Eis que Zombieland toma rumos mais sérios, mas sem botar em risco a sua comédia, mas é que há muito a ser resolvido no nosso elenco de zumbis mais querido da temporada.
Eu já apresentei o projeto Café com Anime anteriormente, mas para os desavisados, eu, Gato de Ulthar, juntamente com outros amigos blogueiros, estamos realizando análises semanais de animes da temporada, a medida que os episódios forem saindo, tudo em forma de conversa entre os participantes. Nesta temporada, o Dissidência Pop ficou responsável por publicar nossas conversas sobre o anime Zombieland Saga, enquanto o É Só Um Desenho, desta vez, ficou responsável pelo anime Yagate Kini no Naru, o shoujo-ai da temporada. Já o Finisgeekis cobrirá o anime Irozuku Sekai no Ashita Kara, um primor visual com toques de magia bem sutis. E no Anime21, continuaremos com nossas discussões sobre Banana Fish, adaptação de um mangá clássico dos anos 80.
Gato de Ulthar
O episódio 6 de Zombieland foi o divisor de águas do anime. Quem pensava que essa obra seria apenas uma obra de comédia non-sense se enganou redondamente, o anime é muito mais que isso. Eu havia pensado que não conseguiria me surpreender tanto com Zombieland Saga, mas fui pego de surpresa. Esse sexto episódio me deixou um gosto agridoce na boca, mas isso é bom, foi um desconforto legal. De longe esse foi o episódio com menos comédia até o momento, tirando umas gags habituais aqui e ali para não perder a essência, como as manifestações espalhafatosas do Koutarou imitando uma apresentação de teatro Kabuki e as pasteladas da Yamada.
Esse foi um episódio sério, muito sério, com tomadas bem encaixadas e falas muito boas. Como já estava sendo construído, os principais conflitos giraram em torno da Ai e da Junko, as ex-idols, mas não foi como imaginávamos, não teve ainda um embate com o repórter que reconheceu vagamente a Ai.
Uma outra faceta de Zombieland Saga se descortinou para mim, esse anime é, além de tudo que já discutimos, uma espécie de “estudo”, ou “apresentação” das idols ao longo do tempo, e isso se manifestou no embate de ideias entre a Junko, uma idol dos anos 70/80 e a Ai, que é de meados dos anos 2000, enquanto a primeira presava pela perfeição em todos os momentos e não interação demasiada com os fãs, a segunda, manifestando o espírito moderno do show bussiness, entendia a necessidade de agradar os fãs em primeiro lugar, a fim de cativar uma legião de fãs fieis.
Mas não vou me estender agora para não gastar toda a nossa munição, então digam o que acharam desse episódio de Zombieland Saga.
mexicano21
Depois ela levou shoyu. Ficou implícito que ela ficou tentando levar um monte de coisas e errando todas. Koutarou precisa aprender a deixar reserva de coisas do banheiro no banheiro mesmo.
E sim, um choque de gerações. Que vale por si só, e que vale para mostrar como idols tem carreiras cada vez mais fugazes. O grupo da Ai ainda estar na ativa, e ainda unidas, é um milagre para os dias de hoje só explicável pelo marketing criado pela morte da própria, mesmo.
Adicionando ao clima pesado do episódio, elas agora estão fazendo barulho conforme se mexem. Não levei seis episódios para perceber isso, né? Isso começou agora, não foi? O que significa? Coisa boa não deve ser.
Gato de Ulthar
Só uma nota sobre a indústria das idols, não é tão incomum que algumas formações durem por seis, sete, nove anos, ou até mais, mas nesses casos há uma rotatividade de membros muito grande, a não ser quando tem alguma integrante muito boa que seja a cabeça do grupo.
Vinicius Marino
Ao assistir a esse episódio não tive como não refletir sobre minha própria relação com as celebridades. Não sou nem de longe um leitor ávido de tabloides,mas mesmo eu mal consigo entrar numa rede social sem ser bombardeado com factoides sobre a vidas dos famosos.
E é incrível, ao assistir a esse episódio, ver como as cobranças têm ficado cada vez mais pessoais. Não que paparazzi não existissem desde sempre. Mas há de fato uma pressão para que as estrelas sejam estrelas 24/7. E que mesmo sua vida pessoal se torne parte da persona.
Imagino que isso deva ter sido muito mais forte para as idols, por conta da sua jovem idade e do fato que a profissão cultivava historicamente uma noção (um tanto doentia, vamos lá) de pureza.
DiegoSG
Então, Fábio, esse barulho ta ali desde o começo Na verdade, é algo que vivo esquecendo de levantar aqui: o design de som desse anime é muito bom, sobretudo por decisões tão aparentemente minúsculas quanto fazer as garotas terem uns barulhos estranhos ao se mexer Ah, e considerando que a Tae trouxe amaciante e shoyo, eu acho que ela estava é querendo cozinhar o Koutaro mesmo.
O conflito geracional foi bem interessante, e é algo que eu não vejo ser abordado com lá muita frequência: a forma como a nossa relação com as celebridades mudou. De fato, e inclusive me faz lembrar de um livro que terminei bem recentemente: Otaku: of Filhos do Virtual. Ao falar sobre as Idols, o autor as contrasta com as celebridades do cinema, colocando que se estas são vistas como seres inatingíveis, a idol é criada para parecer com a garota que sentaria do seu lado na escola.
Gato de Ulthar
Confesso que até agora não tinha prestado atenção nesses barulhos!
Não é exatamente uma questão de se estar certo ou errado, a Junko e a Ai são de épocas diferentes e com “modus operandi” diversos, a gente pode até analisar do nosso ponto de vista atual, mas fazer um juízo de valor é sempre temerário.
A Junko era uma idol solo e penso que isso mais atrapalha do que ajuda nessa sua nova empreitada pós-morte, visto que ela “ferrou” a sessão com os fãs…
Se bem que eu penso que essa sua ação poderia ser usada como marketing pelo Koutarou, como sendo uma idol muito timida, o que agrada muito marmanjo.
E falando de cobranças, as cobranças da AI e da Junko são muito maiores já que eram as únicas que eram idols antes de morrer, tanto é que as outras integrantes possuem significativamente menos pressão do que as duas.
Sobre o que o Diego falou, sobre as celebridades do cinema serem vistas como inatingíveis, vejo que essa era a situação da Junko e das idosl nos anos 70, 80 e 90, e somente com o advento do novo milênio que transformaram elas em arquétipos perfeitos de garotas que se sentam ao seu lado na escola, e devido a isso exploram todo esse lado carinhoso com os fãs.
Gato de Ulthar
E quanto ao fatídico encontro da Ai com seu antigo grupo? O que vocês esperam disso tudo?
DiegoSG
Eu me pergunto se ele vai mesmo acontecer, já que provavelmente as antigas companheiras iriam ou pensar ser uma cosplay, ou alguém apenas parecida com a Ai, ou então desmaiariam ali mesmo crendo ter visto um fantasma (não estariam muito longe da verdade, se for o caso ).
Inclusive, é engraçado como o Koutaro não parece ter plano nenhum para ocultar a identidade das garotas, exceto talvez chamá-las por números, ao invés do nome real. Até a maquiagem dele as deixa idênticas a como eram quando vivas, e mesmo que tenhamos ai o tempo para agir como distanciador, ainda é uma aposta que ninguém as irá reconhecer.
mexicano21
Sobre o conflito entre Junko e Ai, com certeza as duas estão certas ao defender seus valores e quando inseridas em seus contextos temporais. A discussão delas foi uma comparação muito interessante sobre o que era e o que é uma idol.
Mas objetivamente a Junko está errada. Elas precisam ser idols agora, e idols agora são daquele jeito.
DiegoSG
É interessante também como nenhuma das duas visões é particularmente saudável A visão da Junko de uma idol distante coloca sobre ela uma intensa pressão de ser sempre a melhor, sempre esse ideal impossível de ser atingir de fato, enquanto que o sistema atual, de uma idol próxima de seu público, transforma mesmo a vida pessoal da idol em um espetáculo para o consumo daqueles que a seguem.
Gato de Ulthar
As épocas avançam e com elas as degradações só mudam de forma. E concordo com o Fábio, a Junko está objetivamente errada, ela atrapalhou a sessão de fotos e se mostrou intratável quanto formar um grupo com as demais. E isso além de ser uma questão de época, se deu pelo fato da Junko ser uma idol solo, não estando acostumada a lidar com companheiras, ela sempre tinha sido o centro das atenções.
Manter um conjunto estável é muito mais difícil do que manter uma carreira solo. Sempre há brigas, desavenças, problemas de saúde, etc.
mexicano21
Em Zombieland, manter um grupo estável parece mais difícil do que manter um corpo estável
Vinicius Marino
Existe um jeito saudável de ser idol? Não quero ser cínico, juro. É que me parece, de fora, que esse mundo do estrelato é autodestrutivo mesmo. Talvez seja só minha visão de fora, como alguém (felizmente!) anônimo. Mas me parece que os holofotes e a saúde mental são um cabo de guerra. Se tiver muito de um, provavelmente ficará sem o outro.
mexicano21
Suponho que no fim das contas seja necessariamente prejudicial, assim como esporte de auto-rendimento é prejudicial para o corpo, não importa quão bem preparado o atleta seja. Mas pode-se tomar medidas para mitigar os malefícios ou pode-se ignorá-los. Suponho que o caso da indústria idol japonesa seja o segundo.
DiegoSG
O estrelato de fato me parece bem pouco saudável de maneira geral. Acho que dai tantos escritores preferirem pseudônimos Infelizmente, atores, idols e semelhantes não podem se dar a esse luxo.
mexicano21
Há músicos que escondem a identidade atrás de máscaras. Parte deles talvez faça isso exatamente por esse motivo?
Vinicius Marino
Imagino que sim. Não que não traga um certo tchans a mais. O que seria de Daft Punk de cara aberta?
mexicano21
Mangakas, profissionais da indústria anime e que tais costumam levar vidas bastante reservadas no Japão também. O nível da coisa é tal que frequentemente alguém morre e só ficamos sabendo dias depois – compare com a recente morte do Stan Lee, cuja notícia varreu o mundo antes do corpo ter tempo de esfriar. A indústria idol é uma exceção a isso, no Japão.
Gato de Ulthar
Vou confessar uma coisa para vocês.
Eu ultimamente tomei interesse por ouvir material de idols, e tem muita coisa interessante, principalmente com uma crescente onde de “alt-idols”, com pegada menos kawaiis e com misturas de estilos mais ecléticos, como por exemplo com death metal, EBM, música eletrônica, Gothic Rock, etc. Por isso o primeiro show da Death Musune, antes de virar Franchuchou seguiu uma tendência contemporânea. Em geral é muito difícil se idol, pois além de cantar tem que dançar. Tem algumas formações onde a maioria das garotas são desafinadas e dançam mal, só compensando pela “fofura”, mas há material genuinamente bom e bem produzido. E a pressão das idols não difere muito de outros segmentos do entretenimento, como mesmo dentro da própria música, como já foi mencionado. Não é de hoje que artistas são explorados exaustivamente. O que difere é que as meninas geralmente, nem todas, são muito novas e por causa de pais descuidados ou meramente gananciosos, acabam caindo em contratos abusivos. Por isso é interessante também pesquisar a produtora, há aquelas com fama ruim e fama boa quanto ao tratamento dado às garotas, é tudo muito relativo nesse meio.
Pensando sobre isso, porque será que o Koutarou não recrutou apenas idols? Será que não tinha nenhuma outra idol morta com o corpo disponível para virar zumbi? Não teria sido mais fácil fazer um time todo com profissionais? Será falta de mão-de-obra morta-viva, ou apenas as circunstâncias do momento?
mexicano21Última Terça-feira às 17:49
Ele despertou uma mulher morta há mais de século. Mesmo que tivesse sido enterrada ao invés de cremada, estaria só o pó. Essa história continua muito mal contada.
DiegoSG
Ainda vamos descobrir que elas na verdade estão em um purgatório e que o Koutaro está tentando dar a todas uma chance de resolver pendências da vida passada e seguirem em frente em espírito. Não, pera, anime errado.
Gato de Ulthar
Mudando um pouco de tópico, foi visível que este episódio teve uma atmosfera mais densa, e que a comédia foi relegada a segundo plano, deixando só uma ou outra esquete habitual. Será que podemos ter uma virada no espírito da narrativa? Explicando melhor, será que o anime vai ficar mais “pesado” ao longo dos episódios? Ou esta é apenas uma fase, interessante e bem colocada para contextualizar o conflito de gerações apresentada e depois a comédia retornará como o carro chefe do anime?
DiegoSG
Bom, nós estamos chegando na metade do anime, então acho que podemos sim ter um progressivo caminhar em direção a um tom mais sério até os últimos episódios. Ainda assim, duvido muito que a comédia desapareceria.
mexicano21
Pode ser só um drama de meio anime também. Não acho que Zombieland Saga vá abandonar totalmente sua veia humorista – pelo menos não tão cedo. Não é um troço totalmente absurdo quanto Panty & Stocking, mas a comparação que o Vinicius fez algumas vezes continua valendo, a meu ver.
Vinicius Marino
Olha, o Diego fez uma piada com Angel Beats, mas eu tenho um palpite bem forte que a coisa pode rolar por esse caminho mesmo.
Digo, sinto isso desde aquela pep talk do Koutarou com as duas idols uns episódios atrás. E quanto mais assisto a Zombieland, mais sinto uma vibe parecida.
Noutras palavras: sim, teremos uns arroubos fortes de emoção. E, com sorte, um final bastante feels. No meio de piadas nonsense que nos farão cair da cadeira.
Gato de Ulthar
Então é isso, ninguém espera ficar sem comédia tão cedo não é mesmo? Nem eu! Se tivermos uns feels no final bem fortes como em Angel Beats não posso pedir mais nada! Ficamos por aqui com o sexto episódio e até amanhã!