Imaginem a seguinte situação, um garoto que não possui pelos corporais e é tratado como menina, e que por um acidente acaba tendo que ajudar a depilar uma garota que possui uma abundância de pelos, e desta estranha situação nascem curiosos sentimentos. Isso é Sweet Poolside, um mangá do renomado Shuuzou Oshimi, autor do famoso e controverso Aku no Hana e do mangá Happiness que está sendo publicado no Brasil pela editora New Pop.
Sweet Poosilde, composto por sete capítulos e um volume, é um mangá de comédia publicado de 09 de abril de 2011 até 09 de julho de 2011, sendo serializado na revista Bessatsu Shounen Magazine, uma publicação voltado à demografia shounen, mas que possui um viés levemente mais maduro, sendo a mesma revista na qual foi publicada a maioria das obras de Suuzou Oshimi, como Aku no Hana e Happines. Nesta revista também foram publicados, ou estão sendo, obras como Shingeki no Kyojin, Koe no Katachi, Sankarea e Arslan Senki.
O encontro nada usual de Ota e Gotou. |
Que tal uma sinopse mais detalhada de Sweet Poolside? Então vamos lá. Toshishiko Ota é um estudante do primeiro ano que se viu forçado a entrar no clube de natação por ter um aspecto muito infantilizado e até mesmo feminino. Seu pai pensou que isso o faria ser mais “másculo”. Ocorre que o moleque sofre muito bullying por ser “pelado”, até mesmo tiram sua roupa na aula de natação para lhe fazer chacota. De outro lado temos Ayako Gotou, uma promissora nadadora também do primeiro ano, ela é mais alta e desenvolvida que Ota, inclusive no que tange seus pelos corporais.
Um acidente acontece e Ota pega Gotou no flagra tentando se depilar no vestiário do clube, e a partir deste momento uma estranha relação de inicia. Gotou é extremamente inábil com um gilete, por mais inverossímil que isso possa parecer, bem como possui muito medo de cera quente, por isso seus braços e pernas sempre estão machucados. Ela acaba admirando a pele lisa de Ota e daí surge um estranho pedido, de que ele a depilasse. Ota se mostra arredio em virtude da estranheza da proposta, mas acaba cedendo, e desta estranha relação dos dois, surge uma ligação única entre o menino que a depila e a menina que é depilada.
Tudo é uma questão de confiança e parceria, Gotou só confia em Ota para resolver o seu problema. O interessante é que os sentimentos de ambos ficam bastante confusos, já que aparentemente não possuem experiências sexuais prévias, e o ato de depilar, que é algo bastante íntimo, possui um viés erótico para ambos. É simplesmente hilário ver a maneira como Ota reage com os pedidos cada vez mais ousados de depilação, começando pelos braços, indo pelas pernas, depois as axilas, e bem, vocês devem imaginar o que o pobre do Ota pensou que teria que depilar posteriormente né? Ainda mais pelo que ele já havia visto enquanto a Gotou nadava, seus pelos pubianos escapando do maiô, o que fez o moleque entrar em frisson.
O mangá foi feliz em sintetizar a descoberta da sexualidade utilizando a questão dos pelos corporais, os quais são uma marca da transição da infância para a adolescência. Também está presente a quebra, ou inversão, dos valores sociais comuns, já que a menina seria peluda e o menino pelado, e é isso que faz a trama ser interessante, já que não há nada demais em uma menina com a pele lisa e um menino com pelos corporais nos braços e no peito.
Um dos pontos interessantes em Sweet Poolside é justamente a maneira que o autor utilizou um tema incomum para descrever algo totalmente cotidiano na vida dos adolescentes, a descoberta da sexualidade e todos os furores hormonais daí advindos. Os pelos foram os instrumentos escolhidos para criar essa metáfora, pois além de serem localizados em zonas erógenas e serem símbolos da maturidade sexual nos corpos, os pelos fora dos padrões sociais são um verdadeiro tabu, já que não é fácil ser um garoto sem nenhum vestígio de barba e outro pelo corporal, como também é complicado ser uma menina com abundância de pelos.
Está certo que em Sweet Poolside a protagonista Gotou nem é tão peluda assim para os padrões ocidentais, tirando o hábito de depilar as axilas, pelos nos braços e nas pernas são bem frequentes em adolescentes de ambos os sexos, mas claro que é um problema sério para muitas garotas que se incomodam com os próprios pelos. Mas devemos lembrar que estamos falando do Japão, onde os padrões de comportamento são muito mais severos, inclusive no que tange a aparência, isso sem falar que os asiáticos tem naturalmente menos pelos no corpo, em virtude do seu padrão genético, tirando as etnias mais indígenas, como no caso dos Ainus, que são naturalmente mais cabeludos.
A descoberta da sexualidade na adolescência é um tema recorrente na obra de Shuuzou Oshimi, tanto em seus trabalhos mais sérios, como Aku no Hana, como nos mais despretensiosos, como é o caso de Sweet Poolside. Oshimi é famoso por suas premissas estranhas, e Sweet Poolside está longe de ser a mais esquisita, pois posso citar facilmente Avant-garde Yumeko como bom exemplo de sua bizarrice, um enredo sobre uma menina fascinada pelo órgão sexual masculino que começa a pintar nus artísticos para satisfazer o seu fascínio.
Falando um pouco mais sobre o estilo de Oshimi, Sweet Poolside é uma comédia, mas que gira nos mesmos elementos que caracterizam o autor, como um protagonista adolescente esquisito e uma menina que ele acaba se apaixonando, formando casais pouco funcionais ou problemáticos. Seus enredos sempre narram a evolução destes relacionamentos, e com Sweet Poolside não é diferente, fazendo uma obra estruturamente muito parecida com seus outros sucessos, só que mais extrovertida. Utilizar temas incomuns, pouco confortáveis e perturbadores também é sua marca registrada.
Ou seja, Oshimi possui sua própria estrutura narrativa que utiliza na maioria dos seus mangás, e isso é bom ou ruim? Não me cabe julgar isso, mas falando positivamente, pode ser uma maneira interessante de vermos como autor consegue reinventar o mesmo tema de formas criativas repetidas vezes, já que nunca é demais uma boa obra coming-of-age, onde vemos o desenvolvimento do personagem principal da infância para a vida adulta.
Ele também não nega a natureza muitas vezes pervertida do ser humano, o que pode ser visto claramente no seu maior sucesso, Aku no Hana. O próprio autor deixa subentendido que é difícil compreender o que é a adolescência, mas que para cada um isso é uma busca pessoal, que muitas vezes gira em torno de perversões e bizarrices. Oshimi dá uma nova e divertida cara para estes temores em Sweet Poolside, inclusive nos fazendo entender que a melhor maneira de lidar com tudo isso é aceitar quem você é.
Sweet Poolside não é um dos mangás mais bem avaliados de Oshimi, tanto pela sua temática esquisita como pelo viés de comédia do mesmo. Mas sua simplicidade é sua maior qualidade, pois não é necessário um enredo complexo para se passar uma mensagem eficiente, muito menos um enredo que seja sempre sério, a comédia é um ótimo transmissor de mensagens.
Mesmo sendo um mangá polêmico, assim como Aku no Hana, ele ganhou uma adaptação, mas fiquem felizes, não foi um anime em rotoscópia com um design horrível como no caso de Aku no Hana, mas sim um filme live-action. O mangá é de 2011 e o filme foi lançado em 2014, e tirando algumas mudanças, parece bem fiel ao mangá, mas não posso afirmar com certeza, já que ainda não vi a película, mas fica a dica.
Cena do live-action de Sweet Poolside |
Sobre a arte do mangá, claramente Oshimi não estava na sua melhor fase. Além disso, é uma obra de comédia, o que para muitos não exige grande qualidade técnica nos detalhes. Sweet Poolside não é um bom meio para enxergar com precisão o quão boa é a arte de Oshimi atualmente. Para isso, indico ver seu belo trabalho que ainda está em publicação, Happiness. Mas Sweet Poolside não é ruim graficamente falando, embora esteja aquém em comparação com seus mangás mais modernos, e gostei bastante da caracterização da Gotou.
Além de tudo Sweet Poolside é um mangá bem rápido de se ler, são 7 capítulos que passam voando, e você fica realmente interessado em ler o próximo, é uma narrativa dinâmica e que vai direto ao ponto, é a simplicidade utilizada da melhor maneira possível. Só fiquei meio cabisbaixo em virtude do final, não que ele tenha sido ruim, foi uma escolha do autor deixar algumas coisas em aberto, visando conferir uma atmosfera de continuidade da adolescência. No fim das contas, Sweet Poolside é no mínimo um mangá muito divertido de se ler, mostrando que mesmo premissas esquisitas podem conter mensagens poderosas. Então é isso, espero que tenham apreciado o texto. Até a próxima.