Mouse Guard – Ratos do mundo uni-vos!


O quanto ratos podem ser épicos.

Todos sabem que este espaço é dedicado principalmente para mangás e animes, mas hoje abrirei uma exceção, uma HQ ocidental que me cativou pela estória inusitada e cativante, Mouse Guard, literalmente Guarda dos Ratos, uma aventura épica pela perspectiva de nobres roedores que não deixa a desejar aos clássicos da aventura fantástica.

Primeiro vamos começar com a apresentação, Mouse Guard ainda é serializado pela editora Archaia Studio Press desde 2006, escrito e desenhado por David Petersen. Em Mouse Guard nos é apresentado um mundo de inspiração medieval pelo ponto de vista de ratos, ratos com tamanho de ratos normais, nada de humanização ok? Tais ratos que vivem em cidades escondidas entre pedras, troncos, no subsolo, bem, é como se fosse uma Terra Média versão miniatura.


Neste contexto épico, nos é apresentado a guarda dos ratos, com clara inspiração em ordens militares medievais, inclusive com a aplicação de conceitos de honra, lealdade e as demais virtudes cavaleirescas, sem contar a perícia com armas. Essa guarda é facilmente reconhecida por portar capas características, cada qual com uma cor distinta, e são responsáveis por garantir a segurança dos ratos da região habitada por eles, por exemplo, oferecem escolta para comerciantes, viajantes e demais que desejam ou necessitam viajar para outras localidades, além de servirem como investigadores e polícia secreta do reino dos ratos, bem como tropa de elite em caso de guerras e conflitos internos. 

Mas porque toda essa preocupação com segurança, haja vista que não estão em guerra e aparentemente todos os ratos são pacíficos uns com os outros? Simples, a maioria dos animais maiores comem ratos! Nem só os que comem ratos matam ratos, então eles definitivamente vivem num mundo muito perigoso, isso não é nenhuma novidade, bem, é possível e sensato até traçar um paralelo com Shingeki no Kyoujin, onde ambas as histórias a população vive em cidades protegidas e são constantemente ameaças por seres maiores.

A guarda dos ratos é treinada para deter tais ameaças gigantes que botam em risco a vida dos viajantes, como cobras, corujas, falcões e uma infinidade de aves de rapina, mustelídeos como doninhas e furões, e uma outra infinidade de animais que adoram se alimentar com estes roedores.

Em Mouse Guard tais ameaças não possuem civilização, agem como feras que estão acostumadas a serem, com exceção dos ratos, apenas as doninhas possuíam uma sociedade civilizada, tanto é que um fato bem recorrente contado desde o início da trama é a grande guerra do inverno de 1149. Esta guerra ocorreu três anos antes dos eventos da HQ, onde os ratos derrotaram o exército das doninhas e estabeleceram uma “paz” dos ratos e estão tranquilos quanto alguma possível invasão externa, mas nunca realmente em paz, devido a horda de predadores existentes.

Mouse Guard é dividido em várias estórias, algumas compiladas em volumes e outras lançadas separadamente, as que eu tive oportunidade de ler foram os dois primeiros volumes, Fall 1152 “outono de 1152” e Winter 1152 “inverno de 1152”, atualmente o autor segundo o site oficial está a trabalhar em uma obra que narre a guerra contra as doninhas.

Enfim, em Fall 1152 nos é mostrado que a união pacífica entre os ratos não é tão sólida como se pensa, tratando de certas traições e tentativas de golpe de estado contra o governo central, ahh, é bom esclarecer que embora não haja um governo central como ocorria nas cidades-estado da Grécia clássica, há uma cidade mais influente funcionando como “capital”. E nesta cidade que é a sede da Guarda dos Ratos, e que tal sistema de governo não era tão bem vindo para todos, alguns rebeldes cogitaram que talvez seria mais prudente um governo unificado. Tudo começa quando os guardiões Saxon, Lieam e Kenzie investigam o desaparecimento de um agricultor enquanto transportava seus grãos para outra cidade sem escolta, o que mostra a primeira vista uma simples tragédia, revela uma trama de traição, onde tal agricultor transportava informações importantes  da capital dos ratos.

Já em Winter 1152, ao atravessar a crise da revolta, o foco é mais relacionado à aventuras do que tramas políticas propriamente ditas, embora estas não sejam inexistentes, melhor dizendo, o que foi feito continua a gerar efeitos.

Não se pode esquecer dos personagens, os quais são bastante carismáticos e de personalidades bem interessantes, dos quais se destacam:

Lieam, um dos mais jovens membros da guarda e talvez o mais talentoso, derrotou inimigos poderosos sozinho como uma serpente e uma coruja, além de sempre estar lutando por reconhecimento e ser tornar uma espécie de discípulo do antigo herói dos ratos Black Axe, sua arma é uma espada

Saxon e Kenzie, para estes dois deve ser falado de uma única vez, dois dos mais respeitáveis guardiões e amigos inseparáveis, enquanto Saxon é corajoso até demais, beirando a insanidade e não medindo as consequências de seus atos, tendo como arma característica a espada, Kenzie é meticuloso e calculista, o que pode o deixar indeciso na hora de agir no momento certo, utiliza de um bastão, portanto ambos completam um ao outro em suas fraquezas.

Sadie, guardiã fêmea, sofre certo preconceito, mas mostra seu valor como uma dais mais valente integrantes da guarda, possui um par de adagas.

Black Axe, mistura de lenda com história, um antigo herói dos ratos, o qual todos pensavam que era apenas um mito, seu machado lendário é o que impulsiona a revolução, quando este é roubado.

Quanto aos aspectos técnicos, Mouse Guard é uma obra-prima, as ilustrações são belíssimas e a paleta de cores é bem eficiente, os ratos são muito expressivos, não soa nem um pouco infantil. As paisagens também são muito bem desenvolvidas, retratando de maneira eficiente o gigante mundo aos olhos dos ratos.

A estória é de fato muito interessante, a premissa inusitada dos ratos só a torna mais divertida, deixa a sensação de quando me deparo com qualquer outra aventura épica, os elementos são os mesmos, intrigas palacianas, mitos, batalhas, duelos, jornadas a lugares remotos e perigosos, etc. 

Vibrei quando descobri que existe um RPG de mesa de Mouse Guard, lembrei dos velhos tempos de Dungeons & Dragons, adoraria dispensar horas e horas encarnando a vida de um destes nobres roedores.

O fato de terem que lutarem com inimigos tão poderosos mostra que os ratos são mais do que aparentam ser e de fato, o mundo inteiro conspira contra eles, desde predadores até os humanos, um biólogo pode responder melhor que eu, mas acho que esta é uma das razões da reprodução acelerada destes roedores que lutam por sua sobrevivência a cada dia de suas breves existências. Finalizando, fica a dica de leitura de hoje.


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