Antes que algum dos leitores se sinta desconfiado quanto a mudança de escrita, gostaria de me apresentar. Meu nome é Elfa Mística (mas, por favor, não fique pensando em Yu-Gi-Oh!) e hoje escrevo como convidada do Gato de Ulthar em seu blog, o qual admiro muito e adoro ler.
Sou uma velha amiga de Gato e finalmente aceitei o convite dele para escrever em seu blog. Após várias sugestões dele sobre o que eu poderia escrever, optei por não escolher nenhuma de suas indicações e comecei a escrever sobre o que me dá mais vontade no momento: TAME IMPALA. Gato de Ulthar aprovou e, então, aqui estou!
Antes de mais nada, gostaria de avisar que não sou tão boa quanto Gato de Ulthar e caso os leitores não gostem da minha escrita ou acabem achando, com o tempo, que meus textos são muito chatos, por favor comentem, assim o Gato de Ulthar não terá mais nenhuma desculpa e largará do meu pé. Bom, e caso ocorra o contrário, por favor, também comentem, assim Gato de Ulthar terá muito mais motivos para continuar enchendo o meu saco.
Bom, brincadeiras sem graça a parte, vamos ao que interessa: o texto nada conclusivo, porém super indicativo sobre a banda de rock psicodélico do momento, conhecida como “Tame Impala”, criada por Kevin Parker, multi-instrumentalista com um talento incrível. Recentemente Tame Impala tocou no Festival Lollapalooza Brasil 2016, um dos motivos que a fez ficar mais conhecida no Brasil.
O leitor do “Dissidência Pop” deve estar pensado agora: “Não acredito que o Gato de Ulthar está começando a se vender… aceitar um texto sobre uma banda da modinha em seu blog já é demais… esse blog deixou de ser “dissidência pop” para ser “totalmente pop”!
Espere leitor, não se desespere. Tenho consciência, como ávida leitora deste blog que sempre fui, de que este canal é voltado para coisas mais obscuras. Porém, não podemos esquecer que existem talentos que hoje brilham, mas quem anteriormente estavam na escuridão.
Tame Impala é um desses talentos, pois se trata de uma banda Australiana criada em 2007 e que somente nos anos próximos a 2012-2013 começou realmente a fazer turnês mundiais mais significativas. Além disso, por mais que sua música seja considerada um pouco mais comercial do que nunca foi antigamente, não se pode atrelar esta alegada “comercialidade” necessariamente à música “comercial”, mas sim à falta de uma banda de rock psicodélica descente no mercado da música.
Sim, “o mercado da música”, assim como o “mercado/indústria dos animes e mangás”, é somente mais um bracinho da indústria do entretenimento, e, como tal, pode ou não se tornar comercial, mas isto não necessariamente faz decair sua qualidade.
Mas porque eu estou dizendo todas essas coisas? Simples: existem muitos sites/blog/páginas no facebook/comentários desnecessários, etc sobre o Novo (nem tanto) álbum do Tame Impala, chamado Currents, criticando o novo trabalho da banda (90% realizado por Kevin Parker), acusando esta obra prima de ser “comercial”.
Quem não conhece Tame Impala vai ficar um pouco perdido com essa minha afirmação de “mudança”. Deste modo, considerando que não sou a favor do bullying, vou explicar melhor a transição musical da banda.
Desde o primeiro EP, Tame Impala toca músicas de predominância instrumental estendida, ou seja, boa parte as músicas têm entre 5 e 7 minutos, com pelo menos de 3 a 4 minutos somente de instrumental, sem vocal para atrapalhar a vibe psicodélica que a tecnologia das distorções de guitarra e teclado podem proporcionar. Essa é a característica principal da banda, e se ela pode ser considerada psicodélica, é, por grandes razões, em consideração a isso.
Currents, o novo álbum lançado em 2015, também possui efeitos psicodélicos, mas com viés diferente das músicas até então compostas por Kevin Parker. Os mais de 4 minutos corridos de instrumental somente pode ser conferido em uma das 13 músicas do novo álbum, enquanto que nos demais praticamente todas as músicas possuíam instrumental alucinante estendido, por assim dizer. Acredito que esta tenha sido a principal mudança “sentida” pelos fãs (e criticada por muitos deles).
Porém, a meu ver, ocorreu significante mudança realmente no “humor” das músicas. Ao ouvir faixas como Elephant, Endors Toi, It Is Not Meant To Be ou Alter Ego, todas dos primeiros dois álbuns, o ouvinte se sente alegre, desvairado e agitado.
Contudo, colocando o terceiro álbum da banda para tocar, uma nuvem nostálgica de um tempo que não volta mais paira no ar. As músicas, com efeitos mais sutis e com significado mais expressivo, trazem consigo uma esfera intimista quase triste que as demais músicas da banda não conheciam. Prova disso são as faixas Past Life e Yes, I’m Changing, cujas letras são totalmente reflexivas quanto ao passado e otimistas quanto ao futuro próximo. Isto, para mim, é o mais incrível e genial do novo álbum, por isso me custa tanto entender o sentido real das críticas, visto que este último trabalho transborda sentimento e surrealismo.
Li uma vez num blog Australiano uma matéria sobre o Tame Impala chamada “Yes, I’m changing”, fazendo uma alusão dupla à música de mesmo título do álbum Currents, bem como à mudança que a música da banda vem passando com o lançamento desse novo álbum. O texto é genial e defende as modificações que as bandas passam ao longo da carreira, pois mudanças fazem parte do ser humano e do seu trabalho. Kevin Parker deixou isso bem claro na música ao afirmar: “they say people never change, but that’s bullshit, they do”.
Mas se tem algo que não mudou nesses quase 10 anos da banda, foram seus videoclipes muito psicodélicos e nonsense para pessoas que não usam drogas o suficiente para entender.
Tame Impala possui várias músicas, lançadas em três álbuns (Innerspeaker [2010]; Lonerism [2012]; e Currents [2015]) e alguns extended plays [EPs] como Tame Impala EP [2008] e Extraspeaker [2011]. Delas, somente algumas ganharam videoclipes oficiais, que são: Feels Like We Only Go Backwards; Elephant; Mind Mischief; Half Full Glass Of Wine; Solitude Is Bliss; Lucidity; Expectation; e atualmente ‘Cause I’m A Man; Let It Happen e The Less I Know The Better, além de um vídeo live da música Why Won’t You Make Up Your Mind?, com mais de 2 milhões de acessos no YouTube, que daria um ótimo clipe oficial.
Os videoclipes das músicas Feels Like We Only Go Backwards, Half Full Glass Of Wine e Elephant são bem parecidos, primeiro porque, como todos os outros, são bem psicodélicos, para combinar com o estilo da música; e segundo porque ambos possuem uma terrível (para uns) e maravilhosa (para outros) insistência de evidência da profundidade, exagero em cores e utilização maximalista [ou minimalista – depende da sua concepção filosófica] dos objetos. Não entendeu nada do que eu disse? Então veja o clipe e leia de novo para ver se entende melhor. Caso não melhore, de duas uma, ou eu não sei descrever esses vídeos ou os vídeos simplesmente não possuem descrição.
Lucidity, Expectation e ‘Cause I’m A Man, por sua vez, também são parecidos entre si, mas não pelos mesmos motivos dos videoclipes acima elencados. Estes não passam de um tique nervoso daquele que maneja a câmera. Psicodélicos? Sim, até certo ponto, principalmente Expectation, já que ‘Cause I’m A Man utiliza mais a graça e a criatividade do que o efeito psicodélico em si. Digamos que as músicas dos clipes os ajudam muito.
Os clipes de “super” produção (em comparação aos demais), são das músicas Let It Happen; The Less I Know The Better; Mind Mischief; e Solitude Is Bliss. Começarei por Let It Happen e Solitude Is Bliss por serem, no mínimo, menos polêmicos.
Let It Happen nos conta a breve história de colapso nervoso de um homem que, aparentemente, está embarcando num voo a trabalho (sim, tirei essa conclusão pelo terno e gravata). Tal colapso também está presente no videoclipe da música Solitude Is Bliss. Tais demonstrações de exagero, histeria, loucura, explosão de raiva, ou seja lá como você quer denominar, são muito presentes nas letras das músicas da banda, as quais levam o ouvinte a uma reflexão sobre a vida, ou melhor, somente como a vida pode ser vazia se você não tomar cuidado.
Claro, não são todas as vidas que são vazias, assim como não são todas as músicas do Tame Impala com esse viés, mas é interessante notar as mensagens que Kevin Parker quer compartilhar com o público por meio de sua música. Digo “Kevin Parker” ao invés de “Tame Impala”, pois é ele o compositor e produtor de todas as músicas da banda, e de outras como Melody’s Echo Chamber, Pond, The Dee Dee Dums e Mink Mussel Creek, além de outros projetos de menor participação direta como Space Lime Peacock, Canyons e Koi Child.
Voltando aos videoclipes, para finalizar os oficiais com chave de ouro, deixei para o final os comentários sobre Mind Mischief e The Less I Know The Better. Sem dúvida alguma o meu clipe favorito é Mind Mischief, pelo menos por enquanto, considerando que meu cérebro ainda possui dificuldades de processar o que eu vi em The Less I Know The Better (apesar das “mensagens subliminares” deste último serem incríveis).
Mind Mischief conta a breve história de amor e sexo entre uma professora bunduda e seu aluno. Até ali parece um clipe normal, mas é claro que a vibe psicodélica da banda não poderia deixar por isso mesmo. Então, ao invés de perder tempo criando historinhas de amor vividas entre tapas e beijos como outros videoclipes costumam fazer, Tame Impala resolve deixar claro quais são os sentimentos da professora e seu aluno durante aquele momento sexual que os mesmos vivem um com o outro, mediante uma linda explosão de arte alucinante e cheia de significado para os olhos atentos. Digamos que aquele fusquinha vermelho viu coisa!