Fazendo jus ao meu histórico de apresentar obras bem bizarras, vou escrever sobre um mangá que chamou muito a minha atenção recentemente, Babel no Toshokan, que pode ser traduzido como A Biblioteca de Babel.
O título pode ser curioso mas não é original, é tirado literalmente de um dos contos mais famosos do escritor argentino, ícone do realismo fantástico, Jorge Luis Borges, sobre uma biblioteca fictícia que pode conter tudo que já foi escrito e será escrito. Babel no Toshokan não é uma adaptação deste conto, mas garanto que possui uma relação bizarra com as palavras da mesma forma que o conto do famoso escritor argentino.
Já vou alertar os leitores por aqui, esse é um texto um pouco diferente, ele não é basicamente uma análise da obra. Tirando os próximos parágrafos sobre os dados técnicos da obra e sua sinopse, me vi movido a fazer uma extensa análise sobre diversas referências citadas neste pequeno, mas muito significativo mangá, então o texto ficou um pouco maior que a minha média recente, bem como com várias revelações do enredo, os famosos spoilers, mais para o meio/final do texto. Espero a compreensão de todos, mas não é todo dia que um mangá proporciona uma reflexão tão instigante como Babel no Toshokan.
O mangá apresenta uma enxurrada de referências à filosofia e à literatura, mas antes de entrar neste ponto, vou falar um pouco sobre a obra. O mangá que data de 2012 foi lançado originalmente na revista Manga Erotics F, publicação que já trouxe grandes nomes do mangá, como Inio Asano, Usamaru Furuya, Hiroaki Samura, Shintaro Kago e Jiro Matsumoto. Babel no Toshokan possui apenas um volume, ou seja, é um one-shot. Além disso, ele é dividido em dez capítulos. Sua autora, conhecida simplesmente por Tsubana, já publicou alguns outros mangás bem curiosos, nada ainda famoso, mas presumo que seja de qualidade. E por sinal, ela foi assistente de Masakasu Ishiguru.
A sinopse de Babel no Toshokan é basicamente a seguinte: Temos dois personagens apenas, os quais são obviamente os protagonistas, Watase, um garoto que sempre fica “na dele”, sem querer chamar atenção. Entretanto, ele possui um curioso poder sobre as palavras, basicamente ele consegue ler cartas e textos sem olhá-los diretamente e reproduzir exatamente o seu conteúdo, além disso Watase pode também copiar provas e o que estejam escrevendo em sua proximidade. Não parece que ele tenha desenvolvido esse poder, mas que já tenha nascido com ele.
Temos também Aiba, uma menina que “acredita”, prestem bem atenção nesta distinção, possuir poderes de percepção extrassensoriais, ou seja, ela acredita que o mundo em que vivemos é falso, uma miragem para aprisionar as pessoas e que é possível acessar esse outro mundo praticando ações que desafiem a lógica. Esse outro mundo ela denomina de mundo dos anjos, pois quando criança teria observado um anjo. Nota-se que Watase possui um interesse romântico em Aiba.
Os dois protagonistas se encontram em um contexto bastante específico, quando ambos vão parar na diretoria por terem escrito uma redação exatamente idêntica, palavra por palavra. Claramente Watase usou seu poder para copiar a redação de Aiba. Os dois são obrigados a reescrevem suas redações e disso se desenvolve uma curiosa relação. Eles vão para a biblioteca reescrever seus textos, conversa vai, conversa vem, Aiba realiza um teste, escreve algo em um papel e pede para Watase escrever também, e ele escreve a mesma coisa, algo sobre o “caminho dos anjos”.
Isso impressiona Aiba profundamente, que passa a pensar que Watase e ela estão ligados pelo destino em virtude das coincidências quase impossíveis, e que ele é o “portal” que permitirá ela conhecer o mundo “real”. E a partir daí os dois embarcam em uma estranha jornada em busca do mundo dos anjos. Naturalmente Watase esconde de Aiba que ele usou a sua habilidade, e por mais que ela seja estranha, ele sabe que a está enganando e o que ocorreu não foi uma mensagem dos anjos, mas seja como for, manter a mentira o faz ficar perto da garota que gosta.
O que parece ser um romance comum com aspectos sobrenaturais toma tons muito mais sérios e psicodélicos ao longo dos capítulos. Nem dá para traçar uma linha de acontecimentos como uma história normal, os acontecimentos se tornam desconexos e perdem sua linha temporal sólida, misturando ilusão e realidade em uma confusa sequência de capítulos. Eu li duas vezes seguidas o mangá para poder escrever esse texto, e não acho que eu tenha abarcado todas as suas mensagens.
Admito que este tipo de obra possa ser de difícil apreciação, já que nem todos apreciam uma narrativa com tal complexidade e a própria descontinuidade argumentativa quebra muitas vezes o ritmo do mangá. Mas isso é questão de gosto, eu pessoalmente curto bastante este tipo de narrativa fora do comum justamente pelas referências e originalidades apresentadas.
Acho que a principal referência diz respeito à obra A Biblioteca de Babel de autoria do escritor argentino Jorge Luis Borges. Difícil narrar em poucas palavras a importância desse escritor que viveu muito e escreveu copiosamente e com qualidade, sendo um dos maiores expoentes do realismo fantástico, sua erudição e conhecimento geral é notável. Embora eu seja um fã de sua obra, não estou dando elogios vazios, já que ele faz jus à fama que recebeu. Sua prosa é elegante e cheia de referências na maioria das vezes inteligentíssimas, uns dos seus contos mais famosos são O Aleph e o Livro de Areia.
Jorge Luis Borges |
Mas vamos falar do conto que inspirou esse mangá, A Biblioteca de Babel. E esse conto não tem muito a ver com o mangá, pelo menos não diretamente. Neste conto, Jorge Luis Borges criou uma biblioteca infinita que abrigaria todos os livros possíveis, isso mesmo, e tirando as implicações físicas que impossibilitam a sua criação, o conceito faz sentido, por mais estranho que possa parecer, pois a biblioteca conteria todas as combinações possíveis das letras do alfabeto, então em algum lugar dela você encontrará todos os livros já escritos e os que ainda serão, até mesmo um rabisco seu qualquer ou uma lista de compras.
A história se inicia com uma complexa descrição da arquitetura do ambiente, formado em suas próprias palavras por “um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por balaustradas baixíssimas”. Basicamente a biblioteca se pareceria com isso, conforme desenhos feitos por um blogueiro, muito interessantes por sinal (https://boingboing.net/2016/10/14/modelling-borgess-library-of.htmlhttps://boingboing.net/2016/10/14/modelling-borgess-library-of.html):
Eu poderia dizer que é impossível achar qualquer coisa nessa biblioteca ou até mesmo criá-la, mas uma versão virtual dela pode ser mais fácil de existir, e uma pessoa chamada Jonathan Basile criou justamente um site para a biblioteca, onde podemos procurar qualquer coisa nas praticamente infinitas estantes da biblioteca de Babel, bastando digitar o que se procura. Vou dar um exemplo: digitei o título do mangá em japonês “Babel no Toshokan” e posso encontrar a citação no livro “x,k tlykmhs” na página 150 que se encontra na estante “24hkjascnfft039th9wx21ueeltg5llnxi3l6ps72d50e6gum4…-w2-s5-v02” e por aí vai, há mais incontáveis localizações desta citação!
E vou compartilhar o link do site para vocês brincarem um pouco! Ele é muito interessante, além da biblioteca ele apresenta outros jogos e informações interessantes extraídas da obra de Jorge Luis Borges! https://libraryofbabel.info/search.cgi
Essa é a biblioteca de Babel e como ela se encaixaria no mangá? Watase teria o dom de possuir ou acessar automaticamente essa biblioteca, ele teria acesso a toda combinação de caracteres possíveis, sendo que pode achar qualquer coisa quando bem queira, especialmente quando alguém lhe manda algo ou está escrevendo em suas proximidades. Mas acho que a principal ligação entre o mangá que o famoso conto de Jorge Luis Borges esteja justamente na importância e força das palavras e como elas determinam uma parte muito importante de nossa existência.
Lançando mais uma curiosidade e citando mais um grande e eloquente escritor, a biblioteca labiríntica presente na obra O Nome da Rosa, do escritor italiano, já falecido, Umberto Eco é bastante inspirada na biblioteca de Babel criado por Jorge Luis Borges, principalmente pela sua natureza labiríntica. Curiosamente bibliotecas e labirintos são bastante interligados na ficção, justamente pela possibilidade de nos perdermos em um labirinto de palavras. O escritor alemão percussor da ficção científica, Kurd Lasswitz já havia escrito em 1901 uma história chama de A Biblioteca Universal.
Biblioteca labiríntica de O Nome da Rosa |
Mas qual o motivo do mangá ser chamado de “Biblioteca de Babel” e como o poder de Watase se relaciona com tudo isso? antes de apresentar a minha teoria sobre isso e outras coisas, vou adentrar ainda mais a fundo sobre outras referências muito interessantes que consegui extrair dessa obra.
Durante todo o mangá Aiba encara Watase como uma forma de “portão”, por onde ela pode atravessar para encontrar a realidade das coisas. E sempre o rapaz é mostrado como um vazio, uma espécie de vácuo quando há essas menções. É interessante ela chamá-lo de portão, isso nos dá umas analogias interessantes. Lembrando a obra de H. P. Lovecraft, o pai do Terro Cósmico, podemos retirar de seu horrendo panteão galáctico a figura de Yog Sothoth, uma massa globular de poderes incomensuráveis que vive em uma dimensão diversa da nossa e que somente por fortíssimos rituais pode se manifestar parcialmente no mundo real.
Essa divindade de extremo poder serve como um portal para dimensões diversas da nossa e o próprio Yog Sothoth é chamado de portão, vejamos então esse trecho de O Horror de Dunwich: “Nem é para ser pensado… que o homem não é nem o mais velho e nem o último mestre da terra, ou que o amontoado de vida e substancia andam sozinhos. Os Antigos eram, Os Antigos são e Os Antigos irão ser. Não nos espaços que conhecemos, mas entre eles, eles andam serenos e primários, unidimensionais e para nós invisíveis. Yog-Sothoth conhece os portões, Yog-Sothoth é o portão. Yog-Sothoth é a chave e o guardião do portão. Passado, presente, futuro, são um só em Yog-Sothoth. Ele sabe onde Os Antigos ressurgiram no passado e sabe onde eles deverão ressurgir novamente…”
E falando de dimensões diversas, Aiba acredita que eles vivem em um mundo ilusório, o que consideramos real é apenas uma enganação, e a verdade estaria oculta, sendo acessível apenas para alguns iluminados ou escolhidos que percebessem esse véu de enganações. E esse conceito é interessante, pois segundo a tradição hinduísta, há o que se chama de Véu de Maya, que seria a ilusão que constituiria a natureza do nosso universo.
Não se pode esquecer também da questão do gnosticismo, que foi amplamente abordado nestes dois artigos no próprio Dissidência Pop, e que exerceu e exerce forte influência na ficção contemporânea: GNÓSTICOS SONHAM COM ROBÔS GIGANTES? O CRESCIMENTO DO GNOSTICISMO NOS ANIMES JAPONESES. PARTE 1. e GNÓSTICOS SONHAM COM ROBÔS GIGANTES? O CRESCIMENTO DO GNOSTICISMO NOS ANIMES JAPONESES. PARTE 2. Além disso, nestes artigos, quem tiver interesse, pode conhecer alguns conceitos sobre essa corrente de pensamento que foi desde uma série de variadas e sincréticas heresias cristãs ao longo dos primeiros séculos depois de Cristo até atingir um estado de seita quase esquecida atualmente.
Segundo o gnosticismo o nosso mundo é controlado por uma divindade inferior chamada Demiurgo e seus agentes. Estes anjos criaram um véu de ilusão sobre todos quem eles almejam dominar. No gnosticismo clássico, o personagem de Deus do Antigo Testamento foi o favorito modelo de Demiurgo. Mesmo que nem sempre o Demiurgo tenha que necessariamente ser um vilão, na moderna ficção ele pode ter a forma de uma entidade opressora diversa, incluindo alienígenas, inteligências artificiais ou instituições humanas. Tudo se resume a questão do controle versus a liberdade humana.
Curiosamente em Babel no Toshokan, Aiba acredita ter que encontrar o “caminho secreto dos anjos”, e consequentemente anjos são considerados servos do demiurgo e mantenedores da ilusão. Aiba acredita então, que por meio de ações aparentemente desconexas do senso comum pode abrir um portal para fora da ilusão. E é um tema recorrente nos mitos gnósticos a figura de um símbolo como um cálice como o Graal, a pedra filosofal dos alquimistas ou um portal, que permita o acesso ao verdadeiro conhecimento, e para Aiba, Watase seria justamente esse portal.
Mas voltando um pouco para o Watase e sua “biblioteca de Babel”, e saindo das reflexões exotéricas, segundo a autora, as palavras exercem extrema importância dentro do mangá, acho que isso já ficou claro né? Mas nem só no curioso poder de Watase se resume isso. Em vários momentos a autora deixa claro a importância do que se é escrito em nossa sociedade. Por exemplo, no caso das notas escolares, a pessoa pode ser até mesmo um aluno medíocre, mas se por coincidência ou sorte acertar as questões na prova do vestibular ou qualquer outra, é a nota que vale, enquanto um aluno, mesmo capacitado e esforçado, por um infortúnio não conseguiu se sair bem na prova, perde o seu lugar. É o que está escrito no boletim ou no resultado da prova que importa, e não o real. Seria uma “ditadura dos caracteres”. E esse domínio se estende a contratos, apólices, termos, cheques, etc…
Mesmo sendo um exemplo drástico, também atinge no ponto em que diz que o mundo que consideramos real não é exatamente real, já que precisamos de caracteres ou sinais para tentar compreendê-lo. Outra citação curiosa é quando se menciona que a única coisa real em um sonho são as palavras pelas quais os descrevemos. Assim sendo, as palavras seriam tanto uma prisão como um meio para se tentar compreender esse e outros mundos. Sendo isso ou não, o fato é que a escrita, bem como a fala, nos possibilitou uma interação com os outros seres humanos e sem isso não teríamos chegado no grau de civilização que temos hoje.
Continuando sobre o tema da interpretação do mundo, interessante citar a maneira como Aiba percebe o mundo que considera irreal. É difícil separar o que são seus atos reais e seus devaneios, mas se dá para perceber que ela é muito criativa, criando narrações poéticas para as suas vivências, construindo cenários fabulosos em sua mente, como quando ela faz um interessante paralelo com um dia de calor absurdo com uma bruxa do fogo, deixando a mensagem que a bruxa/calor pode revelar a verdadeira face das pessoas, como um “descortinador” da verdade, mostrando os que reclamam gratuitamente, e aqueles que querem apenas esconder suas intenções.
É curioso analisar Aiba, ela nem sempre parece condizente com seus ideais, mas isso em um primeiro momento apenas. Há uma ocorrência onde os alunos tinham que desenhar uma bola na aula de artes, o melhor desenhista da sala deixa de receber o primeiro lugar em detrimento de Aiba, mesmo que o desenho dela seja inferior. O curioso é que mesmo o desenho o rapaz sendo melhor, ele aplicou efeitos de iluminação no objeto, ocorre que a esfera era opaca. Aiba desenhou exatamente como viu o objeto. O professor destacou que a tarefa era desenhar como se vê e não como se imagina. Avalio essa situação como uma amostra de como Aiba lida com o mundo real, buscando se adequar a ele na frente dos outros, bem como não se deixando enganar com falsas distorções que estejam fora do seu “caminho dos anjos”.
E nem mesmo uma das técnicas narrativas mais comuns da ficção a autora abriu mão de usar no mangá! A arma de Tchekhov! Técnica batizada pelo seu criador, renomado escritor russo, que consiste que quando aparece de um objeto aparentemente insignificante em uma história, ele mais tarde será importante e decisivo, como uma arma na parede que aparece no primeiro capítulo. Mas não é esse o caso. Em Babel no Toshokan, desde os primeiros capítulos somos expostos ao noticiário, bem como avisos na escola, nada aparentemente relacionado ao enredo, mas que seguiam uma mesma linha, a de que marginais esfaqueadores estariam rondando a cidade. E Watase não é justamente esfaqueado por Aiba no final da obra?
Confesso que já estava pensando que estas notícias teriam uma significação, mas não como ocorreu, foi uma arma de Tchekhov pela metade, já que Aiba não era a esfaqueadora que estava rondando pela cidade. Ou melhor dizendo, a arma de Tchekhov era o símbolo do esfaqueamento, não o seu ato. E curioso que esse ato, dados os sinais inclusos desde o começo do mangá, era o ato decisivo do mangá. Aiba descobre a farsa criada pelo poder de Watase e tresloucada o mata, acreditando que ele era apenas um empecilho “servo do demiurgo” se eu puder chamar assim, responsável por atrapalhá-la em sua busca pelo mundo real. Aiba acreditava que com isso veria o mundo como ele era realmente.
Com esse ocorrido, consigo, pelo menos penso que consegui, traçar o paralelo entre Watase e a Biblioteca de Babel. Watase é a biblioteca de Babel, o outro universo criado com outra trama de acontecimentos é apenas uma outra sala da biblioteca infinita, e realmente ele era a porta e a maneira de abri-la era justamente esfaqueando-o e matando-o naquele universo. E isso tráz implicações da teoria quântica de uma forma bem criativa, já que neste especulativo ramo da física, acredita-se que existe a possibilidade de se terem incontáveis universos paralelos, alguns muito semelhantes ao nosso e outros completamente diferentes. Ou seja, para cada escolha feita há o surgimento de uma novo universo para cada possibilidade, e talvez o outro mundo que a Aiba procurava fosse o apenas um lugar onde as possibilidades que não se tornaram realidade puderam se materializar. Não haveria um mundo falso e outro verdadeiro, mas apenas diferente.
Mas Babel no Toshokan também é um romance juvenil, como eu disse no começo do texto, ou pelo menos essa é mais uma de suas interpretações. Onde Aiba seria como fosse a leitora da biblioteca de Babel, que é Watase, e nele se incluiriam todos os finais, felizes e tristes, bem como a inevitabilidade do encontro dos dois, algo como o destino. Tanto é que no outro mundo criado após a facada ambos se encontram em condições muito mais amigáveis e normais.
E tudo isso que escrevi são só possibilidades, a obra é complexa e admite diversas outras interpretações. Contudo, creio que esse mistério pode ser um pouco iluminado pelas palavras da própria autora, Tsubana, no final do manga, onde ela divide com os leitores as motivações da obra. E diga-se de passagem, bastante reveladoras. Na minha opinião, parece que Babel no Toshokan foi um amontoado de ideias e conceitos que a autora quis incluir em um mangá de forma caótica.
Segundo suas palavras, a autora sempre pensava quando criava suas obras nos personagens que não usou e nos finais e decisões também não usados. Todas essas possibilidades flutuavam na sua mente como se existissem em um mundo diverso, pelo menos esse era o seu sentimento. E foi com esse pensamento em mente que criou Babel no Toshokan. Eu pessoalmente gostei muito dessa motivação, pode não ter criado a mais coesa das narrativas, mas creio que seja inegável a geniosidade deste mangá.
O maior mérito de Babel no Toshokan é falar tanto com tão pouco espaço (apenas um volume). Também não é um mangá para todos, definitivamente, ele deixa boa parte da interpretação para os leitores. Além disso, a estrutura não linear pode ser problemática para quem gosta de um enredo mais dinâmico. Mas é um prato cheio para quem gosta de experimentalismo, diversas teorias e técnicas literárias aplicadas. É caótico e por isso é bom, essa é minha conclusão. Peço desculpas pela extensão do texto, mas espero carinhosamente que apreciem-o.