Bartender: a dose certa para a alma

Aparentemente só mais um anime com um tema aleatório, Bartender pode surpreender aqueles mais atentos ao que o álcool representou e pode representar para a nossa sociedade

O que comemos é social e acho que não é difícil perceber isso. Enquanto a maioria dos brasileiros adoram carne (com exceção dos vegetarianos e veganos), na Índia, a vaca é sagrada [1]. Enquanto para nós cachorros são bichinhos de estimação adoráveis, se come sua carne em vários lugares do mundo [2]. Considerados nojentos por nós, insetos e ratos estão na base da refeição de muitos povos ao redor do mundo [3]. Enfim, se o que comemos é social, não haveria de ser diferente com o que bebemos. Nesse caso, não vou entrar em exotismos, mas, sim, no fato de que, por exemplo, o álcool foi proibido nos Estados Unidos de 1920 a 1933 durante a vigência da chamada “Lei Seca” [4]. Hoje soa estranho banirem algo tão comum em nossas vidas. Muitas pessoas vivem em função do álcool: além dos empresários que vendem bebidas, temos enólogos, sommeliers, barmen, baristas e bartenders [5]. É centrado nessa última profissão que se desenrola a narrativa de nosso anime de mesmo título.

Com um título que entrega seu assunto de bandeja, Bartender é sobre esse profissional personificado em Ryu Sasakura, um prodígio conhecido por fazer os melhores coquetéis que alguém pode provar. Irei analisar o anime de 2006, que tem 11 episódios (difíceis de serem encontrados em português, aliás [6]), mas cuja ideia original vem de um mangá de Araki Joh e Kenji Nagamoto. À primeira vista, pode parecer uma série dedicada a promover os gostos refinados do autor sobre suas bebidas alcoólicas favoritas. Mas trata-se de muito mais que isso: o anime aparentemente sobre bebidas, na verdade, é sobre poder conversar consigo mesmo e com os outros, é sobre poder parar e refletir sobre a vida.

Uma breve história do álcool

Antes de entrar no anime propriamente dito, gostaria de esboçar uma breve discussão sobre o álcool e seu consumo. Espero não entediar o leitor, mas minhas reflexões aqui serão necessárias durante minha análise do anime (embora não plenamente indispensáveis, então sinta-se livre para pular essa parte). Em primeiro lugar, o álcool é evidentemente um alterador de consciência e esse fato foi mal visto várias vezes durante a história tanto por questões morais quanto questões práticas. No primeiro caso, se encaixam alguns grupos religiosos e no segundo, econômicos.

Dentre os religiosos, o destaque vai para os protestantes ascéticos, conforme apontara Max Weber no seu famoso livro A ética protestante e o espírito do capitalismo. “Ascese”, segundo consta na obra, “é o controle austero e disciplinado do próprio corpo através da evitação metódica do sono, da comida, da bebida, da fala, da gratificação sexual e de outros tantos prazeres deste mundo” [7]. Quem conhece algum evangélico sabe que até hoje essa ideia persiste entre estes. A partir do conceito de que o corpo é o “templo do Espírito Santo”, justifica-se tal prática [8]. Em certo grau, essa ideia influenciou a implantação da “Lei Seca” nos Estados Unidos. O jornalista Michael Woodiwiss diz que a adoção da medida foi uma “reforma moral” que concentrava-se “em aspectos do comportamento pessoal das massas considerados impuros e indesejáveis nesse país ainda muito puritano” [9].

Mas a Lei Seca também teve influência do segundo grupo. A classe economicamente dominante temia a ingestão de álcool pois isso causava trabalhadores que não compareciam aos seus pontos de trabalho, argumentou Gramsci [10]. Não coincidentemente essa lei coincide com o período de consolidação do chamado “fordismo” como forma de organização do trabalho. Para além da linha de montagem e da divisão do trabalho, que são as características mais conhecidas desse modelo, seu criador, Henry Ford, também pregava uma disciplina quase ascética aos trabalhadores. Quando os trabalhadores estão insatisfeitos, ele combate isso ao dobrar os salários com relação aos concorrentes e impor um serviço social de regulação de hábitos dos trabalhadores: “o trabalhador deve dar provas de boa conduta, ou seja: não ser mulher, não beber, destinar seu dinheiro à família” [11].

Mais do que isso, o ato de ir ao bar é um momento em que os trabalhadores podem, de forma descontraída, conversar entre si [12]. E trabalhadores conversando sempre causou calafrios na burguesia, tanto que associações de trabalhadores foram proibidas durante um bom tempo [13]. Inclusive, diz Woodiwiss, que existiram discursos de que “a Lei Seca era essencial para manter ‘a paz e a ordem do Estado contra a anarquia e a revolução vermelha'” [14]. Beber é evidentemente uma atividade não-produtiva e isso de alguma forma fez alguns associarem a uma forma de vagabundagem, boicote e, de uma forma mirabolante, até ao comunismo. Pasmem.

Um bar não é só o lugar onde se bebe: é o lugar onde as pessoas se encontram, diz Bartender; de forma similar, Engels diz que o trabalhador é induzido a taberna “porque não há nenhum outro lugar para encontrar os amigos”

Não sou eu quem vai defender que beber é revolucionário. Seria tolice. Na verdade, o “braço direito” de Marx, Friedrich Engels, escreveu já nos primeiros anos da Revolução Industrial, em 1845, que o alcoolismo causava “efeitos destrutivos sobre os corpos e os espíritos” dos trabalhadores [15]. Hoje mais ainda, evidentemente, é uma indústria lucrativa e foi apropriada pelo próprio sistema. Mas todos esses elementos nos vão deixando claro um certo ódio ao álcool visto como uma “fuga da realidade”. Eis que temos o eixo central: a fuga da realidade. E que realidade é essa? A realidade incessante e frenética que nos conduz a sociedade de mercado. “Tempo é dinheiro”, diz o velho ditado. Não deve se perder tempo com tolices. E beber é uma delas. O poeta francês Charles Baudelaire, em 1869, retratou bem essa questão quando disse [16]:

“Deveis andar sempre embriagados
Tudo consiste nisso: eis a única questão
Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo,
que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão,
é preciso que vos embriagueis sem descanso
[…]
É a hora de vos embriagardes!
Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos!
Embriagai-vos sem cessar!
Com vinho, poesia, virtude!
Como quiserdes!”

Portanto, beber não é só beber, como nos dirá Bartender. Afinal, quando se vai num bar, por mais que se goste de cerveja, se vai para conversar. Não estou negando que as pessoas realmente gostem de cerveja, mas, para além disso, dizendo que também têm uma necessidade de interação social. Do contrário, bastaria comprar as cervejas e levar pra casa, né? E, se beber é sobre conversar, é conversar sobre o que? Sobre as mágoas, sobre os dilemas da vida, sobre esse mundo que “continua aí, mas por um momento não te segura mais pela garganta”, como diria o mais boêmio dos poetas, Charles Bukowski [17]. Beber “deixava o mundo menos óbvio” e “cria uma quebra na mesmice da rotina”, ainda segundo Bukowski [17].

E se beber pode ser uma fuga da realidade, da rotina, etc. É uma fuga de quê exatamente? Deixo essa resposta para Engels [18]: “Todas as ilusões e tentações se juntam para induzir os trabalhadores ao alcoolismo. A aguardente é para eles a única fonte de prazer e tudo concorre para que a tenham à mão. O trabalhador retorna à casa fatigado e exausto; encontra uma habitação sem nenhuma comodidade, úmida, desagradável e suja; tem a urgente necessidade de distrair-se; precisa de qualquer coisa que faça seu trabalho valer a pena, que torne suportável a perspectiva do amargo dia seguinte”.

Ou seja, as condições de vida que o capitalismo impõe a classe trabalhadora levam boa parte dos trabalhadores a essa situação. O rap brasileiro também retratou diversas vezes esse fenômeno de forma significativa, com músicas inteiramente dedicadas ao assunto como “Um Gole de Veneno” do grupo Facção Central e “+1 Dose” de Gabriel, o Pensador. O famoso “Castelo de Madeira”, de A Família, sintetiza bem várias ideias já discutidas nesse texto: “Hoje já choveu oh, mô neurose / Nem costumo beber, até tomei uma dose / Talvez pra clarear ou esconder os problemas”. Sem a mesma perspectiva de classe do rap, o sertanejo e em especial o sertanejo universitário também quase sempre associam o álcool a um momento de tristeza do qual se precisa esquecer ou “fugir”.

 

O álcool serve para não não “serdes escravos martirizados do Tempo”, diria Baudelaire; para quebrar a “mesmice”, segundo Bukowski; e, para “esquecer toda a exaustão do dia”, diz o anime

 
 

“Bares são hospitais para a alma”

Diante do apresentado, temos três grandes posturas (que tem algumas confluências entre si, verdade seja dita) com relação ao álcool: 1) a resposta ascética cristã e protestante que vê o álcool negativamente como algo “mundano” e desvirtuador; 2) o ideário da regulação da força de trabalho fordista que vê a bebida como algo ruim pois é uma distração para o trabalhador; e 3) a leitura de que o álcool constituí uma “fuga da realidade” e uma busca por prazer na vida, o que pode ser visto tanto negativamente (como no caso de Engels) ou como positivamente (como Baudelaire e Bukowski o viam). O anime adota claramente essa última perspectiva na sua versão mais otimista. Procurei demonstrar isso nas próximas linhas.

Na própria abertura do anime já vemos esse viés com versos como “Derrotado no amor, atacado no trabalho”. E, de fato, a maioria dos “causos” desse anime episódico (o que permite que você não precise seguir a ordem dos episódios) se centra em pessoas frustradas com seus empregos ou romances. A maioria se foca na primeira questão, o que pode ser explicado por uma obsessão do autor do mangá em obras sobre profissões comuns possivelmente voltadas ao público que os japoneses chamam de “salaryman”, ou seja, o trabalhador assalariado médio. Apesar de outras obras com nomes ligados a bebidas como Sommelier, Cocktail e Champagne, Araki Joh também escreveu mangás focados em garçons (Garçon), chefes de cozinha (Oui Chef!), comissários de bordo (Air Port) e funcionários de hotel (Hotelier).

 

A própria abertura já preanuncia um traço comum das diferentes narrativas: frustrações com o trabalho ou o amor

Outro traço comum das narrativas é o remorso com algumas decisões tomadas, sendo que a maioria delas é em relação ao trabalho, como não se sentir bem na profissão em que se está (eps. 1, 5, 7 e 10); brigar com pessoas por causa do trabalho (ep. 2); priorizar o trabalho em vez da pessoa amada (eps. 3 e 4); ou vender seus ideais ao mercado (ep. 6). Os clientes frustrados com esses problemas encontram na figura do bartender Ryu um quase-psicólogo disposto a ouvir seus problemas e preparar a bebida adequada. E a função do drinque é despertar no cliente o sentimento de começar uma conversa introspectiva consigo mesmo, como li em uma ótima review [19], que me fez querer reassistir o anime mais atentamente.

Como diz o próprio anime, no bar, o cliente “está conversando com seu próprio coração e o seu próprio passado”. “Por isso, o principal trabalho de um bartender é ouvir as histórias de seus clientes”. Ouvindo uma dessas sobre remorso, por exemplo, o nosso protagonista responde contando uma de um bartender que matou a namorada acidentalmente enquanto caçava. Ele nos mostra como as bebidas também são produzidas a partir de sentimentos: “Mas o remorso que aquele bartender carregou consigo por anos… fez nascer um coquetel único”. Ao extrapolar essa ideia, temos que nossas ações são frutos dos sentimentos pelos quais passamos e que remorso é uma palavra sem sentido. Afinal, conclui o cliente, “os remorsos que eu tenho é o que eu sou hoje”, em uma afirmação que lembra bastante um trecho de “Lanterna dos Afogados” de Paralamas do Sucesso: “São tantas marcas que já fazem parte do que eu sou agora”.

O bartender do anime é apresentado como um quase-psicólogo que ajuda o cliente a conversar “com seu próprio coração e o seu próprio passado”

O bartender é apresentado para além de um simples profissional que serve bebidas; ele tem que conhecer o ser o humano do outro lado, conversando e observando. Por exemplo, é inadmissível que se prepare uma bebida sem saber se a pessoa comeu ou não, como vemos na gafe de um iniciante no primeiro episódio. Vemos também que o experiente Ryu pode entender os sentimentos de alguém e até descobrir se a pessoa está mentindo só de prestar atenção na postura corporal do cliente, como mostrado no oitavo episódio.

Bartender, através de sua narração calma e seus personagens, nos brinda com frases como “Abrir o coração dos clientes é o trabalho de um bartender” e tantas outras sobre como a bebida “cura a alma”, renova sentimentos e “corações enferrujados”. No extremo, afirma-se que “todo coquetel esconde em si a magia para mudar um pouco a vida do cliente” e que “Bares são hospitais para a alma”. Um pouco piegas, eu sei, você pode estar pensando. De fato, é uma linha tênue entre ser melodramático e reflexivo, mas acho que ela não é ultrapassada por que o anime distribui bem suas doses de entorpecimento.

Bartender insiste que sempre existe a dose certa para curar as almas mal tratadas desse mundo

 

Embora o anime de fato seja “uma carta de amor ao licor” [19], não é como se fosse afirmado que é a bebida em si que faz a pessoa frustada melhorar. O que renova os sentimentos é a interação social. Embora o tato social de um bartender seja elevado a enésima potência e sua função seja um tanto quanto romantizada na obra, o fato é que o anime retrata um pedaço significativo da realidade ao por sua ênfase na troca de experiências entre os seres humanos. De fato, é dito que o que importa num drinque é “com que você irá apreciá-lo”. O quinto episódio, em especial, enfatiza isso quando o cliente principal diz: “Quando se é obrigado a acompanhar um chefe desagradável, qualquer bebida deliciosa se torna amarga”.

Além disso, apesar de muito brevemente, a própria série faz um contraponto a idealização da função desse profissional no sétimo episódio. Uma advogada frustrada com seu emprego diz: “Bartender é outro trabalho de merda em que um ganha dinheiro por aguentar as porcarias dos outros”. De fato, ela não está errada; a simpatia a todo momento de Ryu é simplesmente sobre-humana. No mundo real, como analisou Arlie Russel Roschild em The Managed Heart (algo como “O Coração Administrado”), empregos que envolvem o atendimento direto ao público, dentre eles garçons e recepcionistas, envolvem a “comercialização dos sentimentos humanos. É preciso que o trabalhador, segundo ela, assuma uma “segunda natureza” de auto-controle para se manter sorrindo, por exemplo, em situações difíceis [20].

Considerações finais

Bartender pode ser, em alguns momentos, um pouco piegas e apresentar uma visão um tanto romantizada do álcool e da profissão de bartender. No entanto, o essencial do anime pode ser visto no seu trato das relações humanas, que se escondem por detrás dos encontros nos bares. Assim, a série consegue ser ao mesmo tempo simples e divertida por ser sobre álcool e estórias cotidianas, mas também pode ser analisada mais profundamente a partir das perspectivas do mundo real sobre o álcool.

No mais, Bartender apresenta curiosidades legais sobre as bebidas, como ao explicar que o formato de uma garrafa está relacionado a uma associação entre a tartaruga e o bom presságio entre os japoneses. E o próprio anime responde o porquê de trazer essas curiosidades: “o motivo é que aprendendo a história dos produtores e a cultura em cada garrafa, um amor pela bebida nasce”. E nessa frase temos a confirmação de que o anime valoriza não a bebida por ela mesma, mas sim a análise da mesma dentro de seus contextos histórico-culturais.

Uma “carta de amor” às bebidas, certamente, mas não somente, o anime se preocupa em entender como as bebidas são produtos humanos com contextos históricos e culturais

Notas
[Nota 1: Ver o artigo “Gado em religião”, da Wikipédia e/ou seu correspondente em inglês (para quem souber a língua, claro, pois está mais completo), “Cattle in religion and mythology”.]

[Nota 2: Idem do que eu disse acima; “Carne de cachorro”, na Wikipédia em português; e “Dog meat”, em inglês.]

[Nota 3: Muitas vezes por necessidade, outras vezes por ser tido como “exótico”. O primeiro caso geralmente acontece na maior parte do mundo – Oceania, Américas, África e Ásia – enquanto o segundo é mais comum na Europa e nos Estados Unidos. Acho que as histórias econômicas desses países dizem muito sobre isso, mas não pretendo formular nenhuma afirmação antropológica ou sociológica a respeito, até porque pesquisei muito pouco. Mas fui o que pude perceber nas minhas pesquisas. Recomendo, nesse sentido, essa matéria que diz: “Estas são algumas características que fazem dos insetos uma boa opção alimentar no combate à fome, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação”. É possível encontrar larvas italianas, mas, na verdade, eles comem o queijo; temos um pirulito com verme vendido nos EUA, mas novamente o inseto é acessório; e no chocolate inglês com formigas não se come o inseto diretamente. Ratos são comidos em diversos países como Índia, Camboja, Laos, Myanmar, Indonésia, Filipinas, Tailândia, Gana, Moçambique, China e Vietnã.]

[Nota 4: Recomendo essa interessante sátira de Stuart McMillen a esse respeito. Trarei também mais a frente alguns comentários de Michael Woodiwiss no livro Capitalismo gângster.]

[Nota 5: Eu também tive que pesquisar a diferença, confesso. Para quem quiser saber as diferenças, recomendo esse e este link.]

[Nota 6: Eu assisti o anime pela primeira vez em 2015 pelo finado AniTube; mais tarde, fui reassistir para fazer esse texto, mas assisti dois episódios apenas online no AnimesVip até não conseguir mais abrir os outros. Depois disso, consegue fazer o download dos episódios por meio do Malkav Animes, que já me salvou com relação ao outro anime, Human Crossing, também.]

[Nota 7: WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Trad. José Marcos Mariani
de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. pp. 279-280. Grifo meu.

Sobre os calvinistas, segundo o historiador Voltaire Schilling, “Eram homens e mulheres probos. Fugiam com temor da bebida e do fausto. Tinham horror ao luxo. Até a culinária deles era insossa”.

“Lutero abria espaço para a espontaneidade na existência – e para o impulso do sentimento ingênuo, ao passo que, segundo os puritanos, a vida inteira devia ser moldada de maneira sistematicamente racional. Compreende-se, assim, que nas cortes dos príncipes protestantes luteranos fossem tolerados a bebida e até mesmo costumes grosseiros. Numa família calvinísta puritana, ao contrário, tais comportamentos viam-se totalmente excluídos: o rigor pessoal de cada um repercutia no conjunto da família (no sentido amplo), até comprimir toda emoção ou, pelo menos, não a deixar transparecer.” — Consciência.org]

[Nota 8: Diversos sites evangélicos discutem sobre isso. Para quem quiser saber sobre os motivos, veja o Verdade Gospel, o JW.org (site internacional das Testemunhas de Jeová) ou que o famosíssimo Silas Malafaia tem a dizer.]

[Nota 9: “Por volta do início do século XX, muita gente havia apoiado a maré de reforma moral que efetivamente desviou a atenção do poder e comportamento das grandes corporações, concentrando-a em aspectos do comportamento pessoal das massas considerados impuros e indesejáveis nesse país ainda muito puritano. Assim, muitas fortunas oriundas dos negócios foram usadas para financiar campanhas que procuraram erradicar o álcool os jogos de azar, o sexo comercializado e o uso de certos tipos de drogas como a heroína e a cocaína” (WOODIWISS, Michael. Capitalismo gângster: quem são os verdadeiros agentes do crime organizado. Trad. C. E. De Andrade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 16).]

[Nota 10: GRAMSCI, Antonio. “Americanismo e fordismo”. In: Cadernos do cárcere, v. 4. Trad. Carlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.]

[Nota 11: GOUNET, Thomas. Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel. São Paulo: Boitempo, 1999, p. 20. Grifo meu.]

[Nota 12: “Seu corpo enfraquecido pela atmosfera insalubre e pela má alimentação requer imperiosamente um estimulante externo; a necessidade de companhia só pode ser satisfeita numa taberna, porque não há nenhum outro lugar para encontrar os amigos.” (ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010. p. 143.)]

[Nota 13: “Não é difícil prever qual das duas partes, normalmente, leva vantagem na disputa e no poder de forçar a outra a concordar com as suas próprias cláusulas. Os patrões, por serem menos numerosos, podem associar-se com maior facilidade; além disso, a lei autoriza ou pelo menos não os proíbe, ao passo que para os trabalhadores ela proíbe. Não há leis do Parlamento que proíbam os patrões de combinar uma redução dos salários; muitas são, porém, as leis do Parlamento que proíbem associações para aumentar os salários.” (SMITH, Adam. A riqueza das nações. Trad. Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 119.)]

[Nota 14: WOODIWISS, p. 16.]

[Nota 15: ENGELS, 2010, p. 142.]

[Nota 16: “Charles Baudelaire: Embriagai-vos! Deveis andar sempre…” Pensador.com, s/d.]

[Nota 17: LEONARDI, Amanda. “As 10 melhores citações de Bukowski sobre beber”. Notaterapia.com, 09/08/2016.]

[Nota 18: ENGELS, 2010, p. 142-143. O resto vale a pena ser lido também, mas para não encher demais o texto, vai aqui: “Nessas circunstâncias, como poderia o trabalhador deixar de sentir a atração da bebida, como poderia resistir à tentação do álcool? Em tais circunstâncias, ao contrário, a necessidade física e moral leva uma grande parte dos trabalhadores a sucumbir ao álcool. E, prescindindo das condições físicas que induzem o trabalhador a beber, o exemplo da maioria, a educação deficiente, a impossibilidade de proteger os mais jovens contra essa tentação, a frequente influência direta de pais alcoólatras (que oferecem aguardente aos próprios filhos), a certeza de esquecer, ainda que por algumas horas de embriaguez, a miséria e o peso da vida – esses e cem outros fatores que operam tão fortemente não nos permitem, na verdade, censurar aos operários sua inclinação para o alcoolismo. Nesse caso, o alcoolismo deixa de ser um vício de responsabilidade individual; torna-se um fenômeno, uma consequência necessária e inelutável de determinadas circunstâncias que agem sobre um sujeito que – pelo menos no que diz respeito a elas – não possui vontade própria, que se tornou – diante delas – um objeto; aqui, a responsabilidade cabe aos que fizeram do trabalhador um simples objeto.”]

[Nota 19: “Bartender insists the right drink at the right time (‘The Glass of the Gods’) is about starting an earnest conversation with oneself” {Trad. livre: “Bartender insiste que a bebida certa na hora certa (o copo dos deuses) é o mesmo que começar uma conversa série consigo mesmo} in: INK. “Drunken Otaku: Bartender (Anime)”. Ani-Gamers, 04/04/2015.)]

[Nota 20: Infelizmente o livro não foi traduzido do inglês, mas pode ser encontrado aqui. Por outro lado, já há uma ampla discussão em português sobre “trabalho emocional”. Dê um Google se te interessar.]

 

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