, v. 30, n. 2, 2012, p. 566-567).]
[Nota 10: Interessante abordagem sobre essa questão no livro A ideologia alemã é feita por: CASSIMIRO, Hugo Leonnardo. Elementos da Concepção de Relações Sociais em A Ideologia Alemã. VII Colóquio Internacional Marx e Engels, Campinas, 2012. Disponível em <http://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2012/trabalhos/7248_Cassimiro_Hugo.pdf>. Acesso em 11/03/2016. Para que se fiquem claro algumas coisas a respeito do que pensam Marx e Engels sobre a composição biológica: “A corporeidade é a primeira concretude a ser constatada. Antes de poder pensar ou fazer qualquer outra coisa, precisamos satisfazer as necessidades vitais que nos colocam em intercâmbio com o meio em que vivemos, ou natureza” (p. 3)]
[Nota 11: Recomendo sobre o assunto este vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=SsWs6bf7tvI e o seguinte artigo: HUTSON, Matthew. Selfishness is Learned. Nautilus, 2016. Disponível em: <http://nautil.us/issue/37/currents/selfishness-is-learned>. Acesso em 20/12/2016.]
[Nota 12: Veja interessante matéria sobre o tema do “instinto materno”: http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2013/05/07/mito-do-instinto-materno-gera-culpa-em-mulher-que-nao-quer-ter-filhos.htm]