Interstella 5555: relembre os velhos tempos de Daft Punk

Você conhece Daft Punk, correto? Com certeza já ouviu a música Get Lucky, que fez muito sucesso logo após o lançamento do Álbum Random Access Memories em 2013. Este foi o gás que faltava para que o duo francês Daft Punk atingisse o tão sonhado prêmio do Grammy Awards. Mas o que esta dupla de música eletrônica tinha para oferecer de melhor antes da fama? A resposta é: Interstella 5555, o filme musical que nada mais é do que a “realização visual” do melhor álbum já realizado pelo Daft Punk, chamado Discovery.

Antes de adentrar no tema, acho importante fazer uma introdução histórica. Interstella 5555 é, sem dúvida, uma animação japonesa, realizada pelo japonês chamado Leiji Matsumoto (criador do anime “Patrulha Estelar” [Space Battleship Yamato]), com supervisão de Shinji Shimizu (produtor dos longas de Dragon Ball Z, O renascimento de Freeza e A batalha dos Deuses, bem como do anime Zatch Bell!), e direção de Kazuhisa Takenouchi (o qual também dirigiu Dragon Ball e Dragon Ball Z, além de realizar o storyboard do anime InuYasha).

A dupla Daft Punk, contudo, são franceses, e apesar de Interstella 5555 parecer uma animação antiga, considerando já fazer 13 anos que foi lançada (01/12/2003), velha mesmo é a formação do Daft Punk, que ocorreu em meados dos anos 90.

Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo são dois seres humanos por trás da misteriosa dupla de robôs que gostam de fazer música eletrônica diferenciada, lançando seu primeiro álbum em 1993, chamado Homework.

Mas foi com o álbum Discovery, lançado em 2001, que a dupla eletrônica pode viajar pelo mundo mostrando sua música e seu ritmo, totalmente novos e originais (utilizando, em muitas faixas, samples de outras músicas de grande sucesso, muitas delas funk musics).

Para aqueles que estiverem lendo este post e somente conhecer Daft Punk por suas últimas músicas lançadas no álbum Random Access Memories, insisto, como amiga, a ouvir com muito carinho e atenção o álbum Discovery, pois após ouvi-lo realmente irá “descobrir” um Daft Punk totalmente diferente (e melhor).

Interstella 5555 é o álbum Discovery não somente sonoro mais também visual. Não existe falas neste filme, somente animação e trilha sonora a qual é composta por TODAS as músicas do álbum Discovery, tocada na mesma ordem do álbum, porém com muito mais graça e significado, pois você não estará somente ouvindo o álbum, mas também o verá.

O álbum Discovery possui 14 músicas, portanto, Interstella 5555 possui 14 cenas, por assim dizer, nas quais se passam a história de uma banda, chamada Crescendolls, composta por quatro seres de outro planeta: Stella (baixo), Arpegius (guitarra), Baryl (bateria) e Octave (teclado e vocal).

Espera um pouco? Outro planeta, é isso mesmo? Sim, mas isto é uma longa história que eu vou contar logo mais. Advirto que farei análise das 14 músicas e do seu encaixe perfeito na história, portanto, alguns spoilers serão dados.

Para começar, vou explicar o significado do título Interstella 5555: The 5tory of the 5ecret 5tar 5ystem. A banda Crescendolls (assim chamada no planeta terra) tem seus integrantes não somente de outro planeta, mas também de outro sistema solar. É agora que você entra na jogada e pensa: “Ah, por isso o nome de Secret Star System”. Então eu apareço e digo: “Não, meu bem, o buraco é mais embaixo”.

 

O filme musical Interstella 5555 foi criado por artistas, e, como tais, os mesmos optaram por criar uma arte incrível, com uma animação maravilhosa, trilha sonora estupenda, e, para fechar com chave de ouro, uma história crítica. Secret Star System é uma expressão utilizada para um sistema que vigorou por um tempo em Hollywood para realização de contratos exclusivos e de longo prazo assinados por atores e atrizes, os quais passavam a ser controlados a partir de sua assinatura pelo estúdio, desde o que fariam com sua imagem até decidir quais filmes fariam.

Essa prática, como já dá para ter uma ideia, é bem ditatorial, servindo somente para engessar a vida e a carreira dos artistas. Tal sistema foi utilizado em Hollywood de 1909 até 1948, quando finalmente foi proibida.

Interstella 5555 conta uma história abordando exatamente este tipo de controle, claro, de um modo mais nítido e exagerado, mas que tem por fim demonstrar o verdadeiro sofrimento que esta ditadura pode proporcionar para um artista. Óbvio que o título tem duplo sentido, considerando que se trata de uma história que ultrapassa o nosso conhecido sistema solar por meio de um portal utilizado por Earl de Darkwood (o “ditador musical e artístico”).

Mas e “Interstella”? Bom, como já disse anteriormente Stella é o nome da baixista da banda Crescendolls e é graças a ela que a ditadura musical acaba, não por suas próprias mãos, mas pelo seu grande admirador e par romântico, chamado Shep, que é tipo um “soldado protetor” do seu planeta natal.

 

Bom, mas vamos começar do início.

O filme começa de um modo animado, tocando One More Time, o hit mais badalado do álbum Discovery (vocais de Romanthony), que, pelo visto, é o maior sucesso do Crescendolls. Ao mesmo tempo que é mostrado o planeta natal dos integrantes da banda, com designer de roupas e prédios característicos de um mundo moderno e desconhecido, uma pequena invasão silenciosa começa a ocorrer durante o show: os humanos (sim, aqueles vindos do planeta Terra) estão atrás da banda Crescendolls, a qual é capturada ao som de Aerodynamic, segunda música do álbum Discovery.

Na terceira cena do filme conhecemos Shep, o “soldado protetor” do planeta natal da banda Crescendolls, o qual se prepara para resgatar seus ídolos na Terra, ao som de Digital Love, terceira faixa de Discovery. Esta música, inclusive, foi perfeita para a cena, considerando que nela se torna claro o amor e admiração que Shep sente por Stella, não deixando dúvidas de que o mesmo fará de tudo para resgatá-la. Digital Love é a prova de que a música eletrônica também pode ser romântica, até mesmo porque o sample desta faixa é da música I love you more, escrita por George Duke.

Mas, neste ínterim, o que está ocorrendo com Stella, Arpegius, Baryl e Octave? Uma verdadeira mudança de hábitos com certeza. Dentro da nave espacial que sequestrou os membros da banda, os mesmos estão passando por uma total transformação. A cor de suas peles é alterada do original azul para a cor artificial característica do ser humano. Suas roupas também sofrem transformação, além de suas memórias serem alteradas. Para finalizar, um par de óculos responsável por controlar suas mentes é implantado em cada um deles. Tudo isso ocorre ao som de Harder, Better, Faster, Stronger, quarta música do álbum Discovery, a qual também é um grande sucesso de Daft Punk por sua musicalidade eletrônica característica. O sample desta faixa foi retirado da música Cola Bottle Baby, escrita por Edwin Birdsong.

 
 

Então a banda Crescendolls é criada pelo vilão da história, Earl de Darkwood. Tal criação da banda, com a gravação do seu primeiro single intitulado “One More Time” é realizada ao som da música do Daft Punk igualmente chamada Crescendolls, quinta música do álbum Discovery, tendo seu sample retirado da música Can You Imagine, escrita por Dwight Brewster e Aleta Jennings. A banda faz enorme sucesso pelo mundo todo, para a alegria de Earl de Darkwood, que está lucrando muito com este sucesso estrondoso.

Ao final da música Digital Love, tocada na terceira cena do filme, a nave espacial em forma de guitarra do soldado Shep caiu na Terra com muita violência, e, agora, na sexta cena do longa, ao som de Nigthvision, sabemos qual foi seu destino. A trilha sonora desta cena é completamente intimista e sombria, combinado extremamente com a situação de Shep, que está num planeta totalmente desconhecido, com pessoas estranhas, tendo que descobrir como pode ajudar sua amada Stella a voltar para seu planeta, juntamente com os demais integrantes da banda. Nesta cena também é mostrado o sofrimento que a banda Crescendolls está passando nas mãos de Earl de Darkwood, tendo que autografar cartões e trabalhar sem descansar, levando a completa exaustão mental e física dos integrantes.

Em seguida o filme continua com a faixa Superheros, sétima do álbum Discovery, que contém o sample da música Who’s Been Sleeping In My Bed, escrita por Barry Manilow e Marty Panzer. Esta música se encaixou perfeitamente com a cena do filme em que há o resgate da banda por meio da ajuda de Shep, o qual destrói os óculos controladores de mente de todas as vítimas, exceto de Stella, a qual ainda ficou nas garras de Earl de Darkwood. Na fuga, Shep acaba recebendo um tiro e sua vida corre perigo.

O segundo resgate (de Stella) acontece ao som de High Life, oitava música de Discovery. Stella ainda está sob o controle de Earl de Darwook, o qual a leva para a cerimônia de premiação chamada The Gold Record Awards, fazendo uma visível menção ao Grammy Awards, considerada uma das mais importantes premiações do mundo da música. Esta parte é interessante no filme, pois se torna cada vez mais visível o único objetivo de Earl ter sequestrado a banda Crescendolls: receber o disco de ouro dado na premiação. Ao se aprontar para a cerimônia, Stella encontra no chão um cartão que Earl de Darkwood deixou cair, com as seguintes informações: “DarkwoodManor, 05/05, 05:55”. Esta confusa informação será decisiva para o desfecho a história. 

Ainda ao som de High Life, a cerimônia de premiação é mostrada, e a banda Crescendolls foi logicamente indicada para o prêmio, concorrendo com as bandas “Black Birds”, “Trilogy” e, acredite se quiser, com o duo “Daft Punk”, sendo que, neste momento, os mesmos aparecem no filme.

 
 

Para finalizar a execução da faixa High Life no filme, Baryl, o baterista, aparece disfarçado no meio da premiação, logo após a banda Crescendolls ter recebido o disco de ouro, quebrando os óculos dominadores de Stella e retirando-a do local.

Stella, então, é levada ao esconderijo onde todos estão. Somethnig About Us é a mágica trilha sonora que envolve o reencontro de Shep com sua amada Stella. Shep está à beira da morte, em virtude do tiro que levou dos capangas de Earl de Darkwood na fuga após o resgate dos membros da banda. Ao reencontrar Stella, o brilho volta ao seu olhar e a trilha sonora cria um clima totalmente sonhador, o que é corroborada com as românticas e doces imagens de Stella e Shep juntos. Depois de tanta emoção, é claro que Shep não aguenta e acaba se despedindo da vida.

O enterro de Shep é realizado somente na presença da banda Crescendolls, em um local afastado e rural. Ao som de Voyager, uma faixa totalmente instrumental e que, na minha opinião, é a melhor do álbum, simbolizando realmente uma passagem. É por estas pequenas coisas que eu digo que a sensação é de que todas as músicas do álbum se encaixam de maneira perfeita às cenas do filme.

Indo embora do local de enterro de Shep, os membros do Crescendolls avistam uma placa que diz: “Darkwood – 120 km”, e os mesmos se dirigem para lá, considerando ser o mesmo local descrito no cartão que Stella pegou de Earl, o ditador musical.

O nome da música que se segue é Veridis Quo, sendo o exato nome de um livro que Stella, Baryl, Aspergius e Octave encontram na mansão de Darkwood. Após folhearem este livro, todo o terror que os membros da banda vinham passando nas mãos de Earl de Darwood ficaram claros. Descobriram que Earl vive a muitos séculos roubando o talento de vários artistas sequestrados de inúmeros planetas distintos, graças a um portal no espaço-tempo sob o qual Earl mantém controle com o seu conhecimento.

Todos esses artistas talentosos foram trazidos para a Terra com o fim de fazerem sucesso e, além de Earl obter lucro com eles, poderia receber um disco de ouro por cada um dos talentos abusados. Após o recebimento do prêmio, o artista misteriosamente desaparece, considerando que Earl de Darkwood realiza um ritual com eles. Ao ler o livro Veridis Quo, descobrem também que a banda Crescendolls rendeu a Earl o disco de ouro nº 5555 que, conforme explica o item 5 da página 555 do livro, seria o disco que faltava para que Earl de Dakrwood conquistasse o controle do mundo.

Ainda ao som de Veridis Quo, Stella, Baryl, Aspergius e Octave lutam com os capangas de Earl para que os mesmos não fossem lançados como sacrifício ao ritual do disco de ouro nº 5555, e, por um milagre, se salvam dessa, livrando-se de Earl após o mesmo ter se jogado como oferenda atrás de seu disco perdido.

Agora ao som de Short Circut, décima segunda faixa do álbum Discovery, os membros da banda invadem o estúdio onde gravaram seu sucesso “One more Time”, na esperança de encontrarem vestígio de suas verdadeiras memórias, a fim de voltarem para seu planeta natal. Nesta tarefa, o produtor do disco, aparentemente dono da gravadora “R Company” acaba tendo conhecimento de tudo e ajuda a banda, a qual encontrou o CD com suas memórias originais, graças a empreitada de Octave, o tecladista.

Durante a execução da faixa Face to face, décima terceira do álbum Discovery, com vocais de Todd Edwards, todas as peças do quebra-cabeça se encaixam e toda a verdade é revelada para a população da Terra sobre a banda Crescendolls, a qual é auxiliada pela gravadora “R Company” a ter de volta suas memórias e voltar para seu planeta na nave espacial deixada por Shep.

Too Long, com vocais de Romanthony, é a música que finaliza o filme, mostrando como foi a volta de Stella, Baryl, Aspergius e Octave para seu planeta, graças à proteção do espírito de Shep durante a jornada. Ao pisarem em sua terra natal, toda a população prestou homenagem à Shep, finalizando-se o filme com o restabelecimento da paz e alegria, mediante compartilhamento da música de Crescendolls em seu planeta. com a transmissão para a Terra.

Os últimos minutos do filme são realmente interessantes. Existem muitas possibilidades de toda a história acima ter ocorrido somente na imaginação de um garotinho que ouvia Daft Punk e brincava com seus bonecos quanto o disco Discovery tocava, que, cansado de tanto brincar, acabou pegando no sono.

 
 
Este filme musical fez muito sucesso pelo mundo, e muitos fãs de Daft Punk e de Leiju Matsumoto compram seus artigos, realizam tatuagens sobre a história e fabricam muitos fan-mades. Mas, cá entre nós, esta obra é realmente digna de tal brilho e consideração.
 
Bonecos oficiais Interstella 5555
Cosplay
Fan-made

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