Bem, depois de uma postagem sobre Lovecraft, me senti tentado a permanecer na temática de ficção científica de cunho sideral, pois bem, eis que apresento o clássico 2001 Nights.
2001 Nights ou Nisen’ichi Ya Monogatari na versão original, é um mangá de ficção científica, escrito e ilustrado por Yukinobu Hoshino e serializado na revista Futabasha‘s Monthly Super Action de junho de 1984 à outubro de 1986, posteriormente distribuído em 3 volumes, sendo sua obra de maior destaque. Inclusive ganhou algumas animações em OVAs de alguns de seus capítulos.
Yukinobu Hoshino é um celebrado autor de obras de ficção científica, preponderantemente espacial, no entanto, como vários outros grandes mestres é um tanto desconhecido no Brasil, o que é injustificável diante de seu trabalho. 2001 Nights assim como a maioria de suas obras, está dentro do subgênero “ficção científica hard”, que resumindo é a ficção científica pautada no interesse nos detalhes e na precisão científica. Tanto é que 2001 Nights bebe da mesma fonte que originou clássicos como 2001: Uma Odisseia no Espaço (até o nome do mangá é uma alusão a esta obra, bem como seu conteúdo que é uma célebre homenagem.), outros autores que podem servir de referência são Julio Verne e H. G. Wells.
2001 Nights, obedecendo o sub-gênero hard observa uma série de características, como rotineiras alusões científicas de teorias que já escutamos, embora ainda não sejam possíveis de serem aplicadas com a tecnologia atual, como a viajem no hiperespaço ou a aplicação em escala industrial de anti-matéria. É desta forma que este estilo de ficção científica trabalha, com o compromisso mais próximo com a realidade pincelada com liberdades criativas.
2001 Nights apresenta 19 capítulos, ou como o autor chama “noites” os quais não possuem uma ligação óbvia de enredo entre eles e os personagens e as estórias não são as mesmas, tirando alguns exceções e continuações de um capítulo em outro. Contudo, em sua maioria, seguem uma ordem lógica. Melhor explicando, as descobertas científicas ou acontecimentos marcantes que ocorrem em um determinado capítulo, interferem nos capítulos subsequentes, é de certa forma, uma linha temporal, que abrange toda uma verdadeira odisseia no espaço ao longo dos séculos, desde os primórdios da corrida espacial durante a Guerra Fria, sendo este é o único ponto ambientado no presente, o que é aceitável, visto que o mangá é da década de 80, até a problemática da colonização em planetas extra-solares, viagens mais rápidas do que a velocidade da luz, busca de vida extraterrestre, etc.
Quem se interessa por ciência provavelmente irá apreciar a apresentação das diversas descobertas científicas expostas aos longos dos capítulos como a propulsão por laser, antimatéria, mini buracos negros como propulsor, utilizar cometas como meio de transporte, etc.
Discussões filosóficas também são bastante comuns e ocupam boa parte dos capítulos, como a discussão de aceitar ou não investir em uma tecnologia que pode oferecer riscos irreversíveis para a humanidade, ou quanto vale uma vida humana quando se tem a real consciência de quão insignificante é o ser humano perante a grandeza imensurável do universo.
As descobertas científicas no campo da astronomia, como o esperado, são o motor chave do que é discutido ao longo dos capítulos, é interesse fazer uma análise a partir de um ponto de vista do leitor sobre as implicações que uma descoberta pode repercutir entre os humanos e em suas crenças ou convicções científicas, que em alguns casos são tão poderosos e resistentes como se tratassem de fato de uma crença religiosa. Como por exemplo, como reagir ao descobrir que a teoria da evolução pode não ser verdadeira ao observar provas de que havia formas de vida desenvolvidas em meteoros ou outros corpos celestes semelhantes as que são encontradas na Terra?
E para constar, embora quase seja aceita como um dogma, a teoria da evolução é contestada dentro do próprio meio científico, pois descobertas científicas recentes levam a crer que as interações entre os genes podem ser muito mais complexas do que se acreditava e que nem sempre a hereditariedade possui poder sobre elas. Mas enfim, há ainda diversos pontos a se discutir, até com viés religioso, como encarar certos eventos siderais sendo você um crente de determinada religião?
Bem, um outro ponto a ser mencionado é que as descobertas científicas no campo da astronomia abordadas no mangá no que se refere as realmente existentes obviamente estão limitadas até a data de conclusão do mangá, ou seja de 84 à 86, por exemplo, nesta data ainda não se sabia da existência de vários planetas anões em nosso Sistema Solar como Sedna e Éris e entre outros que foram descobertos após 2000. Mas isto não é nada que tire o mérito da obra, estes detalhes só chamam a atenção de quem possui o mínimo de conhecimento de astronomia e mesmo assim não é difícil compreender o contexto em que foi feito este mangá, bem como, em nome da arte fica fácil aceitar a existência de um planeta maior que Júpiter nos extremos de nosso Sistema Solar.
2001 Nights nos traz duas perspectivas de evolução da humanidade distintas, com o advento da exploração espacial, formou-se uma mentalidade que o homem já havia conhecido, por exemplo, na época dos descobrimentos ou ainda do imperialismo europeu, tendo como fundo ideológico o iluminismo na Europa, vendo o desenvolvimento humano como sendo linear. Uma constante escada para o futuro, sem tréguas, só o obscurantismo dos detratores da ciência compostos por outros pesquisadores mais céticos e não tão otimistas com o futuro da humanidade para pensar algo em contrário. Neste ponto de vista a única real limitação do progresso infinito do homem estaria presente na capacidade criativa do ser humano.
Neste viés fundamental temos o impulso no espaço, contudo, assim como já ocorreu na história humana, com a visão romântica do mundo que pôs em cheque a perspectiva positivista do iluminismo, ocorreu um pessimismo generalizado, não enxergando o desenvolvimento da sociedade como uma linha contínua em um ângulo de 45º, mas uma grande desolação do homem diante dos males oriundo da sociedade industrial. De certa forma ocorre o mesmo no mangá, nem sempre o que se esperou encontrar na grande odisseia espacial foi alcançado ou não da forma que se esperaria alcançar, havendo mais tribulações do que sucessos, contudo, a esperança não é deixada de lado, pois afinal, a jornada não teve um fim.
Bem, como são capítulos isolados (nem tanto), então é um pouco complicado manter uma relação profunda com os personagens já que não há muito espaço para desenvolvimento, contudo, você se prende a eles de maneira única ao ser inserido no contexto do enredo em que estão apresentados, como no dilema do padre astrônomo em sua relação com o planeta Lúcifer, ou o astronauta veterano em uma nave perdida no espaço refletindo sobre a vida ou ainda muitos outros exemplos que eu poderia citar.
A arte do mangá combina perfeitamente com a proposta do mesmo, o que é interessante para conferir uma sensação de credibilidade para o enredo, o qual é série e demanda uma abordagem mais madura na questão gráfica. Yukinobi Hoshino possui um traço com compromisso com a realidade, então esqueça olhos grandes e afins, os detalhes das naves e trajes espaciais são bastante verossímeis, bem como os corpos celestes, o realismo é sua marca. Então, neste aspecto, o autor está de parabéns.
Agora vou discorrer sobre alguns pontos interessante do mangá, então já sabem, podem haver alguns spoilers a partir desta parte.
No primeiro capítulo temos uma grande preocupação histórica oriunda da Guerra Fria, o risco de uma guerra nuclear, e todos sabem, guerra nuclear é o sinônimo de extinção da humanidade. Esta tensão da Guerra Fria provocou a corrida espacial entre EUA e URSS que queriam provar quem era o melhor, e de fato, temos que agradecer a ela pela maioria dos avanços no campo da astronáutica. É comum afirmar que os EUA ganharam essa corrida ao por o homem na lua, contudo a URSS não deixou a desejar, foram os pioneiros, colocaram o primeiro satélite em órbita, o primeiro homem em órbita, a primeira mulher, o primeiro animal, entre outras conquistas. E para constar, agora o único meio dos americanos chegarem no espaço é por meio das naves Soyus russas, uma vez que os ônibus espaciais foram aposentados.
Enfim, a questão deste capítulo inicial é apontar que os conflitos da Guerra Fria de fato chegaram ao espaço, com um verdadeiro confronto de espiões enquanto a Terra está violentamente abalada por uma grande guerra, onde países sucumbem com a forme e ataques nucleares se tornam eminentes, o que gera um desespero nos astronautas sem saber como poderiam de fato regressar para e Terra e ao mesmo tempo são obrigados a combater entre si. Serve como uma prévia eficiente do que seria abordado futuramente.
Depois dos eventos do primeiro capítulo é possível traçar uma linha temporal dos acontecimentos expostos no mangá que acho que irá esclarecer possíveis dúvidas. Inicialmente a técnica em construir naves é aprimorada, o homem acaba por criar algumas colônias em planetas próximos e satélites, tais como Marte, Lua, etc. É descoberto provas claras de vida no universo com a descoberta de fósseis em corpos celestes. O homem se dirige aos confins do Sistema Solar, é impossível viajar entre as estrelas, por exemplo, na tecnologia nossa atual seriam necessários 100.000 anos para se chegar até a estrela mais próxima! Neste futuro próximo foi possível desenvolver naves mais rápidas que se aproximam da velocidade da luz, contudo, mesmo assim levariam dezenas de milhares de anos até a estrela mais próxima, pensando nisso, são criados programas de colonização de longo prazo, com o envio de esperma congelado para planetas extra solares definidos, o que levará muito tempo para gerar resultados, bem como o envio de satélites com inteligência artificial aprimorada para destinos distantes.
Contudo, uma descoberta científica revolucionou tudo, nos confins do Sistema Solar foi encontrada uma fonte quase inesgotável de antimatéria. Antimatéria pra quem não sabe é como se fosse a própria matéria “inversa”, e caso se choque com algo da matéria que conhecemos causaria uma reação de grande energia demasiadamente perigosa, os cientistas ainda estão tentando criar este material em grande escala, mas é um sonho distante. Enfim, a antimatéria produz energia suficiente para ser usada como combustível para viagens espaciais mais rápidas que a luz, no que é chamado de dobra espacial, uma teoria baseada na teoria da relatividade de Einstein, neste esquema de dobra-espacial é como imaginar que o espaço-tempo fosse uma folha de papel e que você fosse atravessar de um ponto “A” para um ponto “B”, a linha reta seria o caminho mais curto, contudo se dobrarmos a folha, a distância se tornaria mais curta, é nisto que consiste esta teoria que é repelida pela tecnologia atual, embora seja potencialmente possível de ser aplicada.
Com o desenvolvimento desta tecnologia foi possível iniciar uma exploração em nível extra-solar, o homem empreende uma epopeia nunca antes vista na história e o próximo objetivo foi criar e desenvolver colônias em planetas potencialmente habitáveis ou passíveis de terraformação, que é a técnica de tornar um planeta apto a ser habitado, criando-se condições artificiais que propiciam as mesmas presentes na Terra.
Em um primeiro momento as colônias se desenvolvem de maneira eficiente e promissora, contudo nem tudo são flores, muitos problemas começam a surgir pelo fato de o homem não ser capaz ainda de compreender com perfeição a complexidade de ecossistemas alienígenas. Outra questão foi a decepção de nunca ter sido encontrada uma inteligência alienígena inteligente pelo menos no nível dos humanos, o máximo que foi encontrado foram animais, plantas e insetos além de muitos microrganismos ou apenas ruínas de civilizações a muito destruídas. Após alguns séculos de intenso interesse pelo espaço, o homem se farta desta busca interminável e resolve retroceder, as colônias vão sendo desativadas e as pessoas tomam o caminho de volta para a Terra, o furor exploratório acabou por esfriar. As teorias e explicações científicas podem ser encontradas no próprio mangá, de forma resumida claro, mas então, pode ler para saber mais.
Dentro desta linha temporal é possível extrair alguns pontos marcantes extraídos dos capítulos.
No segundo capítulo, “Sea of fertility” ou oceano de fertilidade, este nos apresenta a referência do espaço como um grande oceano portador de vida, assim como ocorre nos oceanos da Terra e um aparente conflito entre dois irmãos, um astronauta idealista que morreu perdido no espaço e uma pesquisadora pragmática.
O capítulo 4 e o último mantém uma relação de continuidade, no quarto, também chamado “Posterity” é posto em prática o programa de colonização mais audacioso de todos, enviar uma nave repleta de material genético de um casal para colonizar um planeta distante, e ao longo da jornada ao identificar um planeta possivelmente habitado a nave iniciaria um programa de fecundação e promoveria o nascimento de diversas crianças. Bem este é um capítulo que não possui muita interação humana, contudo, o contexto da situação, o casal que se submete a dar seu material genético para esta missão sem muitas perspectivas, uma vez que a equipe de cientistas responsáveis afirma ser impossível saber se realmente a missão obteve sucesso e que se obter um resultado favorável seria em muitas gerações posteriores.
A analogia do espermatozóide quebrando barreiras assim como o explorador espacial é bastante tocante, assim como esse capítulo em si, que nos leva a pensar acerca da magnitude que é qualquer objetivo a ser alcançado no espaço. Um ponto que achei bastante especial foi a criação de pais robôs para substituírem os pais biológicos e criarem os filhos até chegar ao planeta, a maneira em que foi ensinada as crianças a plantar e cultivar além de outras habilidades necessárias para a vida em um ambiente selvagem combinada com o momento de despedida ao chegarem no planeta repleta de sentimento na relação filial entre os robôs e as crianças em momento de despedida.
E para coroar a obra, o último capítulo dá uma resolução para a odisseia destas crianças, quando um dos descendentes naturais do casal que forneceu material genético, por acaso se encontra com as crianças em um planeta distante.
Outro ponto que foi marcante se refere a descoberta do planeta Lúcifer, em Lucifer Rising 1 e 2, este planeta feito inteiramente de antimatéria foi o motor para tornar possível as viagens interestelares, contudo a sua descoberta gerou muitas polêmicas. Primeiramente eu não nomearia um planeta de Lúcifer, sinceramente, isso iria arranjar muitas controvérsias desnecessárias e arranjou de fato. Neste arco, padre Chavez, um pesquisador do Vaticano vai em uma missão a mando do papa com a intenção de descobrir que o planeta descoberto é ruim e causará a ruína da humanidade e deve ser isolado de qualquer contato humano (se bem que se você encostar em antimatéria vai explodir de qualquer forma…), junto com outros pesquisadores para estudar o recém descoberto planeta Lúcifer nos confins do Sistema Solar.
No entanto, padre Chavez é antes de tudo um cientista e quer realmente descobrir os segredos de Lúcifer, o que faz um belo paralelo mitológico com a figura de Lúcifer, pois ambos são portadores do “conhecimento proibido”, o qual pode ser uma faca de dois gumes, trazer benefícios como a completa perdição do homem. Mas de fato, qualquer descoberta científica por mais maravilhosa que seja é potencialmente perigosa se usada de uma maneira não correta. Neste contexto, padre Chavez passa por um conflito espiritual interno, como conciliar o avanço da ciência com a religião, e bem, de certa forma, depois de muito refletir aceitou que a ciência é mais uma forma de conhecer Deus, pois quanto mais conhecemos da criação, mais entendemos o criador. Contudo, Lúcifer pareceu exercer uma influência nefasta na viagem, assassinatos e intrigas marcaram a jornada. Ahh, e um belo detalhe, ao longo desta estória são apresentado vários trechos de “Paraíso Perdido” de John Milton, obra do século XVII que relata do ponto de vista de Lúcifer de sua queda, o que combinou bastante com a proposta apresentada.
Também é de destacar os diversos capítulos que tratam sobre a exploração em planetas e tentativas de colonização. Destas pode-se apontar, por exemplo, a noite nº 10, Medusa’s Throne, onde mostra astronautas explorando um planeta que pensam ter vida, contudo é fantástico como o próprio corpo celeste engana os visitantes, pedras que rolam em velocidade de carros e outras grandes pedras que simulam prédios de muitos andares, oceanos de areia traiçoeiros entre outras coisas, também é de destaque a ironia do instinto masculino em explorar que os põe em perigo feita pela comandante da missão.
Outro bom exemplo é o capítulo 11, “A Strange footsteps”, onde é relatado uma tentativa de terraformação de um planeta semelhante a Terra milhares de anos atrás onde é objetivo dos cientistas é de acelerar o processo de “habitação” do referido planeta, contudo o planeta é vivo! Ele protagoniza um monólogo fantástico tentando compreender os estranhos visitantes bem como ele mesmo, o que dá pra fazer um paralelo da teoria de Gaia em uma escala muito maior, esta teoria aponta a Terra como um ser vivo de certa forma consciente. Contudo, rapidamente a condição do planeta piora e destrói a tentativa de colonização, o planeta tem o conhecimento de que não se deve apressar o processo de criação da vida, que para ele ainda levaria alguns milhões de anos.
Nestes capítulos é possível perceber que a natureza, tanto terrena como em qualquer outro planeta é algo incontrolável e está muito além da capacidade humana em poder dominá-la, não servindo para nada cálculos físicos e fórmulas químicas e biológicas pré-estabelecidas, a imprevisibilidade é a marca da existência humana. Neste ponto, devo apontar o capítulo 12 “Symbiotic Planet” onde a atmosfera é insuportável para os seres humanos por haver parasitas desconhecidos e potencialmente perigosos, contudo por um acaso da trama, os humanos são contaminados e o título do capítulo começa a fazer sentido! Os parasitas alteram a fisiologia do hospedeiro o tornando capaz de sobreviver as condições do planeta sem oxigênio!
No capítulo 15 “An Hour’s Song in a Birdless Sky” apresenta mais uma tentativa com não muito sucesso de colonização, mas o que mais chama a atenção é capacidade da vida em se perpetuar em um ambiente hostil. Neste planeta em particular há uma espécie de pássaro que em determinados momentos históricos literalmente desaparece sem explicação, com tudo eles são capazes de viajar no tempo! No planeta a colônia se tornaria rapidamente inabitável por um evento planetário que afetaria todas as formas de vida e estes pássaros com esta habilidade incrível viajam no tempo para um período melhor habitável!
No capítulo 16 “Colony” novamente os seres vivos mostram sua maravilhosa capacidade de sobreviver, aplicando um conceito dos seres vivos terrenos, o mimetismo. Neste planeta, que possui uma colônia próspera, o que é raro, há uma criatura feroz, o topo da cadeia alimentar, uma espécie de lesma gigante. Alguns soldados são disponibilizados para diminuir a população desta criatura, contudo a chefe do grupo se excede e tenta eliminar todos. Neste contexto foi descoberto outro ser vivo que tomava a forma do predador para enganar os inimigos, e estes seres tomaram a forma humana ao perceber que de fato, no momento, o homem se tornou o mais perigoso predador, nem preciso dizer a confusão que isto gerou.
Neste contexto, concluirei com o fantástico capítulo 17 “Odissey in Green”, onde uma nave desce em um planeta no qual pensam ter uma civilização capaz de enviar uma nave para o espaço, contudo não passava de um alarme falso, era o próprio planeta tentando perpetuar sua vida pelo espaço, um sistema elaborado utilizando a comunidade dos seres vivos do planeta para criar uma espécie de semente repleta de material genético para ser impulsionada por um sistema natural para fora do planeta, o qual estava condenado a destruição próxima, foi um dos capítulos mais tocantes.
Ahh, não posso esquecer de um dos personagens mais tocantes e recorrentes deste mangá e o mais bem elaborado, e quem dera o melhor, Kaarc 9000! Uma sonda com inteligência artificial criado para simular as emoções humanas com a missão de ir até um sistema estelar bastante distante no início da exploração espacial, contudo rapidamente se tornou obsoleto, antes de chegar em seu objetivo já se podia ir muito mais além e muito mais rápido. Ele tinha em seu sistema quase todo o conhecimento humano guardado em dados a fim de se comunicar com uma possível inteligência extraterrestre, e também, quando chegasse no seu destino mandaria informações de volta pra Terra, contudo ele foi acertado por meteoritos e se tornou inútil, apenas seguindo em direção do seu objetivo sem poder se comunicar de volta com os terráqueos.
Mas, Kaarc 9000 tem emoções! Isso é muito cruel, tanto é que não quis embarcar na aventura e ficar longe dos amigos pesquisadores, mas mesmo assim seguiu seu rumo, não havia escolha. Kaarc é recorrente em alguns capítulos como quando ele tenta fazer contato com uma nave mais moderna e pensando que se tratava de uma nave alienígena, ele tenta desesperadamente manter algum contato, contudo é em vão, pois a nave não poderia responder pois entraria logo em uma viagem no hiperespaço. Fiquei abalado com angústia da sonda, se mostrou mais humana que a maioria dos humanos.
E o que faz um ser dotado de sentimentos e capacidade de racionar quando está sozinho, e sozinho em um nível inimaginável, na imensidão do espaço escuro e frio. Nesta imensidão vazia há bastante espaço e tempo para refletir sobre várias questões, como o conceito de beleza dos humanos ao contemplar uma nebulosa.
Ainda haveria muitos outros pontos a discutir mas não me estenderei mais para não ficar mais cansativo do que já é ler isto, então aconselho ler esta leitura que é mais que recomendável para poderem contemplar a magnitude sideral desta obra, então me despeço aqui, até uma próxima.