Kite Liberator – Um estranho no ninho.

Semana passada analisei Mezzo Forte, o spin-off de Kite, e dando prosseguimento à análise dessa franquia inicialmente tão cheia de violência e sexo explícito, trago a vocês os meus comentários sobre a sequência direta de Kite, Kite Liberator, de 2008, que fugindo ao seu predecessor, abandonou as cenas sexuais e inovou com elementos de ficção científica espacial, sem, claro, esquecer o elemento central de todas as obras, a adolescente boa de mira e de briga. 

Antes de tudo, tenho que louvar a incrível a capacidade criativa de Yasuomi Umetsu, a mente por trás de Kite, por conseguir fornecer em cada continuação ou spin-off uma experiência totalmente inédita. E isso talvez nem sempre seja algo positivo por algumas escolhas técnicas e de roteiro, mas torna cada peça desse quebra-cabeça interessante e uma experiência única. Novamente não vou me adentrar nos aspectos históricos e curiosidade sobre a origem da franquia de Kite, pois vocês podem conhecer mais sobre Kite e Mezzo Forte lendo os seus respectivos textos bastando clicar nos links, o que é plenamente recomendado para um entendimento mais completo da obra de Yasuomi Umetsu.

Kite Liberator também foi lançado no formato de OVA (Original Video Animation) e diferentemente do primeiro Kite foi lançado em apenas um episódio de 58 minutos. Alguns minutos a mais do que os OVAs de Kite e Mezzo Forte. A data de lançamento foi 21 de março de 2008, praticamente 10 anos depois do clássico Kite. A obra também foi feita pelo estúdio Arms. Kite Liberator não sofreu com recortes e censuras, diante da falta de conteúdo sexual explícito. Mas consigo dar uma boa notícia aos mais assanhados, ainda restou um pouco de fanservice, com uma calcinha aparecendo vez ou outra em ângulos mais salientes e alguns seios.

Agora vamos à análise da obra. Logo de cara você pensa que baixou o OVA errado quando na primeira cena aparece uma nave espacial que muito bem poderia ter aparecido em um filme de Star Wars ou Star Trek. Ok, teremos um conteúdo que se passa no espaço. Foge um pouco do que esperamos de Kite e seu submundo cyberpunk, mas o inusitado da abordagem chama a atenção. Temos ainda uma insinuação de enredo que poderia se tratar de qualquer obra de ficção científica espacial, com uma situação onde dois astronautas acabam adoecidos depois de comer uma comida especial para fortalecer os ossos dos astronautas, já que é sabido que ao passar muito tempo no espaço em gravidade zero há um enfraquecimento do corpo.

Monaka assume uma “máscara” social de desastrada e tímida, para desviar o foco da sua real natureza de assassina.

Essa pequena narrativa espacial aparentemente não se liga à heroína do OVA, até pelo menos descobrir que o seu pai é um dos astronautas doentes, por muito tempo isso é pouco relevante. O OVA em menos de uma hora tenta construir duas narrativas diversas que acabam convergindo somente na parte final da obra. Em Kite Liberator a heroína da vez se chama Monaka Noguchi. Aparentemente a mais normal até agora e a única a possuir família viva, nesse caso ela tem o seu pai que é astronauta (a sua mãe morreu) e um tio que cuida dela, pois no fim das contas, Monaka vive mais com o seu tio do que o seu pai, já que devido a sua profissão fica mais tempo no espaço do que no planeta Terra.

Monaka aparenta ser uma colegial normal que tem um emprego de meio período em uma lanchonete à noite. Como é menor de idade e o estabelecimento vende bebidas alcoólicas, ela não poderia estar trabalhando no local, mas essa é a “menor” de suas contravenções legais. Kite Liberator não nos fornece nenhuma explicação relevante, mas Monaka possui um alter ego chamado de Anjo da Morte, uma figura figura misteriosa que mata todo tipo de criminoso, como assassinos e estupradores. Ela recebeu a alcunha de Anjo da Morte por sua assinatura que deixa na cena do crime, uma pequena bomba que ao explodir lança diversas penas brancas no ar.

As penas brancas, marca regista do Anjo da Morte.

A nossa heroína Monaka é a mais particular e misteriosa até agora. A sua “profissão” seria a mesma da Sawa, fazer o trabalho sujo para a polícia. Só que não há indícios de manipulação ou abusos como no caso do Kite clássico. Além disso, Monaka, ao melhor estilo Clark Kent, socialmente assume uma “personagem” que é tímida, desastrada e usa óculos. Ninguém imaginaria que uma garota assim seria uma assassina com habilidades de luta incríveis e perita no uso de armas. Quanto ao óculos, ela realmente possui problemas de visão, mas em suas missões utiliza lentes de contato azuis. Ela utiliza essa personagem “desastrada” e “desprotegida” inclusive para atrair maníacos sexuais e eliminá-los em locais mais propícios.

Mas há algo de fanfarronice nas ações de Monaka. Ela não simplesmente saca a arma e mata o alvo, ela tem que pelo menos ter um tempo privativo para tirar o óculos, amarrar o cabelo de outra forma, colocar uma capa, assumir uma personalidade séria e decidida e só com tudo isso feito ela pode se dar ao luxo de matar e deixar suas penas no local do crime. Até essa situação das penas é algo muito pouco prático, pois chama uma atenção desnecessária para os seus atos, o que só atrapalharia sua carreira de assassina. No fim das contas, Monaka é uma espécie de super-heroína com capa sem poderes especiais, como o Batman. Essa situação é um exagero, mas não é todo ruim, Monaka fica realmente badass, o que salva a coisa, pelo menos em parte.

quando assume o seu modo “vigilante”, Monaka muda completamente sua personalidade, incluindo voz e postura.

Então temos duas linha de enredo andando de forma convergente, a ficção científica espacial e as aventuras de Monaka. No caso de Monaka, seu enredo segue da seguinte forma: vemos ela assassinando alguns indivíduos, o que é esperado para uma obra da franquia de Kite. O primeiro bandido que ela elimina é um assassino a sangue frio perseguido por dois policiais, sendo que um deles é importante para o enredo, Rin Gaga. Esse policial, firme seguidor da lei, tenta capturar o Anjo da Morte, mas sem sucesso. Por uma questão de destino (enredo), ele acaba frequentando o bar onde Monaka trabalha e se sente atraído por ela, inclusive a convidando para sair. É um clichê comum nesse tipo de história de “super-herói” que algum servidor da lei ou investigador simplesmente se apaixona por alguém que o seu alter ego é justamente quem eles buscam prender. Infelizmente Kite Liberator não se aprofunda muito nesta questão.

Além disso, temos uma pitada de slice-of-life quando Monaka tenta viver o seu dia a dia escondendo que é uma assassina profissional, vemos bem isso na sua relação com a sua amiga (prima?). Nesse sentido anda o enredo, com Monaka assassinando alguém, trabalhando um pouco, estudando, etc. Até que em determinado ponto a linha narrativa do espaço converge e ela tem que resolver o clímax da história. E qual a necessidade de existir essa parte especial? Vou escrever um pouco sobre ela individualmente.

A parte no espaço do OVA cria uma atmosfera de terror espacial que lembra muito clássicos como Alien, o oitavo passageiro.

Se desse para pegar essa parte do enredo que se passa no espaço retirá-la de Kite Liberator e analisá-la individualmente como se fosse uma obra separada, não seria nada mal. Também não seria nada inovador, mas não seria ruim. Teve uma pegada ao melhor estilo Alien, o Oitavo Passageiro. Temos uma nave, que é um ambiente fechado, um microcosmo de onde é difícil fugir, temos uma tripulação limitada, composta de astronautas, soldados e pesquisadores, e temos um monstro extremamente letal. Se o monstro é um alienígena, um mutante ou uma experiência que deu errado é indiferente. A própria figura de um mal avassalador e destruidor dentro de um espaço limitado é de gelar a nuca.

Além disso, as partes do ataque do monstro me fizeram lembrar de Elfen Lied, com corpos perfurados, decepados, rasgadas e sangue voando para todo lado, isso tudo com uma resistência inútil de soldados tentando ferir um ser praticamente indestrutível. Não por acaso, Yasuomi Umetsu foi o diretor de Elfen Lied, outro clássico do sangue “ketchup” esparramado. Quando quem sobrou da tripulação pensa que fugiu em segurança de volta à Terra, ficamos sabendo que a ameaça monstruosa também fez um pouso em nosso planeta, mostrando que a ameaça continuava, esse é outro tropo muito comum neste tipo de ficção científica. Daí o destino da fera e de Monaka acabam se cruzando.

Momento de mutilação ao melhor estilo Elfen Lied. Lembrando que o diretor de Kite Liberator foi o diretor de Elfen Lied.

Por tudo isso, eu digo que a parte espacial funcionaria perfeitamente (precisaria de alguns ajustes e de mais algum conteúdo). Seria uma história batida? Sim, seria. Mas não seria ruim. Mas devo confessar que ficou no mínimo confuso misturar todo esse contexto com Kite, daí que surge o maior problema. Me parece que em Kite Liberator Yasuomi Umetsu tentou juntar diversas ideias muito criativas e fazer uma junção bastante inovadora. Pode muito bem ter sido isso, pois ousar é a marca desse diretor. Contudo, nem todas as peças se encaixam da maneira que deveriam, parecendo muito mais uma quimera que deu errado. Como eu poderia resumir melhor? Kite Liberator possui pontos individuais muito bons e criativos, mas o conjunto deixou a desejar. Vou esmiuçar mais esta questão.

A separação entre a parte do enredo espacial e a vida de vigilante de Monaka me pareceu muito acentuada, como se tratasse de apenas umas sobreposição de diferentes histórias, sem um conexão coesa. O próprio subenredo com o jovem policial também me pareceu uma parte autônoma e desprovida de maior significância. Provavelmente o objetivo era dar um toque de humanidade maior à Monaka com a inserção de uma possível relação amorosa, mas esse elemento também ficou no ar, solto da trama principal.

O monstro espacial que aparece em Kite Liberator.

Agora entrando um pouco mais a fundo na trama, e consequente com mais alguns spoilers (avisarei quando estes spoilers mais relevantes terminarem) está a questão de como se dá o encaixe das duas narrativas na parte final da obra e como Kite Liberator usou e abusou do recurso da coincidência. Primeiramente, a emoção da situação de Monaka ter que enfrentar o pai transformado em um monstro é eclipsada por escolhas capengas de enredo. Vejam só. O monstro cai na Terra, a companhia de alimentos que criou a comida que o transformou em monstro tenta abafar o caso mandando um assassino eliminar a criatura. Quem é o assassino escolhido? Ninguém menos que Monaka. É tão conveniente que supera qualquer boa vontade.

E a conveniência é acentuada quando Monaka sai da luta com a criatura, relativamente ferida e sem uma das lentes de contato e acaba esbarrando com quem? Com o irmão gêmeo, igualmente psicopata do cara que ela matou no começo do OVA, que a faz de refém. O meliante estava sendo perseguido pelo policial que tinha um interesse amoroso pela Monaka. Antes dele chegar, ela se desvencilha sem maiores dificuldades do bandido e o mata. Ela consegue escapar com dificuldade sem ser vista pelo policial. Que até esboça uma perseguição infrutífera. Olhem bem, outra coincidência inserida no enredo para forçar uma situação limite com o seu crush. Que também acaba perdendo potência por ser uma coincidência altamente improvável, logo em seguida de outra conveniência igualmente improvável.

Monaka é uma perita em diversos tipos de armamento.

No fim das contas, Kite Liberator é uma colcha de retalhos estranha. Se talvez Yasuomi Umetsu tivesse optado por um enredo simples como em Kite ou Mezzo Forte um resultado melhor estaria garantido. Mas nem tudo é ruim, e tem bastante coisa boa em Kite Liberator. Mas antes de adentrar nesse ponto, vamos finalizar as coisas “ruins” da obra. É perfeitamente normal um anime, livro, filme ter um final em aberto. Muitas vezes há um desejo de emendar uma continuação, ou de apenas deixar o final aberto delegando à criatividade de quem estiver assistindo/lendo as deduções necessários para entendê-lo. Há também de se colocar na balança a intensidade desse final em aberto e o número de pontas soltas do enredo que não levam a lugar algum.

Kite é um ótimo exemplo de uma boa narrativa fechada, e mesmo com seu final não 100% conclusivo, por si só não depende de uma continuação. Mezzo Forte até levantou alguns elementos que demandavam maiores esclarecimentos e deu umas desculpas um pouco fracas para certos acontecimentos, mas mesmo assim nada que seja fundamental para o bom entendimento. Além disso, Mezzo Forte recebeu uma continuação em anime, que explorou mais essas situações. Em Kite Liberator, não temos exatamente um final. Temos apenas Monaka encarando de frente, uma segunda vez, o seu pai em forma monstruosa regenerado depois da primeira luta. Como filha ela consegue trazer a sua consciência à tona e impedir o seu ímpeto destrutivo? Ela vai ser obrigada a lutar e eliminar o seu pai de uma vez por todas? Outra força vai ajudá-la? Sawa vai surgir do seu sumiço e prestar uma ajuda?

Detalhe de como a violência em Kite Liberator é pensada nos mínimos detalhes. Veja que a idosa é assassinada juntamente com o cachorro em seu colo com um único tiro. O animal é automaticamente decapitado no processo.

Essas são perguntas essenciais que demandam uma continuação, de preferência breve, da obra. Ao meu ver, um final em aberto tem que ser suave e não versar sobre pontos tão determinantes. Tem que fechar pelo menos um ciclo do enredo se não conseguir fechar a história de uma forma completa. Pelo menos tem que haver a conclusão de um arco. Kite Liberator simplesmente não terminou. Quando isso ocorre, eu me sinto de certa forma enganado. Não sei se Yasuomi Umetsu tinha na época (2008) a ideia de emendar uma continuação, seja em outro OVA ou em um anime televisivo. É possível? É. Mas não achei nada a respeito. Talvez a recepção de Kite Liberator não tenha sido tão positiva e uma possível continuação foi engavetada.

E tem a questão de alguns elementos do enredo que foram criados mas não levaram a lugar nenhum. Vamos remorar algumas coisas de Kite e Mezzo Forte. Em Kite, sabemos que seus pais foram mortos e ela deseja vingança, OK. Em Mezzo Forte, não sabemos nada do passado de Mikura, apenas que ela nunca ganhou a vida de um jeito fácil. Há alguns pontos sobre de quem ela é filha e tal, mas essa situação nem acaba se mostrando tão importante.

Uso de sombra e luz que é a marca registrada de Kite.

Já em Kite Liberator, sabemos que Monaka trabalha para uma “continuação” do esquema de assassinatos que ocorriam no tempo de Sawa. O próprio dono da cafeteria faz parte desse esquema. Mas como ela entrou nessa vida de crimes? O OVA tem a cara de pau de dar uns flashbacks rapidíssimos com apenas alguns frames para lá de inconclusivos, apenas insinuando que algo ocorreu quando ela era criança. Mas o que teria acontecido ninguém sabe. É estranho, em tese ela tem uma vida boa, tem familiares, mesmo que o pai trabalhe muito tempo fora. A mãe morreu, talvez tenha algo a ver com isso? O que a teria motivado? Ela tem uma estranha cicatriz nas costas. Ela sofreu uma acidente? Foi atacada por alguém?

Essa inconclusão é uma pena, Monaka é uma personagem interessante, mas não sabemos nada sobre ela. O que a move? Senso de justiça? Vingança? Prazer? Dinheiro? O que aconteceu no seu passado? Sawa era motivada por vingança. Mikura por dinheiro e aventura. E Monaka? A motivação de um personagem, por mais fraca que possa ser, ou até a sua ausência, é um elemento fundamental para uma boa caracterização. A falta de uma ideia clara sobre isso dificulta bastante a identificação com a personagem. Tem ainda a questão de que ela pega as missões de um cara fantasiado de bicho de pelúcia no parque. Gostei desse elemento, poderia ter sido bem explorado. Por isso que acho que Yasuomi Umetsu queria mesmo realizar uma continuação, ficou tanta coisa solta que não parece proposital no sentido de querer apenas abusar das pontas soltas. (Fim dos spoilers determinantes do enredo)

Misteriosa figura que repassa as missões para Monaka.

Vamos falar de coisas boas, Kite Liberator tem bastante também. A animação é muito bonita. Toda a franquia de Kite é um espetáculo visual de primeira. As cenas de luta ficaram muito boas e dinâmicas. Em questão de luta, Monaka se mostrou a mais bem capacitada, utilizando uma variedade de armas e técnicas. Um colírio aos olhos. O monstro espacial também não ficou ruim, as cenas de massacre foram brutais sem parecer um filme de terror B. O uso de elementos de computação gráfica, como no caso das naves e de alguns elementos espaciais, ficou bem feito para o padrão dos animes japoneses, ainda mais sendo algo de 2008.

O design dos personagens continua muito bonito, fico pasmo como Yasuomi Umetsu cria personagens femininas belas. A própria ambientação do anime voltou a ter aquele estilo noir do Kite clássico, mesmo que de forma muito menos abstrata e expressionista. Kite Liberator me pareceu menos cyberpunk, algo talvez mais industrial com elementos artísticos e decoração modernas

A decoração do quarto da Monaka mostra bem o estilo de Kite Liberator, uma mistura de tons sóbrios e elementos industriais, com decorações coloridas.

E como é de praxe, Yasuomi Umetsu deixou algumas referências de suas obras anteriores. Em uma cena um tanto bizarra, o professor resolve inspecionar as mochilas dos alunos. Eles deveriam colocar o que tivesse dentro em cima das mesas. Vemos coisas estranhas, como armas de airsoft e material pornográfico. Somente Monaka não possui nada que contrarie as normas da escola, o que é irônico já que ela é a que mais tem a esconder. Mas esse não é o ponto. O ponto é que vemos numa mesa ao lado dela uma figure da Mikura, protagonista de Mezzo Forte, essa vai para os mais atentos.

Outro ponto de discussão interessante é sobre Sawa. O nome do OVA é Kite Liberator, e qual o motivo desse nome? É uma continuação direta? Sawa aparece? É difícil ver Kite Liberator como uma continuação. Sawa é constantemente mencionada, como uma jovem e habilidosa assassina que estava na ativa alguns anos atrás e que matou o seu mentor e sumiu. Tem uma teoria, não destituída de fundamento, de que a colega de trabalho de Monaka na cafeteria, Manatsu Mukai, seja Sawa sob uma identidade falsa. E no que se baseia essa teoria?

Referência de Mezzo Forte em Kite Liberator. Detalhe na figure na mesa mais à esquerda, que mostra a protagonista da aludida obra.

Mukai se mostra extremamente habilidosa em defesa pessoal e artes marciais. Ela percebe com maestria a habilidade de Monaka ao se defender de um agressor, vislumbrando que a menina iria sorrateiramente enfiar uma caneta nele. Assume uma figura de conselheira para com Monaka, advertindo-a, embora não diretamente, que as ações dela poderiam colocá-la em extremo perigo. Dando a entender que sabia da vida dupla da menina. Mukai ainda tinha um filho pequeno, sendo mãe solteira. Por todos esses motivos foi levantada a ideia de que ela seria Sawa sob outra identidade.

Além disso, Mukai é uma mulher que realmente ninguém conhece o passado, e a criança até poderia ser filha de Oburi, o parceiro de Sawa na época que era assassina, ou mesmo do policial corrupto que a molestava. Tudo isso faz sentido nos próprios atos de Sawa em Kite, que realmente queria abandonar a vida de crimes e recomeçar do zero. Tem outra coisa ainda, Mukai significa “oposto”. Faz sentido se levar em conta que ela teria assumido uma vida nova totalmente diferente do seu modo de viver anterior.

Kamui seria ou não Sawa?

Basicamente era isso que eu tinha a escrever sobre Kite Liberator. Meu parecer final é que é uma obra que gera sentimentos mistos. O OVA tem várias coisas legais, pois Monaka é uma personagem com um potencial muito grande. A obra não soube trabalhar a enxurrada desordenada de temas expostos. O enredo espacial ficou realmente deslocado do restante da obra. Talvez uma sequência tivesse melhorado e solucionado várias pontas soltas. Mas já faz uns 12 anos do seu lançamento, e acho difícil, praticamente impossível, que tenhamos uma continuação direta. Bem, é possível que Yasuomi Umetsu ainda revisite a franquia de Kite, mas acho mais provável criar algo totalmente novo.

No mais, recomendo Kite Liberator apenas aos fãs da franquia, penso que não seria uma boa porta de entrada para Kite. Mas mesmos com os muitos problemas, me diverti bastante, pois como toda a franquia, tem um ritmo muito bom, com bastante ação e que proporciona uma diversão inegável. Agora só falta mesmo Mezzo DSA para fecharmos o ciclo. Até uma próxima.

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