Milk Closet de Hitoshi Tomizawa, foi um mangá publicado de 2000 à 2001 pela Afternoon Magazine, contando com 4 volumes. A primeira vista o leitor pode se enganar pelo character design que é um tanto “infantilizado”, o que esconde de cara algumas facetas não tão infantis da obra. Quem leu minha postagem sobre Alien Nine, sabe do que eu estou falando, e Tomizawa bebe da mesma fonte de inspiração, será que desta vez ele foi mais bem sucedido?
Este recurso de criar uma dicotomia entre o infantil/adulto, fofo/grotesco está presente em diversas obras, o que, na maioria das vezes, causa um efeito bacana, como ocorreu em Puella Magi Madoka Magica. Além de que, no presente caso, trata-se de mais uma obra ícone da temática Superflat, assim como Alien Nine.
Voltando à obra, ela trata basicamente de um grupo de crianças com superpoderes que devem salvar o mundo enfrentando alienígenas perversos em outras dimensões. Bem, não é tão simples assim.
Em 2005 começou a ocorrer um estranho fenômeno, crianças ao redor do mundo passaram a desaparecer misteriosamente, algumas dentro de algum tempo retornavam de onde tinham saído e outras nunca mais voltavam.
Neste contexto somos introduzidos a uma das protagonistas, Hana Yamaguchi de oito anos, a qual recebe tratamento médico justamente pela sua capacidade de desaparecer e retornar algum tempo depois, ai que está a questão, aonde as crianças desaparecidas vão quando desaparecem? Estas crianças “pulam” (é o termo usado no próprio mangá) entre diversos universos paralelos, há centenas deles, cada um com suas próprias características geológicas e formas de vida únicas. Não é como se estas crianças gostassem disto, exceto as mais aventureiras, pois ficam expostas a toda sorte das mais inimagináveis aberrações alienígenas e lugares inimagináveis.
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Você está em um mundo diferente, com fome, o que você faz? Mama em um…um o que? |
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Ocorre que nestas andanças pelos universos paralelos eles se deparam com uma raça alienígena de formigas gigantes carnívoras que estão se espalhando pelos universos pondo em risco a existência da raça humana bem como das demais criaturas dos mundos paralelos. Neste cenário, surge uma misteriosa garota que aparentemente tenta ajudar as crianças viajantes de dimensões, lhes dando equipamentos especiais, como laços para cabelo que possuem o poder de teletransportar o usuário para um lugar seguro.
Hana, em uma de suas viagens não consegue retornar ao seu mundo, então é mandado em sua busca um garoto Tarou Tachibana que possui a mesma habilidade, ao contrário de Hana que sofre com o medo de lugares desconhecidos e saudade de seus pais (bem, não é pra menos, você com meros oito anos embarcando em viagens oníricas quase sendo assassinado por horrores inimagináveis, como se sentiria?). Ele é ativo e destemido, contudo as coisas não saem como esperado e ambos entram em situações que podem custar suas vidas, ai é que a mágica acontece, ambos se fundem com algum tipo de alienígena que toma a forma de uma cauda (olhando de longe até parece uma cauda de esquilo talvez…).
Mas nada é apenas coincidência, as caudas/alienígenas não estavam ai por acaso, obedeciam a um propósito maior. Nota-se que estes alienígenas simbióticas possuem consciência própria.Eu fiquei assustado, a primeira vista pareceu que o alienígena tinha se ligado ao corpo das crianças por via retal! Mas por sorte, foi na região daquele último ossinho da coluna vertebral.
Como em Alien Nine, fundidos com alienígenas simbióticos, eles adquirem habilidades especiais como regeneração e a possibilidade de seus corpos poderem se transformar em armas, Hana pode transformar seus braços em facas e Tarou pode retorcer o corpo até ficar pontiagudo. Assim sendo, com os novos poderes adquiridos, não por acaso, a garota misteriosa citada anteriormente os recruta para uma missão muito simples, resgatar as crianças perdidas nos universos paralelos, que não conseguem retornar ao mundo terrestre, enquanto combatem as formigas alienígenas que são mais espertas do que aparentam ser.
Então, Hana e Tarou se juntam a outras crianças com cauda formando um time chamado de “Milk Squad”, isso mesmo, esquadrão leite, até que faz sentido levando em conta que o time é formado de criança de 8-9 anos. Na verdade MILK é uma sigla para “Macrocosmic Invincible Legion of kids”, o que não torna tudo menos bizarro, somando toda a bizarrice com os uniformes deles, um macacão e um gorro do Papai Noel que permite a eles atravessar as dimensões.
No começo é tudo muito divertido, crianças com superpoderes matando insetos alienígenas burros, elas até se divertem com isso, deixando o medo um pouco de lado, menos Hana, que nunca se conformou com a ideia de ter que lutar contar criaturas repugnantes ao invés de poder brincar, estudar e estar com sua família (a única criança sensata e que age como uma criança normal…). Só que nem tudo são flores, as coisas começam a não dar certo, os alienígenas mostram sua verdadeira inteligência, os reais objetivos da misteriosa garota vão sendo desvelados e, embora pareça tarefa fácil salvar as crianças no inicio, ao longo do desenvolvimento da estória, o Milk Squad terá que conviver com o peso do fracasso.
Abordando os aspectos gráficos da obra, saliento que o character design causa controvérsias, embora eu já tenha me acostumado, aquelas cabeças redondas e orelhas enormes, podem ser consideradas de gosto duvidoso, mas é a marca registrada do autor, junto com seu desejo obscuro em colocar personagens infantis em situações de risco geralmente envolvendo aliens, como eu já havia dito na postagem sobre Alien Nine.
No entanto nem tudo é ruim, muito pelo contrário, os alienígenas são um espetáculo a parte, contrastando com a simplicidade cativante dos traços das pessoas, nem os adultos parecem tão adultos, os alienígenas possuem uma miríade de detalhes e formas, o que ressalta a criatividade do autor.
Em comparação à sua obra mais conhecida “Alien Nine” a arte deste mangá está mais fluida e refinada, o que torna a experiência visual mais enriquecedora. As batalhas não deixam a desejar, conseguem retratar a emoção da cena, como quando Hana dilacera uma formiga que lhe tenta devorar.
A dicotomia criada entre os traços leves e graciosos das crianças enquanto dilaceram alienígenas grotescamente detalhados, tudo permeado a muito sangue, tem o objetivo de causar espanto no leitor. No entanto, aos não habituados a este tipo de obra, pode não ser algo positivo, como se extrai de alguns comentários horrorizados acerca da obra espalhados pela web.
No que tange aos aspectos técnicos o ponto controverso seria a falta de verossimilhança nas ações dos personagens, pois quem na faixa de 8/9 anos aceitaria tão facilmente embarcar em uma aventura que custaria sua vida? Cadê os pais? Porque eles agem como isso tudo fosse a coisa mais normal do mundo? Entretanto, por seu uma obra de fantasia, este tipo de argumento é aceitável.
Os diálogos são simples, muito pontuais, você perde mais tempo admirando as páginas do que lendo. Infelizmente por vezes você fica confuso com o que está acontecendo. Alguns fatos são passados de forma abrupta, embora não raras vezes o autor gaste alguns quadros apenas para explicar tal situação, eu ainda fiquei com uma série de questionamentos não respondidos.
Bem como uma série de outras obras de ficção científica, Milk Closet expõe bem a interação existente entre as diversas formas de vida, numa relação mutualística, onde cada um dos participantes aufere um benefício, como o caso das caudas que conferem habilidades únicas aos membros do Milk Squad, para que a proteção dos mundos seja garantida.
Quanto ao desenvolvimento dos personagens não tenho muito para dizer, logo de início somos apresentados aos dois primeiros protagonistas Hana e Tarou, os únicos que são mais bem trabalhados na primeira metade da estória. Hana até dois terços do mangá se mantém a mesma, salvo alguns acréscimos em sua personalidade no que diz respeito ao seu dever de ajudar o próximo, no entanto ela abruptamente fica obscurecida no desfecho. Já em relação a Taro, ele se mantém sempre o mesmo, o autor insistindo em explorar sua personalidade indômita, sendo crucial lá pela metade no mangá quando então entra em hiato, só voltando para o desfecho em grande estilo.
Com a retirada dos holofotes sobre a dupla principal foi hora dos outros membros do Milk Squad brilharem, o doutor Daigo, Alisa e Aiko, sendo fundamentais para o desfecho da trama. Para mim pareceu que o autor não conseguiu desenvolver todos os integrantes do Milk Squad simultaneamente, deu a cada um o seu momento de glória, o que foi relativamente bom, pois eu sentiria falta caso os outros membros não fossem devidamente desenvolvidos, embora isto somente tenha ocorrido do final do mangá.
Quanto ao desenvolvimento dos personagens não tenho muito para dizer, logo de início somos apresentados aos dois primeiros protagonistas Hana e Tarou, os únicos que são mais bem trabalhados na primeira metade da estória. Hana até dois terços do mangá se mantém a mesma, salvo alguns acréscimos em sua personalidade no que diz respeito ao seu dever de ajudar o próximo, no entanto ela abruptamente fica obscurecida no desfecho. Já em relação a Taro, ele se mantém sempre o mesmo, o autor insistindo em explorar sua personalidade indômita, sendo crucial lá pela metade no mangá quando então entra em hiato, só voltando para o desfecho em grande estilo.
Com a retirada dos holofotes sobre a dupla principal foi hora dos outros membros do Milk Squad brilharem, o doutor Daigo, Alisa e Aiko, sendo fundamentais para o desfecho da trama. Para mim pareceu que o autor não conseguiu desenvolver todos os integrantes do Milk Squad simultaneamente, deu a cada um o seu momento de glória, o que foi relativamente bom, pois eu sentiria falta caso os outros membros não fossem devidamente desenvolvidos, embora isto somente tenha ocorrido do final do mangá.
Agora vou expor algumas divagações minhas acerca da obra (podem conter spoilers).
Disto surge a esperança, Liesl, a garota misteriosa descendente dos cetáceos altos governantes dos universos. Ela traz a possibilidade de criar um novo mundo, imperecível, onde todo o macrocosmo estará reunido, sem a presença dos odiosos artrópodes carnívoros.
Este novo mundo depende do sacrifício de crianças, as quais é incumbido o dever de resgatar e recrutar outras crianças, mas há em tudo isso um significado arcano. As crianças representam o novo, a renovação de um velho sistema condenado, deixando de lado os 4 quatrilhões de seres vivos, que infelizmente serão sacrificados para um fim maior.
Mas não foi tão simples assim, as grandes divindades cetáceas que dominam o universo não permitiriam a criação de um universo perfeito por mãos inferiores, embora contenha um significado ególatra, fez brotar um questionamento ético entre os personagens, não seria melhor concentrar esforços em impedir o avanço das formigas e salvar o que ainda pode ser salvo de alguma forma, do que arriscar todos os seres vivos em um projeto experimental, sem a certeza de um possível sucesso?
Salienta-se que durante a trama ocorreu duas tentativas fracassadas para criar o “Granduniverse”. Só me pergunto o porquê da mão de Liesl estar presa? Uma vez que ela planeja a criação do novo universo com a filha, embora não dito, fica implícita um possível sentimento revolucionário.
Finalizando, outro ponto de destaque foi o desfecho, a criação do universo imperecível pelas mãos das crianças que tiveram que psicologicamente e fisicamente crescerem para serem capazes de criá-lo, após passarem por inúmeras atribulações que nem qualquer adulto estaria apto a aguentar são, tornando-se pai e mãe novamente, de forma literal e simbólica do novo mundo.
Apreciei o simbolismo usado para a concepção do novo universo, o qual superaria todos os demais e onde todos poderiam viver para sempre, um lugar de felicidade e consolo, qual seja, a comunhão entre o arquétipo masculino, representado na figura do pai e o arquétipo feminino, representado na figura da mãe, a fim de dar a luz a um novo começo.
No entanto, para isto tornar-se realidade, foi necessária o treinamento das crianças, desde a tenra infância, a fim de crescerem e aprenderem com as adversidades. Tanto é quebTarou, ao que parece, sempre esteve pronto a ocupar a função “pai” do do novo universo, já as meninas necessitaram fundir-se para forma a “mãe” perfeita. Neste ponto, devo destacar que cada uma das garotas possui algum de “mãe”, especialmente Aiko Maruyma, embora apagada na maior parte do mangá, brilhou na parte final, notadamente porque o poder dela não consistia em ataques físicos, mas na bondade e amor.