Para hoje pretendo apresentar para vocês um mangá, que não é bem um mangá somente, é uma obra a qual mistura a arte visual com música, qual seja, Prologue: Gymnopédies.
ntes de adentrar na obra em si, previamente devo tecer algumas ponderações acerca do projeto Mieru Record + Otowa, que é algo muito criativo e interessante. Resumidamente, trata de um projeto que transforma tirinhas de mangá em música, explicando melhor, as tirinhas de mangá, as quais contam uma estória claro, são perfuradas e utilizadas em uma caixinha de música, onde a caixinha de música lê os furos e traduz como notação musical, produzindo, consequentemente, música, sendo o mesmo modo de funcionamento de qualquer caixinha de música. Vocês podem ter uma ideia do projeto no vídeo abaixo:
Mas não somente o material impresso é digno de nota, a música que serve de pano de fundo para o projeto é igualmente importante e relevante para uma apreciação completa da obra, infelizmente eu não tenho posse do material físico em mãos, contudo, a obra musical é relativamente conhecida e facilmente achável, eu pelo menos já havia escutado em oportunidades distintas e gosto muito, portanto eu li as obras ao som da peça musical, a qual, justamente é o nome do projeto, Gymnopédies. Segue as composições:
Gymnopédies, ou melhor dizendo, as Gymnopédies, são três composições para piano escritas pelo compositor francês Erik Satie a partir de 1888 em Paris, suaves, curtas e atmosféricas, sendo chamadas de as precursoras da música ambiental. Erik Satie foi um compositor de vanguarda, sendo o precursor de movimento como o minimalismo devido a sua obra marcada pela simplicidade de formas e ausência de arranjos elaborados. Satie acreditava que seu estilo de música destinava-se a complementar o ambiente, sem se impor, sendo considerada uma “mobília”. Satie Exerceu grande influência sobre outros compositores franceses da época, como Debussy e Ravel. Satie foi ainda o criador do ragtime, que pode ser chamado de um “pré-jazz”.
As Gymnopédies, como sendo precursoras da música ambiente moderna, são deliberadamente calmas, contudo sem deixarem de serem excêntricas, um detalhe é que quando compostas elas desafiaram a tradição clássica, pois as melodias criadas por Satie usaram dissonâncias amenas em contrariedade com as regras de harmonia estabelecidas até então, criando um efeito melancólico, o que é acentuada pelo modo de executar as peças, que deve ser lento e até mesmo de maneira triste.
Gymnopédies, até hoje não se sabe ao certo a origem deste nome, contudo, ao longo do tempo foram tecidas diversas teorias acerca da origem desta nomenclatura, a qual não foi criada por Satie, mas pelo poeta Contamine de Latour, em sua poesia “Les Antiques” (“O Antigo):
Oblique et coupant l’ombre un torrent éclatantRuisselait en flots d’or sur la dalle polieOù les atomes d’ambre au feu se miroitantMêlaient leur sarabande à la gymnopédie
Dentre as várias teorias as mais conhecidas são de que o termo se trata de uma dança, visto que há outra dança mencionada no poema, a sarabanda. Ou, Gymnopédie seria um festival em honra de Apolo, onde por consequência de dançaria tal dança, a qual ninguém sabe como é. Ou poderia significa nudez, visto que no grego antigo “gymnastique”, que significa ginástica, além da conotação moderna referente à exercícios físicos, na Grécia antiga também significava nudez, pois os jovens da época treinavam suas habilidades físicas geralmente nus. Outra teoria seria de que Gymnopédies não possuísse um significado conhecido, mas Satie e o poeta Contamine teriam utilizado este termo por ter uma certa conotação “mística”.
São pequenas histórias completamente sem ligações uma com a outra, a não ser pelo ritmo que é imposto nelas pelo tema musical proposto. Destacando alguns pontos, é possível afirmar que ler e ouvir a música proposta pela iniciativa é uma experiência interessante. Por exemplo, quando um jovem encontra uma arma que um mafioso deixa cair e reflete acerca de usá-la ou não contra seu desafeto, ou numa viagem onírica de uma criança e seu amigo (um rato antropomórfico) em busca do gato perdido, ou mesmo no dilema de uma mulher que sofre de insônia e encontra reconforto diante da generosidade infantil de sua sobrinha em “For a Quiet Night’s Sleep”, que por sinal teve o traço de que mais gostei.
Até mesmo a natureza do Deja Vu é estudada em uma das estórias. Ou, adentrando profundamente no simbolismo, uma viagem no mundo de sonhos de uma mulher imersa em um mundo aquático em “Gentle Water”, onde as nuances musicais simples da composição casam com o simbolismo de bolhas de água.
Embora eu não possua acesso ao original (quem sabe um dia), esta iniciativa deve ser merecedora de nossos louvores, diante de sua criatividade e ousadia. Portanto, fica a dica, caso alguém queira perder poucos minutos de seu tempo lendo tais histórias, e, recomendo sinceramente, ouça as peças musicais indicadas na postagem, de fato, aposto, que com o apelo musical vossas mentes trabalharão no sentido de buscar uma harmonia visual entre o aspecto gráfico e o musical. Até uma próxima e breve (assim espero) ocasião.