Minhas aberturas favoritas.

Para começar o ano, resolvi escrever um tipo diferente de texto. Quem acompanha o Dissidência Pop regularmente (se é que existe alguém que faça isso), deve ter percebido que já faz um tempinho que não há textos novos. Pois bem, também preciso de férias né? Aproveitei esse fim de ano para dar uma boa relaxada e descansar deste ano cansativo que passou. 

Já tenho uma análise de obra em mente, mas até lá, resolvi criar este texto mais lúdico, por assim dizer. Nunca fui de criar listas nem nada, mas sempre quis compartilhar com os leitores as aberturas que mais gosto e escrever um pouco sobre elas. Esta não vai ser um lista habitual, não farei um ranking. Eu odeio dar notas, simplesmente vou citar o que gosto e dizer minha motivação, sem necessariamente haver uma ordem de preferência.

Acho que o nível mais inicial para dizer se gosto ou não de uma abertura diz respeito ao fato de eu pular ou não a sua execução. Se eu quero pular a abertura, naturalmente ela não “pegou”, mas sempre há aquelas que grudam como chiclete e que são possíveis de simplesmente deixar de assistir.

Também está sendo muito gostoso de fazer esta postagem por permitir recordar e apreciar as aberturas dos animes que gostei bastante. Pode ser que algumas das minhas escolhas sejam afetadas pela nostalgia. Não sei nem direito como vou estruturar este texto, vou deixar ele ir rolando e ver no que dá.

Obviamente deixei muitas outras aberturas que gosto de fora, mas quis priorizar as que eu me lembro de cabeça e que chamam a atenção por determinado motivo. Quem sabe faço outro artigo destes, ou algum sobre os encerramentos. E muitas destas aberturas também já foram comentadas individualmente quando eu escrevi sobre os respectivos animes. Das aberturas que tiverem textos relacionados, deixarei o link correspondente. Então vamos lá!

E não esqueçam de comentar quais são suas aberturas favoritas, eu gostaria bastante de saber!

 

DUVET – BÔA [SERIAL EXPERIMENTS LAIN]

 

Acho que esta é uma das minhas aberturas favoritas de todos os tempos. Não só por ser a abertura de um dos meus animes favoritos, mas ela é naturalmente boa mesmo. Me chamam bastante atenção aberturas que possuem músicas de artistas e bandas de outros países e este é o caso. BÔA é uma banda de rock alternativo britânica, e Duvet, acabou lhe rendendo uma popularidade relativa ao servir de abertura para Serial Experiments Lain.  

Apenas hoje fui me dar conta que Duvet significa literalmente “edredon” em inglês. Eu realmente não fazia ideia que a abertura de Serial Experiments Lain se chamava edredon, foi uma curiosidade que me chamou bastante a atenção. Analisando a letra, vemos que combina bastante com a atmosfera da obra, muito embora deixe a entender que o seu tema principal seria uma crise de um casal, onde um dos componentes se sente sozinho, perdido, como se estivesse caindo ou se afogando. Ou seja, sobre alguém que está clamando ajuda para respirar, que precisa se entender.

No contexto do anime, a música se encaixa justamente na busca de Lain por sua “identidade” ou para algo que dê significado ao seu ser. Quanto a animação da abertura, muito mais que uma sequência de cenas aleatórias, demonstra justamente com maestria esta busca sem rumo da protagonista, passando fortemente a sensação de se estar perdido. Música e animação fenomenais. 

 

FREE BIRD – KOW OTANI [HAIBANE RENMEI]

 

Já puxando um anime relacionado à Serial Experiments Lains, impossível não recordar da abertura de Haibane Renmei, Free Bird, de Kow Otani. O cara é muito fera, além da abertura também compôs a trilha sonora do anime. Entre outros trabalhos seus estão a trilha sonora do jogo Shadow of Colossus além de inúmeros animes.

Esta é uma abertura peculiar, não possui vocais. Geralmente os animes, em sua maioria, seguem um padrão com aberturas bem animadas e encerramentos mais calmos, sempre com músicas com a intenção de “grudar” na cabeça. Há diversas outras aberturas puramente instrumentais, mas continua sendo algo raro na indústria dos animes.

Free Bird é o caso da música que combina perfeitamente com o estilo e proposta da obra. Claro que isso foi ajudado pelo fato de ter sido composta pelo responsável pela trilha sonora da obra. Uma trilha calma e relaxante, mas que instiga uma ideia de aventura. A animação também ajuda muito neste sentimento. Embora possa parecer só uma sequência de cenas aleatórias das personagens, é possível ver pitadas de mistério, tudo dentro de uma construção bucólica e idílica.

 

LILIUM – KUMIKO NOMA [ELFEN LIED]

 

Elfen Lied é um anime, sem sombra de dúvidas, polêmico. Um dos clássicos gore da primeira metade dos anos 2000. Muita gente questiona sua qualidade, eu particularmente aprecio a mistura de violência, comédia e drama que a obra entrega. Mas o que não é polêmica é justamente a qualidade de sua abertura, Lilium, executada com maestria pela cantora de ópera Kumiko Noma (hoje ela se chama Kumiko Oguro, pois adotou o nome do marido).

Esta abertura surpreende pelo primor artístico. Além de ser cantada exclusivamente em latim, possui uma das artes mais deslumbrantes de todas as aberturas que já vi, mesclando ilustrações da protagonista Lucy com as pinturas de Gustav Klimt, renomado pintor da escola simbolista austríaca e um dos maiores expoentes da art nouveau no campo das artes plásticas.

Só esta união engenhosa entre música clássica em latim e referências à Gustav Klimt já fazem esta abertura ser uma das mais marcantes para mim. Totalmente Excepcional. Além, claro, de representar com maestria a própria natureza ambígua de Lucy, com seus lados puro e demoníaco.

 

HIKARI NO SENRITSU – KALAFINA [SORA NO WOTO]

 

Eu gosto de puxar ligações, pelo menos quando possível, entre uma abertura e outra, como já deve ter dado à perceber. Elfen Lied não foi o único anime a contar com a influência da belíssima arte de Gustav Klimt. Sora no Woto, um belíssimo slice of life em uma ambientação militar, também entra neste rol. Esta inclusão de referências à Klimt não se deu por acaso, uma vez que Mamoru Kanbe dirigiu ambos os animes.

Ao contrário de Elfen Lied, Sora no Woto não é um anime tão pesado, embora tenha seus conflitos importantes. Desta forma, a abertura é mas leve e colorida, com uma belíssima sucessão de imagens onde vemos as protagonistas como as personagens de várias pinturas de Klimt. No meu texto de Sora no Woto eu faço um paralelo mais aprofundado destas referências.

A música Hikari no Senritsu foi executada pelo grupo Kalafina, que foi famoso por executar diversas aberturas de animes muito famosos, tais como Puella Magi Madoka Magika e várias da franquia Fate. Como o Kalafina tinha uma pegada mais “lírica”, casou com perfeição na abertura de Soro no Woto, uma vez que o anime impõe uma atmosfera clássica e pastoril. Sem sombra de dúvidas, uma ótima abertura.

 

THE LIGHT BEFORE WE LAND – GUNSLINGER GIRL [THE DELGADOS]

Seguindo a mesma pegada da abertura de Serial Experiments Lain, aqui temos o caso de uma música de uma banda de indie rock, no caso, The Delgados, uma banda escocesa que existiu de 1994 até 2005.

A animação da abertura é bastante simples e não chama a atenção por nada particularmente, a não ser quando combinada com a música, impondo uma forte atmosfera melancólica que é o que justamente dita o tom do anime.

Gunslinger Girl é meu anime favorito, talvez isto tenha pesado na escolha desta abertura como uma das minha favoritas, mas acho realmente que a música é boa. Como no caso da abertura de Serial Experiments Lain, aqui a letra acerta em cheio na correspondência entre o que quer passar e o tom da série, uma sensação de gradual perda, mas cumulada com uma frágil esperança. Fiquei emocionado até em escrever!

 

TATTA HITOTSU NO OMOI – GUNSLINGER GIRL: IL TEATRINO [KOKIA] 

 

Realmente sou um grande fã de Gunsllnger Girl vocês devem estar pensando, por ter citado a abertura da segunda temporada do anime. Mas esperem, eu posso justificar sua inclusão nesta lista! Muito embora esta segunda temporada de Gunslinger Girl tenha decaído em qualidade de animação e design das personagens (a primeira temporada foi animada pela Madhouse, que fez um trabalho fenomenal enquanto Il Teatrino pelo estúdio Artland), a abertura conseguiu ser muito boa pelos seguintes motivos:

A animação me encantou, justamente por ser uma sequência contínua e rápida de imagens reais renderizadas, com a intenção de criar como se fossem pinturas impressionistas. Eu gosto bastante do uso de elementos da nossa realidade nas aberturas e encerramentos e o uso nesta abertura foi fenomenal.

A música é outro atrativo, Tatta Hitotsu no Omoi foi executada pela Kokia, uma cantora japonesa com uma voz maravilhosa. A canção permaneceu durante três semanas entre as 100 músicas mais tocadas nas rádios japonesas na época de seu lançamento. O nome da música significa “Apenas um Pensamento” e a letra combinou bastante com a proposta do anime, que em sua segunda temporada continua sendo uma obra agridoce em suas emoções passadas ao público.

 

KAZE NO UTA – YUU [FUUJIN MONOGATARI]

 

Não consegui descobrir grandes detalhes sobre quem canta esta abertura, mas se tornou recentemente umas da minhas favoritas. Fuujin Monogatari foi um dos animes que mais gostei de assistir e analisar em 2020, sendo uma grata e inesperada surpresa.

A abertura é leve e gostosa de ouvir. Como o anime é um slice of life imergido na simbologia do vento, a abertura passa essa identidade “aérea” e colorida. Um verdadeiro colírio para os olhos e para a alma. E, claro, a música é muito gostosinha de ouvir.

 

KIRI – MONORAL [ERGO PROXY]

 

Ergo Proxy é um anime que divide algumas opiniões, mas que é um clássico sci-fi da primeira metade da primeira década do Século XXI, com fortes elementos filosóficos em sua trama complexa. Já temos no Dissidência Pop, em duas partes, uma análise deste anime.

Kiri, essa música composta e executada pela banda de rock japonesa Monoral, me trouxe fortes lembranças de um passado já um pouco distante. Como nasci nos anos 90, este estilo de rock marcou o começo da minha adolescência. Literalmente cresci ouvindo este tipo de música. Para mim nem parece que é uma banda japonesa, o inglês é muito bom.

O aspecto visual também merece destaque, ressaltando o tom sombrio da série. Além disso, há vários textos em diversas línguas, bem como símbolos místicos, enriquecendo a própria mitologia da série.

 

BINARY STAR – HIROYUKI SAWANO [LEGEND OF THE GALACTIC HEROES: DIE NEUE THESE]

 

A nova versão de um grande clássico como é Legend of the Galactic Heroes naturalmente dividiu opiniões, mas seja como for, eu me apaixonei pela sua abertura, que ouvi em loop por um bom tempo. Hiroyuki Sawano é conhecido como um dos maiores compositores de trilhas sonoras atualmente e neste anime ele conseguiu criar uma faixa de abertura que fosse emocionante e intensa na medida certa. Além disso, a composição de imagens da abertura, embora não seja exatamente inovadora, ficou muito bem encaixada.

 

FLOWER PSYCHODELIC – NORIKO SHITAYA/ KAORI SHIMIZU/ JURI IHATA [ALIEN 9

 

Alien 9 foi uma das primeiras coisas sobre o que escrevi no Dissidência Pop muitos anos atrás. Esta parece ser uma abertura extremamente “bobinha” e “genérica”, mas o que me agrade é a sua fina ironia. Iniciemos pelo nome da música, “Flower Psychodelic”. Ora, em uma obra bizarra e psicodélica, repleta de flores alienígenas parasitas esquisitos, o título da abertura já alerta sobre a natureza única desta obra.

Tudo é alegre, meninas se divertindo e caçando alienígenas multicoloridos. Parece uma viajem de ácido! A letra fala sobre meninas que se divertem e que estão crescendo e desenvolvendo o seu corpo. A abertura é tão dissonante com o conteúdo como a primeira abertura de Puella Magi Madoka Magica. O objetivo é claro, criar uma dicotomia entre a aparência e a realidade grotesca. Esta abertura vale a pena justamente por isso.

 

EUPHORIC FIELD – TENMON FEAT. ELISA [EF: A TALE OF MEMORIES]

 

Esse foi um dos poucos casos de uma abertura que me fez querer ver um anime, e não me arrependi! Ef: Tale of Memories é um dos melhores slice of lifes já feitos, não explicarei aqui os motivos de eu pensar isto, mas me lembrem que preciso rever e escrever um texto sobre esta obra urgentemente!

A abertura é viciante, emocionante e intensa. Ela foge do usual ao usar cores chapadas enquanto exibe os personagens ao lado ou cobertos por diversos textos de literatura em inglês. Uma experiência visual única!

 

EBULLIENT FUTURE – TENMON FEAT. ELISA [EF: A TALE OF MELODIES]

 

Impossível deixar de mencionar a a abertura da continuação de Ef: A Tale of Memories, que possui o mesmo “espírito” e estilo de animação, só que desta vez, os textos escritos pela abertura estão em alemão. No início eu pensei que a música não tinha a mesma força que a Euphoric Field, mas esta impressão muda quando ela chega em seu ápice! E só para constar, esta segunda temporada também é fabulosa.

 

DESTIN HISTOIRE – RISA YOSHIKI [GOSICK]

 

Tenho um carinho muito grande por Gosick, bem como por sua abertura, Destin Histoire. Como a trama do anime se passa no início do Século XX, temos toda uma temática art nuveau bastante presente na série. E na abertura não foi diferente, temos uma sucessão de cenas e ilustrações elaboradas seguindo o estilo desta época, principalmente do pintor Alphonse Maria Mucha. Ou seja, para mim esta abertura entra no mesmo rol de outras obras que misturam referências de pintores famosos com a animação do anime.

 

MY SOUL, YOUR BEATS – LIA/ LISA [ANGEL BEATS]

 

Angel Beats! Um grande clássico dos animes, feito na medida para o maior insensível soltar algumas lágrimas. É um anime com vários problemas mas que é difícil não gostar. Eu tenho um carinho imenso por esta obra. Foi um dos primeiros animes que realmente “baixei” para assistir.

A abertura possui uma animação com transição de diversas cenas e personagens fazendo coisas. Não chama a atenção e não é diferente da maioria das aberturas. O que faz entrar nesta lista é a música. O título My Soul, Your Beats entrega um spoiler relevante do enredo, mas só quem já assistiu saberia do que se trata. Mas isto não é o mais importante, a música é muito linda e emocionante, tanto na voz da Lia como da Lisa, duas grandes intérpretes da música pop japonesa.

 

SYNCHRONICITY – YUI MAKINO [TSUBASA: TOKYO REVELATIONS]

Penso que Tsubasa: Tokyo Revelations seja uma das coisas mais surpreendentes que já assisti. Para contextualizar o motivo da minha escolha, esta é uma série de 3 OVAs que dá continuidade ao anime Tsubasa RESERVoir CHRoNiCLE, baseado no mangá de mesmo nome da CLAMP. Para quem não sabe, Tsubasa foi um mangá shounen de aventura onde foi criado o conceito do multiverso “CLAMP”. Ou seja, praticamente quase todas as obras das senhorinhas da CLAMP teriam uma ligação. Em Tsubasa a protagonista é Sakura, uma versão de outro universo da mesma Sakura de Card Captors Sakura.

O anime ganhou duas temporadas de vinte e tantos episódios. Este anime é Ok, decaindo na segunda temporada em virtudes dos vários fillers com o intuito de fechar a história da animação. Do mangá eu gosto bastante, um dos meus shounens favoritos. No final ele fica bastante corrido e um tanto confuso, mas mesmo assim é uma obra interessante.

Tokyo Revelations não possui ligação direta com o anime, sendo criado com o objetivo de servir como bônus dos volumes 21, 22 e 23 do mangá. O diferencial é que foi produzido pelo estúdio Production I.G com uma grande qualidade técnica e narrativa. O problema para quem não leu o mangá é que ele adapta um arco “solto” de Tsubasa. Ou seja, para entender o contexto demandaria ler o mangá.

Estou me estendendo demais aqui, mas acho que cheguei onde queria. O diferencial é que esse arco marca uma virada de tom em Tsubasa. Ficamos sabendo que as aventuras vividas até o momento eram convenientemente seguras e que depois tudo saiu do controle. O shounen aventuresco de repente fica mais sério e até mesmo sangrento e estes OVAs demonstram muito essa virada que eu gosto tanto. É de cair o queixo quem vai direto do anime e assiste Tokyo Revelations sem saber que não é exatamente uma continuação. Ainda teve dois outros OVAs produzidos pelo Production I.G, chamados de Tsubasa: Shunraiki, também muito bons.

Ufa! E quanto a abertura? Pois bem! Ela foi belamente cantada pela dubladora da Sakura em Tsubasa, Yui Makino e composta pela grande compositora Yuki Kajiura, que também produziu a trilha sonora dos OVAs. Ela compositora é fenomenal, trabalhou em inúmeros animes como Puella Magi Madoka Magika entre outros. A música em questão, Synchronicity, é forte e intensa, assim como pede o tom da obra. A animação é extremamente simples, mas de uma genialidade interessantíssima. Há apenas um fundo preto com os círculos de magia dos personagens girando e se alternando, apresentando cores intensas e brilhantes. Este é o caso onde o menos foi mais. Definitivamente deve integrar a minha lista.

Link permanente para este artigo: https://dissidenciapop.com/2021/01/23/minhas/