How to Colonize Space. Sobre aqueles que têm que levar nos ombros o fardo do progresso da humanidade.

“Uchuu Wo Kaitaku Suru Houhou”, ou, “How to Colonize Space”, traduzido como Como Colonizar o Espaço é uma pequena One-Shot de autoria de Hitoshi Tomizawa, mais conhecido pelo mangá Alien Nine, o qual ganhou uma adaptação em OVAs.

Em “Como Colonizar o Espaço” Tomizawa apresenta ao leitor mais uma de suas criativas histórias de ficção-científica com os elementos que o caracterizam como intrincados dilemas morais e existenciais com a dicotomia entre a violência extrema e seu traço infantilizado.

“How to Colonize Space” foi publicado em 17 de julho de 2.004 na revista Champion RED direcionada ao nicho demográfico “seinen”, revista na qual foi publicado, por exemplo, o mangá Franken Fran. Trata-se de uma curta one-shot de 25 páginas. Hitoshi Tomizawa é conhecido pelas suas histórias nas quais os personagens são inseridos em complexas situação de vida e morte e terrores psicológicos, em complexos mundos ficcionais, mas como, em 25 páginas se saiu o autor? Será que como número escasso de espaço disponível para construir a obra conseguiu criar um enredo convincente mantendo as características que marcam o seu trabalho?

Mas devo ressaltar, como já dito em outra ocasião, one-shots curtas possuem os seu méritos, visto já ter sido mostrado verídico o fato de que se pode criar histórias maravilhosas em um número reduzido de páginas, o que dispensa o acréscimo de muita informação e aguça a curiosidade do leitor dentro da premissa tratada. Bem como impede que o autor se perca no enredo, tornando a pequena história interessante e fechada, impedindo momentos tediosos e de qualidade discutível. Claro que isto depende da qualidade da história e do autor, podendo surgir daí coisas maravilhosas como repugnantes e enfadonhas. O mesmo ocorre com livros, há pequenos contos maravilhosos como grandes sagas maravilhosas de uma infinidade de livros.



Antes de tratar especificamente da obra objeto da postagem devo mencionar que haverá a presença de spoilers, visto ser uma obra de apenas 25 páginas, sendo difícil dizer muito sobre ela sem liberar fatos relevantes do enredo. Então, estando todos avisados iremos prosseguir.

Voltando à obra em si, Como Colonizar o Espaço já começa de maneira chocante, na primeira página já somos expostos a uma criatura alienígena insectóide sugando os fluídos corporais de uma vítima indefesa. Na ação a criatura não dispensa o recurso vilanesco de dialogar com as presas, alardeando a ingenuidade humana de querer explorar e conquistar o espaço, mexendo com forças além de sua compreensão. Tal tipo de criatura lembra os vilões de Milk Closet, outro mangá do autor, onde uma raça de insetos intelectualmente desenvolvido colocou em risco todo o universo.

A partir daí e das páginas seguintes já é possível traçar o contexto geral da obra. Uma ameaça alienígena monstruosa põe em risco a vida dos passageiros de uma grande nave espacial, cometendo uma série de assassinatos. Bem, é uma premissa básica de filmes de ficção científica desde os velhos tempos de Alien o Oitavo Passageiro. Entretanto, mesmo sendo um argumento já datado, devemos analisar sua aplicação na pequena história, que é o que importa, podendo ser muito melhor que uma premissa totalmente inovadora.

Logo após a cena chocante, somos brevemente apresentados aos protagonistas, Ei-Ichirou, um autor que quer passar por escrito o período de colonização espacial para as futuras gerações e a menina Miku, uma extrovertida garota, ambos se divertindo juntos. Até mesmo pensam que são pai e filha, entretanto, os Ei-Ichirou apenas estava cuidando dela em virtude de seus pais estarem brigando trancados no quarto. Contudo, ao chegarem na cabine dos pais, ambos já foram feitos vítimas da criatura assassina. Ei-Ichirou deixa a menina aos cuidados de um casa de idosos e parte pra a investigação. 

 

A partir deste ponto a história se desenvolve muito rapidamente, logo na sequência você descobre que a criatura assassina é a menina Miku e que aqueles não eram seus pais, tudo foi uma jogada sua. Miku faz mais algumas vítimas e então é brutalmente trespassada por uma espécie de lança que atravessa sua cabeça, deixando-a semi-morta no chão. Quem a atacou foi Ei-Ichirou, que na verdade também é uma dessas criaturas. Neste ponto se inicia o conflito moral do mangá, onde há a explicação da situação.

Enfim, descobre-se que estas criaturas não são alienígenas, mas apenas humanas que foram geneticamente modificados para formas que possam sobreviver nas duras condições do espaço. Neste processo perderam qualquer grau de humanidade, tornando-se criaturas hediondas, mas possuindo a habilidade de se camuflarem como humanos. Destaca-se que tal transformação, no período inicial das colonizações espaciais fora forçada e a causa de inúmeros sofrimentos. Baseado nestes sentimentos ruins, Mika se torna uma errante espacial, não possuindo mais piedade dos humanos que arruinaram sua vida, buscando neles, agora, a fonte de sua alimentação, como forma de vingança.

Ei-Ichirou se mostrou também uma espécie de combatente destas criaturas, visto, mesmo sendo transformado ter mantido sua sanidade e não sucumbido ao ódio pelos humanos. Neste ponto, faz sentido o título da história, visto ser tais modificações genéticas o fardo que a humanidade teria que carregar para que a humanidade (se é que possam ainda ser chamados de humanos) possa se perpetuar pelo espaço ao longo das eras. Essa temática de adaptações em seres humanos é bem bacana, gera um leque muito grande de possibilidades de roteiros. Lembro de um anime no qual esse conceito foi praticado “Suesei no Gargantia” de 2013, onde os humanos no espaço combatiam lulas espaciais que na verdade eram seres humanos evoluídos para viver no espaço.

Um ponto interessante discutido entre os personagens centrais, já nas suas formas de monstro ocorre devido ao questionamento de Miku sobre o motivo de darem estes corpos horripilantes nos primeiros estágios da colonização espacial. Ei-Ichirou afirma categoricamente que isso foi necessário para preservar a humanidade da extinção. Miku alega que isso foi um motivo clichê, e de fato, analisando, foi realmente, visto que não seria este um preço muito alto para se preservar a humanidade? Se é que virar monstros seria preservar a humanidade, está mais para acabar com ela de uma vez.


O mangá se mostrou eficiente ao mostrar para que veio, conseguiu exibir um enredo fechado dentro dos limites das poucas páginas, com uma temática muito interessante de mutações genéticas, exploração e colonizações espaciais. Claro que muitos pontos ficam em aberto, mas não se pode esperar mais de uma obra curta. A pequena história em relação a Mika é fechada dentro da one-shot, mas ao final o autor deixou a entender que o protagonista Ei-Ichirou continuou a caçar estas criaturas, inclusive o mangá acaba exatamente no momento que ele chega em uma estação infestada por monstros.

Com este final pode ser o autor venha a escrever mais sobre este universo, entretanto, para ser sincero, é mais provável sua intenção de salientar o caráter o protagonista como caçador de monstros sem ter que continuar com a história. Embora não seria nada mal que Tomizawa retornasse ao tema e explorasse mais esse mundo, mas quanto a concretização desta possibilidade somente o futuro dirá.

Eu particularmente achei o acabamento desta história inferior à outras obras suas, inclusive mais antigas, como Alien Nine e Milk Closet. Quanto ao traço, bem, é o característico do autor, rostos redondos, grandes orelhas, mas sabendo evidenciar a violência e os “monstros” em geral com uma realismo eficiente, repleto de detalhes, o que confere àquela boa dicotomia moe/gore que eu já havia enfatizado. O design da nave também ficou bacana, parece um arranha-céu deitado, o que dá a impressão de continuidade do mundo terrestre no espaço. Enfim, chegamos ao fim de mais uma review, espero que desfrutem, até uma próxima.

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